Fincada na região noroeste do Espírito Santo, Vila Valério é uma cidade que ainda não conheceu o desenvolvimento das grandes cidades. Tudo na pequena cidade de pouco mais de 14 mil habitantes ainda é pacato. Conhecida principalmente por ser um dos maiores produtores capixabas de café conilon - 70% da sua arrecadação sai do cultivo do grão -, o município convive também com o abismo social que marca locais com alta incidência de grandes propriedades. Porém, um ponto é converge para uma democracia em Vila Valério: a paixão pelo Vasco da Gama. A cidade foi apontada por uma pesquisa feita pelo Facebook em parceria com o GloboEsporte.com como o município com o maior percentual de curtidas na página do clube na rede social: 30,1%.
Com uma grande população rural, Vila Valério tem um centro comercial modesto. É facilmente possível se encontrar pessoas se locomovendo com transportes de tração animal. A sede administrativa da cidade está alojada em um imóvel projetado para ser uma casa. Tudo muito acanhado. A riqueza mesmo está nas grandes plantações de café conilon. E a característica paixão pelo Vasco na cidade contaminou até os empresários do setor.
- Essa minha paixão eu herdei do meu irmão mais velha. Minha família é vascaína, e eu acabei sendo tomado por isso também. A vida da gente é café e Vasco. Já fui sete vezes a São Januário. A maioria das vezes vamos de ônibus. São 12 horas de viagem que a gente faz com o maior prazer. E é verdade: a grande parte dos produtores daqui são vascaínos - diz João Rash Júnior, um dos maiores produtores de café conilon da cidade.
A sorte de conhecer o lar vascaíno não sorriu para o motorista Solimar Pianna, de 46 anos, que trata como um sonho acompanhar um dia um jogo do Gigante da Colina. Ele é uma referência de torcedor do Vasco na cidade e exemplo de fanatismo. A sua casa é percebida de longe com uma bandeira do clube, hasteada pela primeira vez quando o time foi rebaixado em 2008. De lá para cá, apesar de ter sido trocada em algumas ocasiões, permanece tremulando. Aliás, Solimar é um colecionador de artigos do Vasco. Sua casa tem mais de 300 peças entre camisas, adesivos, toalhas, bonés e, principalmente, canecas, a sua grande paixão. (Confira o tour que o GloboEsporte.com fez dentro da casa deste vascaíno fanático no vídeo)
- Meu sonho é um conhecer São Januário, poder ir assistir um jogo do Vasco. O meu uniforme é a camisa do Vasco. O pessoal até me sacaneia. Uma vez fui convidado para um casamento, e a noiva falou: "Pelo amor de Deus, não vá com a camisa do Vasco". Eu respondi: "Está bem, eu vou com uma sunga". O Vasco é um amor sem limite para mim - conta Solimar.
Aliás, a região do noroeste capixaba é um ponto de concentração de torcedores do Gigante da Colina. Vizinhas, São José do Calçado e São Gabriel da Palha também aparecem no top cinco da pesquisa. As cidades são as terceira e quinta colocadas no ranking, respectivamente. Outra curiosidade é que nenhum município do Rio de Janeiro figura entre os dez mais bem colocados. Nesta lista aparecem somente representantes do Espírito Santo e, acredite, do Maranhão.
Um "triste" bem feliz
Embora nem todo valeriense tenha tido a oportunidade de conhecer São Januário, a cidade tratou de eleger uma casa local do vascaíno. O lugar eleito foi o Bar do Triste. Localizado em um posto de gasolina na saída da cidade, a lanchonete é o ponto de encontro dos torcedores em dia de jogo. E o nome do estabelecimento não é por acaso. Ele é de propriedade de Ailson Goese Liberato, o Triste. Ele recebeu este apelido dos rivais justamente por ser torcedor do Vasco. Triste não se incomoda com o apelido. Pelo contrário. Diz que a escolha de torcer pelo Gigante da Colina só o traz felicidade.
- Eu amo ser vascaíno. Aqui é um prazer também receber os torcedores. Faço da minha paixão meu trabalho - resume o comerciante.
O café conilon
O Espírito Santo é o segundo estado em número de produção de café conilon, com cerca de 25% da produção nacional. De acordo com dados do Centro Tecnológico do Café, mais de 330 mil pessoas trabalham no cultivo do grão no estado. Vila Valério tem a segunda maior produção do estado com mais de 840 mil sacas produzidas por colheita - uma por ano.
O café conilon é geralmente produzido em locais com temperaturas elevadas. O grão mais apreciado no mundo é do tipo arábia - e também tem valor de mercado mais alto. No Brasil, a maior incidência é de produtos com os dois tipos de grãos misturados. O café conilon tem quase o dobro de cafeína e metade de açúcares que o arábica. Os pés também oferecem uma maior produção.
Fonte: GloboEsporte.com