Poucas pessoas levam a vida tão na boa quanto Eriovaldo Johnson Araújo Oliveira, mais conhecido como Eri Johnson, ator de longa carreira na TV, cinema e teatro.
Quem já andou pela orla das praias do Rio de Janeiro certamente já viu o comediante da TV Globo aproveitando o sol, geralmente em disputadas partidas de futevôlei, e distribuindo seu sorriso faceiro pela capital fluminense.
Mas Eri está triste. E o motivo de sua tristeza tem nome.
Trata-se do Club de Regatas Vasco da Gama, equipe que, em uma das piores campanhas da história, ocupa a lanterna do Campeonato Brasileiro e está virtualmente rebaixada para a Série B - mais uma vez.
O ator não aguenta mais tanta humilhação. Principalmente porque sabe que tudo poderia ser diferente se ele não tivesse seguido o caminho das artes e optado por continuar sua trajetória de promissor ponta-esquerda que fazia sucesso na base do "Gigante da Colina".
"Eu sou vascaíno desde antes de nascer, meu amigo, mas tá difícil...", lamenta o carioca, de 53 anos, em entrevista ao ESPN.com.br.
"Comecei no futebol de salão e depois joguei no Vasco e no São Cristóvão. Eu driblava muito, partia pra cima, cortava todo mundo e cruzava bem na área. Acho que se nada tivesse acontecido comigo, porque a vida é tão complicada, poderia ter uma carreira de sucesso como jogador. Eu era ponta esquerda habilidoso!", recorda.
A única parte chata da vida de atleta profissional era treinar.
"Era um saco (risos)! Uma rotina muito chata, você treina, treina, treina e joga pouco. Eu entendia perfeitamente o Romário quando reclamava, sábias palavras do 'Baixinho'. Só alguns deveriam treinar: os que realmente precisam (risos)", brinca.
Mas Eri Johnson estava mesmo destinado a ser uma estrela dos palcos e das telas. Mesmo sem ter ninguém do meio artístico na família, foi pulando de galho em galho até se arranjar.
Começou fazendo figuração na novela "Dancin' Days", exibida entre 1978 e 1979. Entrava de penetra, como ele mesmo admite, nos ensaios e gravações para ver nomes como Glória Pires, Sônia Braga e Reginaldo Faria atuando, e se apaixonou de vez pela interpretação.
"Com 19 anos, fui ver uma peça chamada 'Pato com laranja', fiquei apaixonado e achei o máximo! Achei que dava pra isso, fiz um curso do Jaime Barcelos, com aula de improvisação e interpretação, e encarei de frente. Com 20 anos, fiz minha primeira peça e nunca mais saí da área. Larguei o futebol em 1980, nos juniores do São Cristóvão", conta.
O talento com a bola, inclusive, rendeu a Eri um papel de jogador de futebol no extinto "Você Decide", programa no qual os telespectadores escolhiam o final da trama.
"Meu pai era o técnico adversário e eu tinha que bater um pênalti no final do jogo contra o time dele. Se eu fizesse o gol, ele seria demitido, e se ela não entrasse, meu time perdia, mas ele não seria mandado embora. Quem fazia meu pai era o Nuno Leal Maia, que até foi até técnico de verdade no Londrina!", lembra.
"Nós gravamos dois finais, e o público escolheu que eu errasse. Mas eu era bom, se não tivesse que errar de propósito, com certeza teria acertado (risos). Adoro futebol, sempre que dá a gente disputa uma pelada nas gravações", completa.
A paixão pelo Vasco, aliás, já fez o ator até se atrasar para uma peça na qual era protagonistas, já que ele saiu do Maracanã direto para o teatro.
"Tentei mudar o dia da peça 'Aluga-se um namorado' pra ver o Vascão jogar. Ela começava no domingo, e eu disse: 'Impossível, não vai dar tempo de voltar do Maracanã para Niterói'. Mas não teve jeito, já tinham vendido. O jeito foi chegar atrasado (risos). Quando cheguei ao teatro, estavam todos esperando, entrei pela plateia e pedi desculpas: 'Foi mal, pessoal, estava vendo meu Vasco jogar'", narrou.
"Acho que fui perdoado", sorriu.
Travessuras com Romário e Edmundo
Eri Johnson tem muitos amigos no mundo da bola, mas dois de seus favoritos são Romário e Edmundo, ambos ídolos de seu Vasco do coração. Grande imitador, o ator também é conhecido por imitar Romário "melhor do que o próprio 'Baixinho'", como ele mesmo descreve.
Certa vez, ele até se livrou de uma enrascada graças à sua personificação do hoje senador.
"O Romário adora a minha imitação. Ele sempre chega pra mim e fala: 'E aí, Romário?', e eu respondo: 'Qualé, peixe? (risos)'. Daí fazemos uma tabelinha de Romário pra Romário (risos)", relata.
"Já dei até uns 'migués' me passando pelo Romário. Uma vez liguei pra um produtor e fiz a voz do Romário: 'Pô, Sérgio, o Eri está atrasado porque está comigo, deu problema no carro dele, mas já, já estará aí. O cara se empolgou, contou pra Globo inteira que o Romário tinha ligado pra ele (risos). Depois eu contei que tinha sido eu, ele ficou p... da vida! Mas um 'miguézinho' aqui, outro ali, não tem problema nenhum", garante.
Amigos desde 1987, Romário e Eri também protagonizaram uma das mais famosas "entrevistas" da história do "Vídeo Show", programa exibido nas tardes da Globo.
"Quando ele estava no Flamengo fui fazer uma matéria com ele. Ficou muito bacana, porque ele me entrevistou como se eu fosse o Romário. Ele mandava a pergunta na lata, eu respondia como Romário. Ea pra ser uma reportagem rapidinha, mas teve 10 minutos! As respostas eu dei pensando no que ele falaria, depois ele morreu de rir: 'Você disse tudo o que eu queria dizer (risos)'", gargalha.
Já Edmundo não se dá tão bem com Romário, mas adora Eri Johnson. O ator, aliás, diz que o "Animal" certa vez lhe confidenciou que invejava sua habilidade com a perna esquerda, e chegou a perguntar por que o amigo havia desistido do futebol.
"Em 97, quando o Edmundo estava no auge, arrebentando no Vasco, ele me chamou no canto e falou: 'Eri, vou te dizer um negócio. Se eu tivesse a habilidade que você tem nessa perna esquerda, pediria mais R$ 100 mil por mês do Vasco'. Rapaz, depois disso eu fui às alturas, imagina minha alegria! Passei a usar só a perna direita nas peladas e no futevôlei, pra proteger a esquerda (risos)", conta Johnson.
O artista já tem seu sábado programado. De manhã, se o sol abrir, curtir a praia. Pela tarde, depois do descanso, rumar para o Maracanã (ou para um bar com TV) para ver seu Vasco enfrentar o Atlético-MG, às 19h30 (horário de Brasília), pela 23ª rodada do Brasileirão, em mais uma tentativa desesperada de escapar da degola que parece certa.
Já no domingo, vai acompanhar o "Tomara que caia", programa de comédia do qual atualmente está participando na Globo, ao lado de outros atores.
Para um vascaíno, porém, não poderia haver um nome com presságio pior...
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Fonte: ESPN.com.br