As homenagens não param a um dos principais heróis do título do Uberlândia Esporte Clube (UEC) da Taça CBF de 1984, Vivinho, que faleceu aos 54 anos no Rio de Janeiro, na manhã do último domingo (13), de embolia pulmonar que resultou em três paradas cardiorrespiratórias, depois de sentir um mal súbito em sua casa, em decorrência de um acidente sofrido em uma partida máster contra o Flamengo, no Pará. O corpo do ídolo alviverde chegou ao aeroporto de Uberlândia na noite desta segunda-feira (14), por volta das 19h50. Depois, seguiu para uma funerária da cidade, até ser encaminhado para a Arena Sabiazinho, onde começou a ser velado. A saída para o sepultamento está marcada para o começo da tarde desta terça-feira (15), às 14h, até o Cemitério Campo do Bom Pastor.
Vivinho, que sofreu afundamento da face e teve uma lesão no nariz na partida pelo time máster do Vasco, foi operado há cerca de 15 dias e se recuperava. Atualmente, ele dirigia uma escolinha de futebol, em Caxambi (RJ) e também era pastor evangélico. Vivinho foi o autor do gol que deu o título mais importante da história do UEC. Na primeira partida da final contra o Remo (PA), no Estádio Parque do Sabiá, o atacante pegou um chute de primeira, depois de um cruzamento preciso de Chiquinho, fazendo o Parque do Sabiá explodir de emoção.
Por ironia do destino, Vivinho é o segundo jogador campeão de 1984 a falecer. Outro herói da conquista, Zecão, que tirou uma bola em cima da linha do gol na partida de volta, em Belém do Pará, evitando a derrota para o Remo e a perda do título, morreu em junho do ano passado.
O presidente do Uberlândia Esporte, Guto Braga, falou sobre a tristeza da perda precoce do ídolo alviverde. “Fomos pegos de surpresa, ninguém esperava e estamos todos chateados e tristes. O desejo da família era trazer ele para Uberlândia e juntando esforços de toda a diretoria conseguimos trazer o Vivinho para que seja sepultado na sua cidade e perto de sua família”, disse Guto.
História
Welves Dias Marcelino, ou simplesmente Vivinho, concedeu entrevista exclusiva ao CORREIO de Uberlândia em 2011. Na época, fez questão de deixar claro que o gol do título do Verdão em 1984, contra o Remo, era considerado, por ele, um dos mais importantes e bonitos da carreira. “Depois de um cruzamento perfeito do Chiquinho (volante) eu peguei de primeira, dentro da grande área, explodindo o Sabiá. Foi uma coisa fantástica. Quanta felicidade e que saudade que dá”, disse Vivinho.
O ex-atacante também deixava claro a sua vontade de um dia voltar a morar em Uberlândia. “Eu só não voltei porque a minha esposa é daqui do Rio, mas eu sou apaixonado pelo Verdão e gostaria muito de um dia retribuir tudo o que o Uberlândia me ajudou na carreira”, afirmou.
Carreira
Vivinho jogou no Verdão de 1982 a 1986 e depois foi vendido para o Vasco da Gama (RJ), clube pelo qual consolidou sua carreira vitoriosa até 1990. No clube cruz-maltino, conquistou um campeonato Carioca (1988) e um Brasileiro (1989). Em 1988, ganhou o troféu “Bola de Prata” concedido pela revista Placar, como o melhor ponta direita daquele ano. O atacante tem uma placa no estádio de São Januário, em homenagem pelo gol marcado sobre a Portuguesa, pelo Brasileiro de 1988, quando deu três chapéus no volante Capitão. Vivinho foi convocado seis vezes para a seleção brasileira, marcando um gol.
Uma curiosidade é que Vivinho começou a carreira profissional somente aos 21 anos, depois de fazer um teste no estádio Juca Ribeiro. Segundo o próprio jogador, ele achava que não teria futuro no futebol porque era muito magro. “No dia que mostraram para o Cento e Nove (técnico de 1984) e disseram que eu seria o centroavante do time no Campeonato Brasileiro, ele queria ir embora. Mas realmente eu não tinha biótipo físico para jogador, era raquítico mesmo. Em compensação, era muito rápido e habilidoso”, disse.
O técnico Cento e Nove, confirma que não botava fé em Vivinho, mas o jogador surpreendeu. “Ele não estava realmente nos planos do clube, mas tive que acreditar naquele garoto. Apesar do porte físico magro, ele era rápido e habilidoso. Graças a Deus, ele soube aproveitar bem a oportunidade que teve e foi uma peça fundamental no título. Por isso, passou por grandes clubes e chegou a jogar na seleção brasileira. Que Deus o tenha”, disse Cento e Nove, que mora em Belo Horizonte.
Chegada no UEC
Atacante saiu do futebol amador para o Verdão
Diretor de futebol do UEC em 1984, Pedro Naves viu Vivinho jogando em campos do futebol amador e resolveu levá-lo para treinar no Estádio Juca Ribeiro. “Não me lembro mais por qual time do futebol amador eu o vi jogar na época. O Cento e Nove me perguntou quem era o Vivinho e quando mostrei a ele o jogador disse: Aquele menino não tem porte, ele não aguenta. Então levei o Vivinho para o doutor Henrique Borges, no Hospital Santa Genoveva, ele precisava tomar vitaminas e foi tratado. Depois, o levei para a pensão da Tia Santa (avenida João Pinheiro), para ele se alimentar melhor. Um dia, o Vivinho me disse que não queria ir mais ao restaurante porque pensava na mãe dele que não tinha o que comer direito, então dei um jeito de fazer com que ele se alimentasse na casa dele com a família. Foi aí que percebi o quanto aquele menino era especial”, disse.
Volta
Depois de passagens por outros clubes como Vasco, Goiás, Atlético Paranaense, entre outros, Vivinho retornou ao Verdão em 1996, trazido novamente por Pedro Naves, que então era o presidente do clube, mas a equipe não fez boa campanha no Campeonato Mineiro e Vivinho, que recebia muitas criticas, voltou para o Rio de Janeiro, onde encerrou a carreira na Cabofriense.
Depoimentos
Maurinho, meia e companheiro de time em 1984: “Infelizmente perdi um grande amigo e companheiro de muitos anos. Foram tantos momentos juntos, tantas viagens, jogos e etc. Nunca vou esquecer os momentos bons que tivemos juntos. Foi uma honra ser seu amigo e fazer sucesso ao seu lado. Vivinho descanse em paz meu irmão”.
Moacir, goleiro de 1984: “Este é nosso amigo, menino que logo cedo foi brincar conosco na época do bom futebol jogado. Humilde e lépido, com muita harmonia já sabia ouvir os mais experientes, conseguindo nos ajudar nas grandes vitórias. Pois é parceiro sua estrela brilhou muito ao nosso lado e continuará brilhando ao lado do nosso Pai. Com muita luz estaremos contando suas histórias na mais bela trajetória por onde passou. Obrigado por se tornar nosso ídolo e ter nos ensinado com sua humildade a verdadeira história de um campeão”.
Diron, ex-goleiro do Uberaba e do UEC: “Nós jogamos contra e nos cumprimentávamos, havia o respeito, pois ele era uma pessoa fantástica. Não me lembro de quantas vezes nos enfrentamos, mas sei que ele já me deu muito trabalho, pois era rápido e sabia fazer gols”.
Frank Resende, Torcida Amo Vasco em Uberlândia: “O Vivinho era um grande amigo e sentiremos muita a falta dele, pois se tratava de uma grande pessoa. É uma perda irreparável para a torcida do Vasco e do Uberlândia Esporte. Mesmo aposentado, ele continuava um atleta, pois ainda jogava como profissional (máster), mesmo aos 54 anos.
Onde Vivinho jogou como profissional
1982 a 1986 – Uberlândia (Campeão Brasileiro Série – B)
1986 a 1990 – Vasco (Bicampeão Carioca e campeão Brasileiro Série A)
1990 a 1992 – Botafogo
1993 – Atlético (PR) e Goiás
1995 – Fortaleza
1996 – Uberlândia
1997 – Cabofriense (RJ)
Fonte: Correio de Uberlândia