Paulo Reis: 'A diretoria antiga deixou inúmeras dívidas, níveis incalculáveis, não tem como mensurar'

Sexta-feira, 31/07/2015 - 17:29
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De herança maldita para herança absurda. A troca da gestão Dinamite para Eurico é também uma toma lá dá cá de acusações dos dois lados. Em meio ao momento delicado dentro de campo no Campeonato Brasileiro, com risco de terminar a rodada na lanterna e há 13 rodadas na zona de rebaixamento, com apenas 12 pontos ganhos em 16 partidas, o clube tenta "se virar" fora dele, como diz o vice-presidente jurídico Paulo Reis, em meio a pedidos de penhora e de execução que chegam a todo momento. Segundo o advogado, culpa do que ele define como ''herança absurda'' deixada pela antiga diretoria.

Na antiga gestão Dinamite, o próprio presidente ex-jogador usava termos parecidos e o ex-vice de finanças Nelson Rocha também falava em "herança maldita" e colocava a culpa nas contas das administrações de Eurico Miranda e Antônio Soares Calçada. Rocha chegou a declarar em março de 2011 que o clube já havia pago R$ 115 milhões em dívidas criadas pela gestão anterior. Já o atual vice jurídico defende o trabalho do presidente Eurico, que na semana que vem deve convocar coletiva para abrir a série de pagamentos realizados e expor as várias confissões de dívidas que chegaram desde que assumiu o clube novamente em dezembro do ano passado. Segundo cálculos, o clube pagou mais de R$ 25 milhões em dívidas no atual mandato.

- A diretoria antiga deixou inúmeras dívidas, níveis incalculáveis, não tem como mensurar. A cada dia que passa surge uma confissão de dívida absurda. Temos tentado resolver de todas as formas fazendo acordos, regularizando as situações... É difícil, vai demorar, mas o Vasco não vai fechar as portas. Se a antiga diretoria não tinha crédito, a atual tem. Tanto que estamos conseguindo alguns avanços. Não uso o termo herança maldita. Mas é uma herança absurda que deixaram para o clube. Sinceramente? Tem cobrança de jogador que eu nem lembrava que tinha jogado no Vasco - resumiu Reis.

A última frase do vice jurídico se refere ao caso do meia Caíque. Recentemente, a empresa Think Ball, que agencia a carreira do jogador, entrou na Justiça pedindo a penhora de parte do contrato com a Vitton 44 por causa de uma dívida de cerca de R$ 60 mil. Entre 2010 e 2011, o atleta disputou 12 jogos e marcou um gol pelo clube. Em resposta à ação, revelada pelo site da ESPN, o Vasco disse que ''como uma bola de neve, a situação se agrava a cada dia, tornando cada vez mais difícil a continuidade do clube. O risco de prejuízo irreparável é inegável''. A mesma Think Ball cobra R$ 185 mil da passagem do meia Douglas, hoje no Grêmio, pelo clube também a título de agenciamento e intermediação na contratação.

Caique jogou no Vasco entre 2010 e 2011A prática de se colocar em posição de fragilidade é comum entre departamentos jurídicos de clubes de futebol, que aguardam ansiosamente pela sanção da MP do Futebol, que vai alongar as dívidas fiscais e tributárias com o governo de cinco para 20 anos. Hoje, por mês, especula-se que quase R$ 3 milhões sejam apenas para acordos estaduais e federais que entrariam na conta dessa renegociações e ficariam bem mais suaves a cada mês.

- O caso do Caíque é coisa de comissionamento da transação. Essa mesma empresa também trabalha com o Douglas. Fora as confissões de dívida que foram feitas nas vésperas da mudança que diretoria. Cada dia aparece algo novo. Temos um mutirão de pessoas trabalhando na área fiscal, cível, trabalhista... Esperamos conseguir regularizar boa parte dos problemas nesse primeiro mandato, mas não é fácil.

Os acordos trabalhistas custam ao clube R$ 575 mil por mês. A dívida com o Tribunal Regional do Trabalho do Rio de Janeiro chega quase a R$ 31,5 milhões. Ela só será quitada no fim de 2019 caso o clube consiga pagar em dia. Os problemas com a União por créditos públicos em dívida ativa representam quase R$ 63 milhões. Só essa dívida tira dos cofres vascaínos mais R$ 1,2 milhão por mês. Já os valores referentes às cotas de televisão estão quase todos penhorados ou adiantados.

A segunda parcela do novo contrato de patrocínio com a Caixa, cerca de R$ 4 milhões, entrará nos cofres em setembro. A primeira foi logo após a renovação no fim de maio e a terceira virá em janeiro de 2016. Com os problemas que surgem a cada dia, o Cruz-Maltino tem recorrido a pequenos empréstimos e ajuda de empresários para deixar os salários em dia. Nos últimos dois meses, o pagamento não saiu no dia 10, mas caiu na conta dos funcionários pouco depois.

Do contrato com a Umbro, o clube só vai voltar a receber em novembro. No ano passado, houve adiantamento na assinatura do contrato - que previa a quantia de R$ 400 mil por mês. Recentemente, no entanto, a fornecedora pagou a premiação prevista pelo título estadual. O acordo com a Vitton 44 é um dos poucos que entra no cofre do clube mensalmente. O valor para a temporada 2015 chega a R$ 7 milhões - divididos por meses desde a assinatura. Em 2016, a previsão é de R$ 11 milhões.



Fonte: GloboEsporte.com