Fernando Prass era chamado de “muralha vascaína” pela torcida. Chegou a São Januário em 2009 para disputar a Série B, para onde o time tem 96% de chances de voltar. Saiu do clube para jogar a mesma divisão pelo Palmeiras em 2013. Nome decisivo na classificação do alviverde à final da Copa do Brasil, único título que ganhou defendendo o Vasco, ele enfrenta seu ex-time hoje, às 17h, na Arena com algumas sensações de dejà vu.
O goleiro vê a situação do Vasco como quase irreversível para ficar na Série A:
— Está feio, está difícil. Vai precisar de um bom milagre. Virou o turno com 13 pontos. Isso é absurdamente impensável para um time que quer se manter na primeira divisão. Está pagando pelo início da competição. Mas vamos enfrentar um time totalmente modificado e num momento muito melhor. Nos últimos 10 jogos, perdeu um só.
Comparando os dois clubes, o jogador de 37 anos vê uma estrutura bem melhor no Palmeiras, um dos motivos que pesou para a sua vinda para São Paulo. Com três campos à disposição do time no CT da Academia, fisioterapia e fisiologia no mesmo local, ele relembra das inúmeras vezes em que tinha que se deslocar até o Cefan, na Penha, ou CFZ, na Barra, para treinar:
— Tinha que deslocar toda a estrutura de fisioterapia e funcionários para depois voltar num trânsito horrível. Não tínhamos concentração para treinar em dois períodos em São Januário. Dificilmente podia fazer um treino fechado, pois sempre estava aberto para imprensa e torcida. Muitas vezes era preciso ir para Pinheiral ou Mangaratiba para ter uma privacidade maior. Em termos de estrutura física não tem comparação. A estrutura dos clubes paulistas está muito à frente dos times do Rio. O Palmeiras tem uma estrutura que eu sempre cobrava e brigava no Vasco para ter uma condição melhor para treinar.
Ele afirma que após a eliminação para o Corinthians nas quartas de final da Libertadores, em 2012, era consenso que a equipe campeã da Copa do Brasil e vice do Brasileiro de 2011 se desmancharia. Com a grave crise financeira e salários atrasados, o clube foi se desfazendo dos jogadores.
Prass temeu ficar sem mercado e aceitou a proposta do Palmeiras no fim de 2012. Segundo ele, houve problemas de planejamento e gestão com a saída de dirigentes por divergências com o ex-presidente Roberto Dinamite. Com a ida de Rodrigo Caetano para o Fluminense, já dava para ter noção que a briga seria para não cair.
— Essa espinha dorsal que o Vasco tinha fora de campo ruiu. A crise financeira, que esse pessoal conseguia contornar e apagar os incêndios, virou uma bola de neve. Do meio de 2012 para frente, a situação do clube chegou a um ponto insustentável. Já conversávamos prevendo que o 2013 seria muito difícil. Eu já estava há quatro anos no Vasco com a expectativa que as condições melhorassem. E a tendência de 2013 era que piorassem. Aconteceu isso: em 2013, caiu.
CLUBE AINDA DEVE
Pioraram tanto que até hoje o Vasco tem uma dívida com o goleiro. Prass não revela de quanto, mas admite que quase entrou na Justiça no início deste ano, pois a gestão de Dinamite tinha suspendido o pagamento das 20 parcelas negociadas.
— O pessoal do Eurico entrou em contato com meu advogado e fez outra proposta. Resolvi dar mais uma chance refiz em mais 20 vezes. Ainda me devem 12 parcelas.
Feliz em São Paulo com a mulher e o casal de gêmeos, que completou 8 anos no dia em que ele defendeu o pênalti de Gustavo Scarpa na semifinal da Copa do Brasil contra o Fluminense, ele ironiza as críticas de que nunca defendia pênaltis no Vasco?
— Como se não pegar pênalti fosse defeito. É uma das situações que o goleiro tem menos responsabilidade. De repente, porque não tinham outras coisas para falar de mim, falavam isso. Peguei cinco ou seis pelo Vasco. É que no Palmeiras foram duas decisões por pênaltis (a outra foi a semifinal do Paulista no Itaquerão contra o Corinthians). Marca muito mais.
Sem fugir de assuntos polêmicos, como a Liga Rio-Sul-Minas e os escândalos de corrupção na FIFA, o goleiro diz que o problema está enraizado na sociedade brasileira.
— Seria impossível pensar que o futebol fosse uma ilha de honestidade e seriedade num país que está corroído pela corrupção em todos os níveis.
Integrante do Bom Senso, considera que o modelo dos estaduais precisa ser modificado, mas apoia a ideia da Liga com ressalvas.
— O Paulista é o único estadual que é atrativo e rentável. A Liga Rio-Sul-Minas é válida como questionamento e um primeiro passo para ideias novas. Simplesmente criar só essa Liga e não mudar nada vai ser mais um estorvo no calendário — declarou.
Fonte: O Globo Online