Já se passaram 284 dias desde que o técnico Joel Santana deixou o Vasco, o último emprego. Aos 66 anos, campeão pelos quatro grandes do Rio, o Papai luta contra o rótulo de ultrapassado, que o tira do sério. O folclórico treinador, também garoto-propaganda, pleiteia uma vaga: “Pode to be?”.
Ficou alguma mágoa com o Eurico Miranda e como você vê a situação atual do Vasco?
Não ficou mágoa com o Eurico, de jeito algum. Não tenho mágoa com ninguém, longe disso. Tenho a minha vida, fui campeão nos quatro clubes do Rio de Janeiro. Sou querido pelo povo, vou reclamar de quê? Estou com saúde, graças a Deus. No momento que eu estava no Vasco, pouca gente sabe, operei três vezes. Coloquei pinos nas duas pernas. Assim como o Pelé. A maioria dos ex-jogadores fazem isso. Estou com dois amortecedores novinhos, e vou reclamar da vida? Estou na hora de aproveitar. Mas tem coisas que eu não concordo. Eu tenho carta branca para falar. Faço isso há 30 anos. Viajei o mundo... Sobre o Vasco, não quero falar muito. Essa bomba não é minha agora, deixa o Vasco resolver esse problema (lutar contra o rebaixamento). A missão que me deram, eu cumpri, que foi subir com o clube para a Série A em 2014.
Em um time que está na situação do Vasco, o que fazer para se livrar do rebaixamento?
Os times precisam ter um técnico com pedigree. Não é fácil comandar um time nesta situação. E acho que a união é fundamental, entre todos os setores do clube. As vaidades precisam ser deixadas de lado.
Você se irrita por ficar tanto tempo sem trabalhar?
Sabe o que eles fazem para te tirar do mercado? Dizem: “Ah, ele está velho, ultrapassado...” Porra, meu irmão. Velho e ultrapassado? São 30 anos fazendo a mesma coisa, não tem como. Eles vêm com filosofia besta, conversa fiada otária. Um cara desse nunca soltou uma pipa, nunca jogou bola. Falam da minha prancheta, e estão todos usando prancheta. É por isso que esse futebol está assim, muquirana. Não tem mais as pessoas antigas.... Os caras vêm com filosofia, mas nunca jogaram uma pelada. Como eu tenho muitos anos comandando times de futebol, o clube vem direto até a mim quando está interessado. Não tem essa de representante. Talvez isso complique um pouco minha situação. O fato é, eu nasci dentro do assunto. Entendo da BMW que eu estou mexendo. Fui jogador, trabalhei com categoria de base, sou o treinador que tem mais Campeonato Carioca. Sei mais que os caras. Só mesmo nesse país que um treinador com o meu currículo fica sem emprego. Pelo que vejo aí, não dá para o Joel ficar sem emprego, ou dá? Sorte que eu estou com a vida ganha.
Quem te chamou de ultrapassado? A quem você se refere?
A pessoa vai saber quando ler a entrevista.
Quais os projetos do Joel?
Como eu disse. Eu entendo muito bem da BMW que eu estou mexendo. Ainda não posso adiantar muita coisa, mas tem algo bom vindo por aí. Posso dizer que é algo relacionado ao futebol. Comentarista? Não posso dizer (risos). Em breve, vocês (jornalistas) saberão as minhas novidades.
Como você avalia o intercâmbio dos treinadores brasileiros na Europa?
O técnico vai para a Inglaterra e acha que está se reciclando. Você acha que o Mourinho (técnico do Chelsea) atende os caras com atenção? Que nada... Ele vem com muita má vontade, dá um bom dia e vai embora. Vai ficar falando de tática? Não vai... Porra, ele trabalha com 200 caras ao lado dele. Quem dá treino é auxiliar. Então, não me venham com esse papo furado de reciclagem.
O fato de ser chamado de ultrapassado é o que mais te irrita?
Eu vou fazer palestra, e sei mais do que os caras, são 30 anos nisso. Conheci Amarildo, Silva Batuta. Vi grandes jogadores, Tostão... Joguei contra Pelé, Zico... Trabalhei com Romário. Como o cara vai dizer que eu sou ultrapassado? Nunca viu uma preleção minha. Está de sacanagem.
Fonte: Extra Online