O que é pior um terremoto, um bombardeio ou a zona de rebaixamento do Campeonato Brasileiro? Se tem uma pessoa capaz de responder essa questão é o atacante Leandrão, do Vasco. E é possível que a queda para segunda divisão seja o maior temor do jogador de 32 anos.
Leandrão viveu as três situações ao longo da carreira. As duas primeiras são encaradas com bom-humor pelo atacante, enquanto a terceira ele tenta mudar - estará em campo neste domingo, diante do Grêmio, às 17h, no Maracanã, pela 32ª rodada, a sete do encerramento do torneio.
O bombardeio que colocou a vida de Leandrão em risco ocorreu há dois anos. Ele jogava pelo Hapoel Tel Aviv e estava em um hotel na cidade quando o ataque aéreo teve início.
"Estava com um amigo no saguão, tomando café, quando reparamos que a recepcionista estava chorando. Meu amigo que disse que falava inglês e foi conversar com ela. Ele se virou para mim e disse: ‘acho que alguma pessoa da família dela deve ter morrido ou ela deve ter brigado com o namorado'. O hotel foi ficando vazio, e nós continuamos a tomar café sem preocupação. Até que uma hora o gerente chegou gritando para gente porque estávamos parados ali. Que deveríamos ir para o bunker no subsolo porque o Líbano estava atacando a cidade. Já tinham lançado umas quatro bombas. Ficamos escondidos por mais de meia hora presos. Virei para o meu amigo e falei assim: ‘você fala muito bem inglês hein?'", relembrou por telefone, aos risos, para o ESPN.com.br.
Apesar de se divertir com o episódio, o bombardeio foi um divisor de águas. Fez o atacante voltar para o Brasil, numa trajetória que foi completada com a atual passagem no Vasco.
Antes, atuou em clubes como Remo, Novo Hamburgo e Brasil-RS.
Em 2004, Leandrão também tirou lições de outro susto. Ele morava na cidade de Kobe, no Japão, que em 1995 teve um dos piores terremotos da história. O tremor devastou completamente a zona portuária e deixou mais de seis mil mortes. Após sentir o chão balançar, o atacante entrou em desespero.
"Logo quando chegamos em Kobe com o nosso empresário fomos em um shopping, daí três andares para baixo do subterrâneo e senti o piso tremer. Na hora bateu aquele desespero, porque foi uma cidade que teve um terremoto forte uns anos antes. A gente subiu os andares correndo até a porta desesperado, mais rápido do que elevador", relembrou, aos risos.
Reencontro
Hoje a batalha contra o rebaixamento não reserva ao atacante momentos de alegria, mas não significa que ele não se depare com boas histórias. Neste domingo, por exemplo, vai reencontrar um antigo amigo: Roger Machado, técnico do Grêmio.
O atacante do Vasco e o treinador do Grêmio já trabalharam juntos na Ásia e no Rio Grande do Sul. Em 2004, eles foram contratados para atuarem pelo Vissel Kobe, no Japão. Já no Sul do país eles se reencontraram pelo Novo Hamburgo, desta vez com Roger como treinador.
"Quando nos conhecemos eu era muito novo. Tinha 19 anos. Nos conhecíamos dos Grenais da vida. Roger um cara muito inteligente, gente boa e aprendi demais come ele. Naquela época já dava pra ver que ele seria treinador, ele queria fazer faculdade e estudar antes de começar a carreira. Ele gostava tanto de fazer análise tática que pensava nisso mesmo sendo jogador. O Roger chegou ao Japão e logo pediu uma prancheta. Sabia como cada jogador atuava, as características de todos os adversários . Era um líder dentro de campo, isso mostrava bem a personalidade dele. Eu brincava com as pranchetas táticas. Ele ficava analisando quais eram as formações dos outros times, sempre gostou", disse Leandrão.
Na 'terra do sol nascente', eles construíram a amizade que carregam até hoje. A dificuldade com o idioma, as novidades do país asiático e os interesses divergentes na carreira foram o combustível para a boa relação.
"Nós não sabíamos nada de japonês e não nos arriscamos nem a pegar carro porque era tudo diferente. Eu ainda tirava o maior sarro dele. Dizia: ‘Pô Roger, para com isso [estudar futebol], você ainda tem muito tempo como jogador ainda'"", conta Leandrão.
Hoje rivais dentro de campo por defenderem times diferentes, Roger Machado também guarda ótimas lembranças do amigo Leandrão.
"Eu joguei com o Leandrão e o convívio entre nós foi muito bom. Ele foi muito importante para o nosso time no Gauchão, como jogador é uma liderança positiva dentro do vestiário", disse Roger Machado, para o ESPN.com.br.
Fonte: ESPN.com.br