Silvio Godoi fala da crise vascaína e critica contratação de Celso Roth

Domingo, 25/10/2015 - 12:31
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O resumo do Vasco é o seguinte:

— O presidente Eurico Miranda detesta a oposição, e a oposição, por sua vez, odeia Eurico Miranda.

— A crise financeira é tão aguda que a consultoria Ernst & Young foi chamada para dar o tamanho certo da dívida, estimada pela direção atual em R$ 600 milhões.

— Os dirigentes do futebol convivem com a sombra de Eurico Brandão, o Euriquinho, assessor especial do presidente e também filho dele.

— A administração centralizada em Eurico Miranda patina em métodos conservadores de ação.

Diante de um panorama desses, ninguém se surpreende com a ameaça de mais um rebaixamento. Caso se confirme a queda, será a terceira em sete anos. Os empates cedidos para Chapecoense e São Paulo elevaram o tom dramático para a partida deste domingo, contra o Grêmio. Uma derrota encaminha o tombo. A tabela é desfavorável ao Vasco. Prevê na sequência o clássico com o Fluminense, o Palmeiras no Allianz Parque e o Corinthians em São Paulo, naquele que pode ser o jogo do título dos paulistas.

A torcida se solidariza, como convém a uma boa família na hora do apuro. São esperados 40 mil vascaínos no Maracanã neste domingo — contra a Chapecoense, foram 25,9 mil. Em campo, o time dá sinais de vida. Se valesse só o returno, seria o 11º colocado. O problema mesmo foi o turno, em que fez apenas 13 pontos em 57 possíveis — 22,8% de aproveitamento.

Todos em São Januário lamentam o erro estratégico cometido em abril. O título no Campeonato Carioca criou a ilusão de que haveria qualidade suficiente para arrancar no Brasileirão. A ideia era segurar as pontas até a abertura da janela de transferências e encorpar o time com dois ou três reforços. O plano naufragou em oito rodadas. Cinco derrotas e três empates derrubaram o técnico Doriva. Eurico buscou Celso Roth, a quem havia recorrido em 2007 e alcançado algum êxito. Só que, em um dos primeiros treinos, as câmeras captaram o áudio de suas orientações ao time. Numa delas, Roth inquiriu o atacante Rafael Silva:

— Sabe o que tem de fazer, né, Rafael? Sabe ou não sabe?

Nervoso, o atacante tropeçou:

— Sabo!

— Sabo? PQP! — reagiu Roth.

O diálogo virou meme na internet e notícia no Brasil inteiro. E também foi o primeiro mal-estar do grupo com o chefe.

— É bom treinador, mas não foi bem aqui. Ele nem deveria ter vindo, teve uma série de problemas no grupo. Sabe como é, ele é conhecido por ser rígido, de disciplina exagerada. Jogador não gosta e houve problema com um ou outro — revela o vice-presidente eleito Silvio Godoi.

Roth durou 11 jogos. Saiu com três vitórias, sendo duas delas nos clássicos com Flamengo e Fluminense. Mas também contabilizou sete derrotas. Os reforços chegaram quando ele estava de saída. Nenê, trazido do West Ham-ING, e Jorge Henrique estrearam justo no último jogo do técnico, contra o Coritiba. Além deles, a direção buscou o meia Andrezinho, ex-Inter, e o atacante Herrera, ex-Grêmio, além do volante chileno Seymour, o sétimo estrangeiro do grupo.

Os reforços fizeram Eurico romper o teto salarial de R$ 150 mil adotado em janeiro. Jorge Henrique e Nenê ganham acima. A folha salarial, revela Godoi, é de R$ 2,5 milhões — para comparar, o Inter gasta R$ 9 milhões por mês com seu grupo. Os salários eram pagos "razoavelmente" em dia, conforme o dirigente, até dois meses atrás. Culpa das pendências que batem à porta.

O lateral-direito Jonas, ex-Inter, jogou quatro meses no clube, saiu sem receber e pede, agora, R$ 5 milhões na Justiça. O volante Wendell, hoje no Sport, recebia R$ 250 mil mensais no Vasco. Despediu-se com luvas e prêmio por receber. Também cobra R$ 5 milhões na Justiça.

Essas dívidas e mais outras, com fornecedores, são heranças da gestão de Roberto Dinamite. Citar o nome do ídolo em São Januário é arrumar confusão — assim como na Era Dinamite era proibido falar em Eurico. O ambiente político do clube fervilha, embora a atual gestão comande o Conselho — a oposição tem só 30 cadeiras.

Mas mesmo dentro da atual direção há tensão. Nos primeiros meses de Eurico, as intromissões do seu filho no futebol provocaram um racha. Euriquinho ficou de um lado, e o vice de futebol, José Luis Moreira, e o gerente de futebol, Paulo Angioni, de outro. Eurico precisou contornar uma crise. O português José Luis, o Zé do Táxi, é amigo de longa data e um dos barões dos táxis do Rio — o que o torna estratégico em um clube de chapéu na mão.

A disputa pelo poder no departamento de futebol foi contornada. Eurico Filho se afastou. Nas últimas semanas, revigorado depois de passar por tratamento médico, Eurico Pai é quem marca presença no vestiário. Vai aos treinos, conversa com os jogadores e respalda a comissão técnica. O ambiente ficou mais leve pela série de oito jogos sem perder — a última derrota foi dia 5 de setembro, para o Atlético-MG.

O trabalho de Jorginho é elogiado em todos os cantos de São Januário. Talvez esteja abaixo em idolatria apenas de Nenê, meia de 34 anos que assumiu o posto de referência técnica. Jorginho desembarcou no clube tendo como auxiliar o ex-meia Zinho. Os dois são amigos de longa data e crias do rival Flamengo. O que, no momento de convulsão do Vasco, virou o menor dos detalhes.



Fonte: Zero Hora