Na rua Pequiri, seu Aladir era um daqueles vascaínos bem fervorosos. Não foi à toa que praticamente todos os parentes mais próximos acabaram contagiados por sua paixão. Dos três filhos, Lígia, a única menina, se desgarrou do rebanho e virou botafoguense. Mas os garotos não poderiam deixar o pai na mão. Cláudio, o mais velho, e Márcio, o caçula, herdaram do pai o carinho pela cruz de Malta.
Os tempos de Nova Iguaçu, pelo menos para Márcio, ficaram para trás. Assim como o nome, que virou Emerson. Já a preferência pelo time da Colina, uns dizem que resiste, outros afirmam que não existe mais. Certo é que neste domingo, às 16h, em Brasília, o atacante do Corinthians reencontrará mais uma vez a equipe que um dia mexeu com seu coração.
Como o selinho que deu no amigo Isaac Azar e causou tanta polêmica durante a semana, o time do coração de Emerson na infância é assunto controverso. Na sua apresentação no Flamengo, em 2009, o choro e as declarações de amor ao clube chamaram a atenção de quem o conheceu nos tempos de Jardim Iguaçu, bairro onde viveu na infância.
- Ele sempre foi Vasco, todo mundo sabe disso. Acho que disse que era Flamengo quando foi para lá para ganhar a torcida - afirma o frentista Gilson Araújo Lima, de 32 anos, vizinho da casa onde Emerson morou na infância.
Lígia, a irmã botafoguense, tem outra explicação para que o passado de Marcinho Vascaíno, com era conhecido, tenha sido renegado ao longo dos anos .
- Ele torcia, sim, para o Vasco quando criança. Meu pai era vascaíno e fez com que meus dois irmãos fossem Vasco também. Mas acredito que ele não teve tempo para criar grandes raízes vascaínas. Não dá para dizer que ele era um vascaíno de verdade. Quando se tornou jogador, ele ficou muito tempo fora e queria muito voltar para o Brasil. Acho que ele faria aquilo com o clube que o trouxesse de volta - afirmou.
Depois que retornou ao futebol brasileiro, a mudança do time do coração foi apenas a primeira das polêmicas. Logo veio à tona que o jogador, na adolescência, havia adulterado a idade e o nome para ter facilitada a entrada nas categorias de base do São Paulo. Veio a público também sua detenção pela Polícia Federal em 2006, quando tentou embarcar para o Qatar com passaporte falso. Foi também acusado e, posteriormente, absolvido, de acusação de contrabando de veículos.
Isso sem falar das inúmeras polêmicas em campo, com direito à mordida em marcador, e também nas redes sociais, como as provocações ao Palmeiras após o rebaixamento ou os xingamentos ao santista Leo, por causa de uma piada feita pelo lateral-esquerdo a respeito da torcida do Corinthians.
- Ele sempre foi assim, fala o que pensa. Não tem medo de se expor. Pode ver que nas entrevistas ele sempre sai do clichê. Isso já faz parte da vida dele, da carreira dele - disse Lígia, para em seguida matar uma curiosidade: para a família, é Márcio ou Emerson?
- Nós sempre o chamamos de Márcio. Para a família, é Márcio. Os sobrinhos o chamam de tio Márcio. Quem é de fora, o chama de Emerson, mas, para quem o conhece, é Márcio. Sempre será.
Márcio, Emerson, Sheik, não importa. O personagem atrai polêmica como um imã. Neste domingo, enfrentará o time do qual já se disse torcedor e que por muito pouco não defendeu em 2011, depois da saída conturbada do Fluminense. Coisa do destino, uma pequena redução na oferta vascaína quando as duas partes já davam o negócio como fechado impediu que o sonho de seu Aladir, falecido em 1995, fosse concretizado.
No fim das contas, tratando-se de Emerson, restará sempre a controvérsia.
- Ele era Vasco quando criança, mas já foi Flamengo, Fluminense, Corinthians... - disse Jeferson Alves de Oliveira, 48 anos, pedreiro e morador da rua Pequiri.
Fonte: Extra Online