Se os pés chutaram o respeito para escanteio, as mãos, em missão inversa, merecem aplausos. Quando a bola quadrada do Vasco dá lugar à oval, o clube saboreia o melhor da tabela do Campeonato Brasileiro: no futebol americano, a defesa do Vasco da Gama Patriotas ainda não foi vazada. E o ataque é o segundo melhor da competição, com 72 pontos.
O sucesso não gera fartura ao líder do Grupo B, atual campeão brasileiro. Apenas os dois americanos do time, Lucas Shaw e Joshua Canup, têm direito a salário, gastança somente possível graças ao apoio financeiro de um pequeno grupo de fanáticos patrocinadores.
- O Vasco não gasta um centavo com nossa equipe, mas cede o nome. E a gente consegue patrocínios - afirma Gabriel Mendes, jornalista sem horas vagas, que, além de treinador do time, integra também a comissão técnica da seleção brasileira.
Com o modesto orçamento anual que varia entre R$ 50 mil e R$ 70 mil, o time de futebol americano do Vasco não usa nem mesmo o estádio de São Januário. O campo da ortuguesa é alugado para treinos e jogos com ingressos a R$ 10 e R$ 20 - o público às vezes chega a 1.800 pessoas.
- No nosso time, todos têm emprego. Há engenheiro, pedreiro, economista, advogado... - diz Gabriel. - Temos jogador playboyzinho e do subúrbio. Temos também baixinhos e gordos.
A gordura na tabela do Brasileiro, após duas rodadas, é construída a cada touchdown — o gol do futebol americano, quando o jogador chega à área final do adversário com a bola na mão, ou recebe um passe lá dentro. O Vasco venceu suas duas partidas por “goleada”: 41 a 0 e 31 a 0, sobre Botafogo e Tubarões do Cerrado, respectivamente, resultados que, numa conversão para o futebol, representariam 6 a 0 e 4 a 0. O time voltará a testar sua pontaria no próximo dia 30, contra o Flamengo.
Os números do futebol americano nada têm a ver com os de seu primo mais famoso, mas ao menos antes do jogo o ritual dentro do vestiário é bem parecido.
- Gritamos “casaca”. É obrigatório - ressalta Gabriel, admitindo ser um “vascaíno roxo”. - Quase todos os jogadores do time, uns 70%, são vascaínos. Ninguém faz brincadeira com o mau momento do futebol do clube. A gente respeita a instituição.
Se o respeito voltou, escolheu a bola oval como pouso. O treinador Gabriel mata no peito a responsabilidade de honrar a cruz de malta, e a divide entre os 60 jogadores do elenco. Mas, apesar do orgulho, sofre com o péssimo momento do futebol, sua eterna paixão:
- No futebol americano, estamos fazendo a nossa parte. O Vasco é muito grande, mas está virando motivo de chacota. Não queremos ocupar o espaço que é do futebol. Queremos, sim, o Vasco grande em todos os esportes.
Por ora, o esporte bretão anda encolhido lá pelas bandas de São Januário. Com as mãos, o Vasco Patriotas joga uma bola oval redondinha, ainda em busca de popularidade e do título brasileiro que os pés não alcançarão este ano. Há vida além da zona de rebaixamento. Enquanto o respeito não volta...
Fonte: Blog Extracampo - Extra Online