Em palestra a jovens da base, ex-promessas do Vasco falam sobre as dificuldades do futebol

Segunda-feira, 05/10/2015 - 14:39
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O trajeto que um atleta de futebol percorre para chegar ao profissionalismo é árduo. Muitos, ainda nas divisões de base, não aguentam a pressão e abandonam no meio do caminho. Outros, que idolatram a vida que um jogador leva, criam uma ilusão que, no futuro, não conseguem alcançar. Esses fatores foram primordiais para o Vasco promover, na última sexta-feira (2), uma palestra que buscou alertar às suas promessas que nem sempre é possível obter sucesso nessa jornada.

O evento contou com as participações do coordenador da base Álvaro Miranda, o treinador Nilson Gonçalves e os ex-jogadores João Carlos e Lanyan, que serviram de exemplos para a criançada. Rodney reconheceu a importância de promover uma palestra dessa para a criançada.

"O futebol é um sonho para muitos. Todo atleta acha que, por estar em um grande clube, ele vai obter e atingir grandes glórias e glamour que ídolos atingiram. Mas, na realidade, a gente sabe que não é assim. Esses meninos na base passam aqui e olham carros luxuosos, roupas de grife, ostentação, o que é normal pela remuneração que eles têm. Esses meninos têm uma evasão do que é a realidade do futebol. Posso te dizer que 80% dos atletas que passam pela base não atingem o apogeu, o glamour. Então é bom relatar o outro lado. Como educadores, é uma palestra muito positiva", disse.

Álvaro também falou sobre a iniciativa do clube. O coordenador explicou que tem como filosofia fazer com que as crianças busquem criar uma identidade com a instituição como fator primordial no início da carreira.

"A gente tem feito algumas palestras. É de suma importância pro futuro dos meninos. A verdade é que o futebol hoje está muito complicado. Os meninos estão se desvirtuando. É preciso fazer uma análise do futebol. Eu busco que os meninos amem o clube, busquem uma identidade. Eu fui procurado por meus diversos ex-atletas. A grande maioria sem rumo, sem caminho, sem horizonte, tendo que trabalhar em loja, em obra. Nós tivemos essa iniciativa de trazer alguns meninos que tiveram história dentro do clube, mas agora vivem outra vida. Mas com dignidade, estudando", afirmou.

Lanyan foi jogador da base do Vasco por sete anos. Chegou com 12 anos em 2003 e saiu em 2010 com 19. Hoje, Lanyan, que chegou ao ápice de alcançar a seleção brasileira juvenil, não joga mais futebol profissionalmente. Ele culpa a má gestão do clube à época pelo abandono, que prejudicou toda sua geração. A opção de parar e começar do zero em outra profissão partiu do próprio (ex)lateral do Cruz-Maltino.

"Depois que saí do clube comecei a encontrar dificuldades no mercado. Parar foi uma opção minha. Meu último clube foi o Duque de Caxias. Jogávamos a Série B e vi que minha cabeça não estava boa para seguir. Daí, busquei uma nova solução pra minha vida. Foi um sofrimento. Lidar com essa frustração foi difícil. Mas contei com o apoio da minha família. Por causa disso pude seguir adiante. Mas é difícil. Até hoje penso nisso", disse Lanyan, que deixou um recado para as crianças no evento.

"Primeiro, os mais jovens têm que aproveitar a grandeza do clube. Eles têm que agarrar as oportunidades. Pensar na carreira, na família, evitar se expôr, evitar o estresse. Ter foco e objetivo".

Outro ex-promessa a falar na palestra foi João Carlos, que atuou com Alex Teixeira e Philippe Coutinho na base. João, que teve duas experiências no futebol europeu, deixou um conselho aos jovens que sonham em jogar no futebol europeu antes mesmo de se firmarem no brasileiro.

"Pesquisar bem antes de ir. Não é isso tudo que as pessoas falam. Ir pro Real Madrid, pro Barcelona, é uma coisa. Eu fui pra Holanda e, por questões contratuais, não pude continuar lá. Já na Romênia, as dificuldades foram enormes. Fiquei lá sozinho, fiz coisas que, se tivesse ao lado da minha família, certamente não faria", falou João, que diz não se arrepender de nada do que fez.

"Fiz meu melhor. Mas, infelizmente, as coisas não aconteceram do jeito que queria", encerrou.

Fonte: Super Rádio Tupi


Vasco promove palestra com antigas promessas da base para o sub-20

Chegar ao profissional e ter uma carreira de sucesso é o sonho de todos que lutam por um lugar ao sol nas categorias de base dos clubes brasileiros. Um bom desempenho nas divisões inferiores, porém, não garante a ninguém lugar cativo no time cima. Muitos são os exemplos de garotos que receberam o rótulo de "grande promessa" e não conseguiram corresponder às expectativas. Em diversos casos, a queda de rendimento ocorre antes mesmo da promoção para a equipe principal.

Visando conscientizar seus jovens jogadores e mostrar para os mesmos que o futebol não é apenas feito de glamour, o Vasco da Gama iniciou na última semana uma série de palestras com ex-atletas que, por motivos diversos, não conseguiram dar prosseguimento a carreira. O objetivo não é apenas o de alertar os atuais defensores da cruz de malta das dificuldades que podem surgir, mas de mostrá-los que existe vida fora do esporte, em especial para os que não abandonam os estudos.

Idealizado por Álvaro Miranda, coordenador geral do futebol amador, o projeto recebeu em sua primeira edição Fabrício (goleiro da base entre os anos de 2002 e 2012), Felipe Santos (zagueiro da base entre os anos de 2000 e 2009), Laniyan (lateral-direito da base entre os anos de 2003 e 2010) e João Marcos (meio-campista da base entre os anos de 1996 e 2010). Os ex-jogadores cruzmaltinos, que se dedicam aos estudos e/ou labutam em outras profissões no momento, conversaram com os jovens do time sub-20.

Conduzido por Andreia Cunha, psicóloga da categoria, o bate-papo foi acompanhado de perto pelo supervisor Nílson Gonçalves e por membros da comissão técnica da equipe júnior, dentre eles o treinador Rodney Gonçalves, que trabalhou e foi campeão com os quatro palestrantes durante o período em que eles atuaram em São Januário. Fábio Raulino, coordenador dos treinadores de goleiros, também prestigiou o evento, marcado por muita interação, descontração e emoção.

Antigas promessas exaltam grandeza do Vasco da Gama

Atualmente com 24 anos, João Marcos Quintanilha estuda Educação Física na Estácio e administra uma academia. Antes do anonimato, porém, ele se destacava na Colina. Dentro de campo, ficou marcado pelas conquistas e por ter anotado um dos gols cruzmaltinos na decisão da Copa do Brasil sub-17 de 2008, contra o Santos. Marcada pelo duelo entre Philippe Coutinho e Neymar, a partida terminou com triunfo vascaíno pelo placar de 2 a 1. Em 2009, longe dos gramados, se tornou o primeiro aluno do Colégio Vasco da Gama a ser aprovado numa universidade pública.

- Uma ótima iniciativa do Vasco. Agradeço ao clube não só pelo convite, mas por tudo que fez por mim como atleta e como homem. Passei 14 anos de minha vida em São Januário e sou bastante grato por tudo. A diferença de idade para os jogadores do sub-20 não é tão distante assim, mas passei um pouco da minha experiência. Não tive duas passagens muito boas fora do país e mostrei para eles que nem sempre jogar na Europa é como se imagina. O Vasco é um gigante, tem uma grande camisa, e precisa ser valorizado. Foi um sonho meu jogar no profissional, não consegui, mas torço para que seja diferente com eles. Para isso acontecer, tem que se dedicar ao máximo e dar tudo agora. A pior coisa é você chegar no futuro com a sensação de que poderia ter dado algo mais - afirmou João Marcos.

Outro que esteve presente no elenco juvenil que conquistou o Brasil em 2008 foi Laniyan. Estudante de Fisioterapia da Estácio, o jovem não balançou as redes na final contra o alvinegro praiano no Espírito Santo, mas nem por isso teve uma passagem por São Januário menos vitoriosa. O antigo lateral-direito era considerado uma das grandes promessas do futebol nacional. A maior prova do seu talento foram as convocações para a Seleção Brasileira sub-20. Laniyan chegou a despertar o interesse de grandes clubes europeus, como a Juventus (ITA) e o Chelsea (ING).

- Entrei criança e sai homem daqui. O clube foi responsável por toda a minha formação e serei eternamente grato por isso. Eu torço bastante pelo Vasco, pelo sucesso das categorias de base, que novos talentos surjam aqui. Gostei bastante de participar desse projeto. Os garotos precisam valorizar o que possuem hoje e justificar dentro de campo o status que possuem. Por equívoco, postura inadequada, muitos acabam perdendo a oportunidade. É importante fazer valer esse talento, essa qualidade dentro de campo. É lá que eles vão obter sucesso. Não adianta ter vaidade extra-campo, viver uma realidade que ainda não é sua - declarou Laniyan.

Único jogador do quarteto ainda em atividade, o goleiro Fabrício deixou o Vasco da Gama no final de 2012 para tentar a sorte em outros clubes do Rio de Janeiro. Conhecido por pegar inúmeros pênaltis durante sua passagem pela base cruzmaltina, o jovem de 23 anos viveu seu melhor momento no Olaria, em 2014. Quando iria iniciar o Campeonato Carioca como titular, sofreu uma grave lesão e acabou perdendo espaço no time. Sem clube no momento, o arqueiro se dedica aos estudos (cursa o 5º período de Educação Física na Unigranrio) enquanto espera por uma nova oportunidade.

- O Vasco representa tudo na minha vida. Cheguei aqui com nove anos e toda minha formação como homem foi aqui dentro. Estudei no Colégio Vasco da Gama e aprendi bastante coisa em São Januário, principalmente a me posicionar. Sempre fui tímido e tinha muita dificuldade para me comunicar com as pessoas. Graças ao trabalho das pessoas do clube, consegui superar esse meu medo e hoje consegui falar com os garotos, uma situação que jamais pensei que fosse acontecer. Sou muito grato por tudo. O clube me deu estudo e amigos que levo até hoje. Sem o Vasco, a minha vida poderia ter sido completamente diferente - disse Fabrício.

Integrante da Geração 91, que tem como principal fruto o meio-campista Allan, hoje no Napoli (ITA) e campeão da Copa do Brasil de 2001, o ex-zagueiro Felipe Santos atuou no Almirante durante os anos de 2000 e 2009. Ao longo do período que vestiu a camisa cruzmaltina, o jovem de 24 anos venceu inúmeros campeonatos. Vale destacar os títulos estaduais pré-mirim (sub-11), em 2003, e infantil (sub-15), em 2006. Ex-aluno do Colégio Vasco da Gama, Felipão, como era chamado por todos, não disputou a Copa do Brasil sub-17 de 2008 devido a uma lesão.

- Minha formação como pessoa ocorreu aqui no Vasco. Chegava aqui de manhã para treinar e só voltava para casa de noite, após o término das aulas na escola. Meu dia inteiro era em São Januário, todas as minhas amizades eram daqui. O clube sempre teve esse diferencial. A vida do atleta é muito corrida, a programação pode mudar a qualquer momento. Por isso, é importante você estudar num lugar que compreenda sua rotina. O Vasco dá ao atleta a oportunidade de seguir um outro caminho, de ter um plano B caso o futuro no futebol não seja o esperado. Na época, não enxergava dessa forma, mas hoje vejo que esse trabalho me ajudou bastante - concluiu Felipe Santos.

A palestra com ex-atletas é mais uma ferramenta de preparação das jovens promessas para o time profissional. Semanalmente, o Vasco da Gama promove através do projeto "Papo na Colina" a integração entre todas as categorias de sua base.



Fonte: Site oficial do Vasco