Falta de estádios às vésperas dos Jogos Olímpicos; litígio político entre Flamengo, Fluminense e Federação de Futebol do Estado do Rio (Ferj); ameaça de times reservas e, num cenário extremo, até disputas judiciais. Um cenário desalentador ronda o próximo Campeonato Carioca. O ápice de um lento processo de degradação do produto faz se aproximar um torneio marcado por incertezas, fuga de patrocinadores e previsões de prejuízos muito além de 2016.
Alinhados quanto à cobrança de reformas no futebol do Rio, Flamengo e Fluminense ameaçam levar a campo times desfigurados. Nos bastidores, cogitam até recursos à Justiça Desportiva e Trabalhista contra a limitação de inscrição a 28 jogadores, assim como o número máximo de cinco atletas de até 20 anos. A decisão foi vista como uma manobra da federação para limitar o emprego de equipes alternativas.
Do lado oposto, Vasco, Botafogo, Federação e pequenos contra-atacaram com a ameaça de corte nas cotas de TV dos dois rivais. E há dirigentes que cogitam ações contra a dupla Fla-Flu por perdas financeiras. Argumentam a desvalorização do produto.
Os pequenos, por exemplo, dizem já sentir os efeitos na pele. Relatam dificuldade na busca por patrocinadores: ouvem dos investidores que, das quatro partidas antes garantidas contra grandes, apenas duas, contra Vasco e Botafogo, podem envolver titulares.
- Vou oferecer o que ao patrocinador? Preciso montar elenco, buscar reforços - lamenta Elias Duba, presidente do Madureira, que diz ter arrecadado R$ 400 mil no último Estadual com seu uniforme.
Em 2015, o campeonato já não teve patrocinador principal. E o torneio do ano que vem ainda não atraiu interessados.
- A postura de Flamengo e Fluminense enfraquece o produto. Há instabilidade, inclusive para o futuro - diz João Paulo Magalhães Lins, presidente do Boavista.
O Estadual de 2016 será o último sob o atual contrato de TV. Lins vê o futebol do Rio enfraquecido para negociar novo acordo. O Campeonato Paulista acaba de renovar seu contrato e pagará R$ 17 milhões por ano a cada grande, mais do que o triplo pago aos cariocas.
A questão dos estádios adiciona contornos à crise. Com o impedimento de usar Engenhão e Maracanã em boa parte do torneio, só São Januário, Macaé e Volta Redonda podem receber jogos noturnos. Diante das novas regras do Ministério do Esporte para concessão de laudos e, também, diante da usual dificuldade dos pequenos para manter campos em bom estado, a Ferj pediu especial atenção aos clubes.
Há dez dias, Flamengo e Fluminense foram à Secretária Estadual de Esportes tratar do projeto da arena provisória na Ilha do Governador - no estádio da Portuguesa, como acontecera em 2005, durante fechamento provisório do Maracanã. Ganharam a companhia do Botafogo, rival político mas aliado na crise dos estádios. O alvinegro pretendia usar o Caio Martins, em Niterói, mas tem dificuldade de levantar recursos para a reforma necessária.
A Ferj luta para criar atrativos para os clubes. O artigo 33 do regulamento abre até a possibilidade de semifinais e finais fora do Rio, tentando superar a falta de campos e criar a opção de negociar boas cotas em outras praças. Houve, ainda, um convite aos departamentos de marketing dos clubes para criar novas propriedades comerciais. Com a promessa de não reter qualquer percentual dos recursos gerados.
A Liga Rio-Sul-Minas é outra frente de conflito. A competição é vista por Flamengo e Fluminense como alternativa ao Estadual e instrumento para forçar reformas no torneio local. A última Assembleia Geral da CBF, na última terça-feira, impôs como condição para reconhecer o torneio a obediência aos estatutos vigentes, entre eles, o das Federações. Em tese, os membros da liga teriam que pedir autorização às entidades locais para jogar o novo torneio. Ainda não houve conversa no Rio.
A tese de fazer a Primeira Liga, como também é conhecida, de forma independente ainda prevalece na nova entidade. A CBF chegou a iniciar uma mediação entre Ferj , Flamengo e Fluminense. Em dado momento, as condições do tricolor para usar seu time principal no Estadual pareceram mais próximas de serem atendidas. Mas os últimos movimentos de CBF e Federação sobre a Liga frearam a aproximação.
Fonte: O Globo Online