Vascaíno e cego, Sandro Laina, presidente da Confederação Brasileira de Deficientes Visuais, sonha presidir o Vasco

Domingo, 01/11/2015 - 00:45
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A sociedade tem dificuldade para entender que deficiência é diferente de incapacidade e se tem uma coisa que incomoda qualquer cego é chamar de coitadinho. ''O que mais nos irrita é a falta de noção que as pessoas tem das nossas capacidades''. Amar um clube de futebol pode ser uma dessas aptidões ignoradas por uma maioria que não conhece. E presidir um clube, será que é possível? Sandro Laina, sócio do clube que ama desde 2009, ex jogador da Seleção Brasileira de Cegos, atualmente presidente da Confederação Brasileira de Deficientes visuais e funcionário do Ministério Público, tem este sonho de um dia quem sabe, ser o dirigente maior do clube que é apaixonado.

Mas ele tem os pés no chão, sabe da dificuldade que será, pois acredita que a sociedade não responderá bem a isso. O segredo segundo ele é começar ajudando de baixo para mostrar que tem potencial para exercer a função. Para chegar lá um dia, tem que estar com a vida acertada e não precisar do clube para nada: ''quando alguém se envolve na política de uma instituição deve servir ela e não se servir dela''.

Com 34 anos, Sandro tem um currículo invejável no atual cargo. Na CBDV ganhou todos os campeonatos disputados pelo futebol. Foram dois Mundiais, uma Paralimpíada, dois Parapan-Americanos, duas Copas Américas e fora todos os outros torneios pequenos que a equipe brasileira jogou. Já acostumado ao mundo da política, ele sabe o segredo para o Cruzmaltino voltar a crescer: ''diálogo entre os divergentes. O Vasco é um clube que as pessoas de ideias contrárias não conseguem trabalhar juntas. Isso tem que acabar, pois tem gente boa dos dois lados''.

Canal Vasco: Como começou esse amor pelo Cruzmaltino?

Sandro Laina: Eu era muito pequeno e tinha meu pai que era palmeirense e meus irmãos que eram flamenguista e fluminense. Mas me lembro que me apaixonei pelo Vasco, não sei o real motivo, só sei que me apaixonei. Acho que a camisa foi o fator inicial, pois na época ainda tinha uma parte da visão. Hoje em dia sou tão viciado no clube que a primeira coisa que faço quando acordo é acompanhar as notícias do Vasco pela internet.

CV: Quais seus maiores ídolos do Vasco?

SL: São momentos. Em uma fase foi o Edmundo, lá em 1997 quando jogou muito no Brasileiro. Depois veio o Romário e mais recentemente o Juninho Pernambucano.

CV: Partida Inesqueível?

SL: Sem dúvidas foi aquela virada histórica diante do Palmeiras em 2000. Me lembro muito bem do dia. Cheguei em casa de um compromisso, muito cansado e caindo de sono. Liguei o rádio para acompanhar e o primeiro tempo acabou 3 a 0. Fui deitar deixando o aparelho baixinho, o Vasco fez o primeiro gol, continuei deitado. Fez o segundo, levantei da cama empolgado. Em sdeguida o Júnior Baiano foi expulso, cheguei a desanimar um pouco. Porém depois veio toda aquela história que já conhecemos.

CV: E o Sonho de presidir o Vasco?

SL: Me sinto capaz para um dia ajudar o Vasco de alguma maneira. Quem sabe até como presidente, tenho esse sonho. Mas para um dia eu pleitear isso, preciso estar com minha vida acertada, pois quando alguém se envolve na política de uma instituição de futebol deve servir ela e não se servir dela. Sei que a resposta das pessoas não seria boa, por isso penso que o segredo é começar ajudando lá de baixo. Preciso mostrar que tenho potencial para exercer a função. Uma maneira que posso começar e que sempre desejei é formar uma torcida organizada de deficientes que estariam sempre acompanhando o Vasco, até nos jogos fora do Rio de Janeiro.

CV: Como avalia o cenário político do Vasco?

SL: A política no Vasco é muito complicada, pois os divergentes não conseguem trabalhar juntos. Existe dois grupos muito definidos: os euriquistas e os que são contra ele. Tem pessoas boas dos dois lados, mas o problema é que não se falam. Para o Vasco voltar a crescer tem que haver o diálogo entre os lados. Você pode discordar de uma pessoa no trabalho, mas isso não pode impossibilitar de tocarem uma situação que será em prol do bem comum. Um não consegue ver o lado bom do outro, os que são contra o Eurico não enxergam quando ele faz algo interessante para o clube, o mesmo era quando o Roberto fazia algo importante, o pessoal do Eurico não via.

CV: E o que falar da atual gestão?

SL: Eu acho que ela tem uma maneira meio antiga de gerir um clube, mas ao mesmo tempo acredito que o Eurico tem uma forma peculiar de defender o Vasco. Defende o clube que ama a qualquer custo e eu gosto disso.

CV: Os estádios brasileiros contam com essa acessibilidade para os cegos?

SL: muito pouco, quase nada. O próprio Maracanã com as reformas, a gente não consegue andar sozinho por lá ou se sente muito desconfortável. Aqui no Brasil, o cego não adianta torcer, tem que torcer para alguém acompanhar ele no estádio. O Vasco que tem o pioneirismo como marca, poderia ser o pioneiro em fazer de São januário um estádio acessível e além disso o primeiro clube a promover o esporte paralímpico. Mas eu até entendo, pois tem que ter dinheiro e essa não é a prioridade.

CV: Vamos espacar do rebaixamento?

SL: Eu acredito que sim. Tínhamos uma diferença de 13 pontos do primeiro fora do Z4 e agora estamos apenas a 4. Mais um pouco, a gente vai sair de lá. Temos que ganhar uns dois jogos para entrar no bolo e sair de vez.



Fonte: Canal Vasco