Vivinho será velado no Rio e em Uberlândia; enterro será na 3ª-feira

Domingo, 13/09/2015 - 21:53
comentário(s)

Garoto magro e com 21 anos. Talvez essas condições não favoreciam para começar a carreira como jogador de futebol profissional. Mas Welves Dias Marcelino, mais conhecido como Vivinho, acabou sendo uma exceção. O talento que tinha superou essas adversidades, e Vivinho acabou se tornando ídolo do Uberlândia Esporte e do Vasco na década de 1980.

Natural de Uberlândia, interior de Minas Gerais, Vivinho começou a jogar bola nas ruas do bairro Operário, atual bairro Aparecida. Com habilidade e velocidade como características, despertou a atenção de pessoas ligadas ao futebol. No entanto, o início no esporte foi apenas nos times amadores da cidade. Mesmo se destacando, todos achavam que Vivinho não iria longe por conta da idade. Já estava velho para começar em algum time profissional. Mas uma pessoa foi contra a maré: Vicente Lage, o Cento e Nove, que se tornou o primeiro treinador de Vivinho que deu chance no profissional . Hoje, com a notícia da morte do ex-jogador, aos 54 anos, o primeiro treinador do Vivinho fez questão de lembrar o início da carreira do centroavante.

O ano era 1984, o Uberlândia Esporte Clube se preparava para a disputa do Torneio Seletivo, que garantia vaga na Taça CBF (ou Taça de Prata, equivalente à Série B). Precisando completar o time no treinamento, Vicente Lage chamou Vivinho para a equipe titular. De onde não saiu mais. Treinando separado, não seria aproveitado. Chegou a ser oferecido para outros times pelo presidente da época, Pietro Paladini. Cento e Nove interviu e disse que queria contar com o jogador, que acreditava nele.

– Na realidade, ele nem chegava a treinar. Teve um dia, que não tinha jogadores, e eu o lancei. Me encantou e coloquei para jogar, dei atenção e ele foi o destaque. Eu tinha muito carinho com ele, e fico muito grato. O Vivinho era um centroavante muito técnico, com uma velocidade espantosa, um jogador com talento, principalmente pelo alto – lembra o ex-treinador, que atualmente mora em Belo Horizonte.

Vicente Lage, que tem passagens pelo futebol mineiro como treinador e supervisor do América-MG, Cruzeiro e Atlético-MG, antes de chegar ao Uberlândia trabalhou no Valeriodoce. Com muito pesar, o ex-treinador, hoje com 82 anos, contou que Vivinho era muito alegre, sempre comunicativo com os colegas e com a imprensa, além de ter um carisma muito grande com o torcedor.

GRATIDÃO

Em uma entrevista à Rádio Globo Cultura de Uberlândia, em 2014, Vivinho reconheceu e importância de seu primeiro treinador no profissional. Disse que Vicente Lage foi o único a acreditar em seu futebol e relembrou que, desde a primeira preleção, disse que ele iria arrebentar.

– Eu sabia que ele tinha visão diferenciada. Quando comecei a despontar no futebol, ele me disse:

"Eu não falei que você ia explodir no futebol brasileiro, no futebol mundial?". Agradeço muito a ele, que me tratou com muito carinho – contou em março do ano passado.

E não é que a visão diferenciada, mencionada por Vivinho, rendeu frutos. O jogador foi autor do gol do maior título da história do Uberlândia. No primeiro jogo da final da Taça CBF, contra o Remo, ele marcou aos 46 minutos do segundo tempo o único gol do jogo. Na partida de volta, em Belém do Pará, o placar ficou em 0 a 0 e o Verdão conquistou a edição de 1984 da competição. Com isso, ele virou ídolo do time mineiro e despertou interesse de grandes clubes. Foi negociado para o Vasco em 1986, onde marcou gols importantes e se sagrou campeão carioca e brasileiro em 1988 e 1889. Depois teve passagens por Botafogo, Atlético-PR, Goiás, Fortaleza e Cabofriense, onde encerrou a carreira em 1997. Pela Seleção Brasileira, atuou quatros jogos em 1989 e marcou um gol.

Assim como no Uberlândia, Vivinho também chegou ao status de ídolo. Um lance que nenhum vascaíno esquece foi no jogo contra a Portuguesa, pelo Campeonato Brasileiro de 1988. Vivinho deu três chapéus no volante Capitão e marcou um legítimo gol de placa, que está no estádio São Januário.

NA MEMÓRIA DOS AMIGOS

Quando chegou ao profissional do Uberlândia, Vivinho precisou da ajuda de colegas do elenco. Um deles foi o experiente goleiro Moacir. Toda a trajetória do centroavante no time mineiro foi aconselhada pelos mais rodados, inclusive sua negociação com o Vasco

– Ele era um garoto, e a gente bem mais maduro. Ele tinha muita vontade, sempre respeitava e obedecia os mais velhos. Com esse comportamento, conseguimos fazer uma boa campanha em 1984. Nós que confirmamos ele como atleta, e a saída dele do clube foi motivada por nós. Exigimos para que o presidente [Pietro Paladini] o vendesse para outros clubes. E ele foi para o Vasco. Só temos coisas boas para lembrar do Vivinho. Ele gostava de estar em campo, jogando bola. Fazia o que amava. Lamentável perdê-lo tão jovem – comentou.

No Vasco, um dos amigos que fez foi meia Geovani. Em 1886, quando Vivinho se transferiu para o clube carioca, Geovani já fazia parte do elenco e viveram grandes alegrias juntos. A amizade entre os dois é lembrada pelo meia.

– Foi um amigo que eu fiz no futebol. Fiz poucos. Eu posso me considerar um amigo. Vivinho tinha um grande caráter, só tinha alegria de querer viver. O principal era a alegria no sorriso dele. Jogamos muito tempo juntos, só resta tristeza e saudade – contou emocionado.

MORTE E SEPULTAMENTO

De acordo com a irmã Franciele Alves, Vivinho disputou um campeonato de master em Altamira, no Pará, quando levou uma cotovelada do goleiro adversário, quebrou o nariz e teve um afundamento da face. No Pará, o ex-jogador foi submetido apenas à cirurgia no nariz e voltou ao Rio de Janeiro, onde mora. Ainda segundo Franciele, Vivinho estava se recuperando em casa, e neste domingo, pela manhã, passou mal ao descer as escadas do prédio onde mora no Rio de Janeiro, caiu e não resistiu. Em contato com os médicos que atenderam o ex-jogador, Franciele disse que Vivinho foi vítima de uma embolia pulmonar, que resultou em três paradas cardiorrespiratórias.

De acordo com a família que está no Rio de Janeiro, o corpo de Vivinho vai ser velado na Igreja Nova Vida, em Higienópolis, bairro do Rio de Janeiro, onde o ex-jogador era pastor. Como uma das últimas homenagens ao ídolo, em gratidão por tudo que o jogador representou ao clube mineiro, a diretoria do Uberlândia Esporte vai trazer o corpo de Vivinho para ser velado em Uberlândia.

Segundo Alessandro Marques, presidente do Conselho do Verdão, o corpo deve chegar à cidade do Triângulo Mineiro por volta de 19h50 de segunda-feira. Os familiares - dois filhos, uma enteada, a esposa, a mãe, e um amigo da família - chegam em outro voo, às 23h. Tudo será custeado pela diretoria do Uberlândia Esporte Clube. Está programado para a diretoria do time receber o corpo no aeroporto da cidade e seguir em um carro do Corpo dos Bombeiros para o ginásio Sabiazinho, onde será velado novamente, a partir de 20h30. O enterro está marcado para terça-feira, com horário a ser definido, no cemitério Campo do Bom Pastor.



Fonte: GloboEsporte.com