Ainda na ativa aos 36 anos, Jonílson relembra parcerias com Romário, Edmundo e Pedrinho no Vasco

Quarta-feira, 29/07/2015 - 12:56
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Jonílson, então no Vasco, marca Iarley, do Inter"Quando eu entrava em campo, até me arrepiava na hora que a torcida do Atlético-MG cantava: 'Jooooo-níííííl-são....Show! Show!'".

Essa é uma das melhores lembranças de Jonílson Clóvis Nascimento Breves, o popular "Shownílson", volante revelado pelo Volta Redonda e com passagens por Botafogo, Cruzeiro, Vasco, Atlético-MG e Goiás, entre outras equipes. Lembra dele?

Aos 36 anos, ele segue na ativa, hoje atuando pelo Doze FC, do Espírito Santo, time que funciona em sistema de crowdmanaging, ou seja, os torcedores é que escolhem quem vai entrar em campo, além de decidirem quem sai e quem fica no plantel para a próxima temporada.

Jonílson, porém, não tem muito com o que se preocupar.

Com seu sorriso largo e conhecido carisma, além do futebol ainda em dia, ele é um dos favoritos dos sócios-torcedores do Doze. Já está garantido no elenco para o ano que vem, além de ter sido titular durante a recente campanha do acesso à elite do Capixabão.

O veterano também é um dos prediletos da comissão técnica, formada pelos ex-vascaínos Carlos Germano e Sorato, que já conseguiram subir de divisão no Estadual mesmo em um time com menos de um ano de existência.

Fora isso, "Shownílson", como o atleta é conhecido desde os tempos de Atlético-MG, entre 2009 e 2010, é um verdadeiro sucesso de marketing. No Instagram oficial do Doze, uma camiseta que provoca Cristiano Ronaldo já é o ítem mais pedido pelos fãs da equipe.

Na peça, o slogan faz menção à frase lançada pelo Manchester United quando CR7 ainda jogava pelo time inglês: "There is only one Ronaldo", ou "Existe apenas um Ronaldo", uma provocação à "rivalidade" entre o português Cristiano Ronaldo e o brasileiro Ronaldo "Fenômeno".

Para o Doze FC, porém, "There is only one Jonílson".

"Eu nunca tinha virado frase de camisa antes, não (risos). É muito bom estar em um lugar onde as pessoas têm carinho por você. Fico feliz demais quando vejo que gostam de mim. Está todo mundo pedindo pra lançarem logo a camisa. Ronaldo tem vários no futebol, mas Jonílson só existe eu (risos)!", brinca o volante, em entrevista ao ESPN.com.br.

E quem é o mais bonito?

"Aí você quer me quebrar, né (risos)? O Cristiano é mais bonito do que eu, parece até ator de novela da Globo, mas eu sou muito mais simpático (risos). É nessas horas que eu ganho, todo mundo que chega para mim fala que sou humilde e trato todos bem", diverte-se.

Da infância pobre a perdido no Japão

Nascido em 28 de novembro de 1978 em Pinheiral, no Rio de Janeiro, Jonílson teve infância humilde. No entanto, lembra dos tempos difíceis sempre com bom humor.

"Minha história é um pouco triste... Eu era muito pobre mesmo, perdi meus pais cedo e trabalhei desde criança para ajudar a família. Eu brincava que, em casa, não sabia aonde chovia mais: se dentro ou fora de casa (risos)", relata.

Bom de bola, ele começou no Volta Redonda em 1995, defendendo a equipe aurinegra por sete anos. Em 2005, acertou com o Botafogo e começou a melhorar de vida.

"No Fogão, a comida era muito boa (risos). Tinha tudo do bom e do melhor, uma mistura 'fera' no arroz com feijão, frutas, muita coisa. Eu cheguei magrelo, aí comecei a ficar mais parrudo, e a turma perguntava: 'Como foi que você ficou tão fortinho?'. Eu respondia: 'Agora eu estou comendo melhor, né?'", conta.

Foi nos tempos de "Estrela Solitária" que Jonílson ganhou um dos apelidos pelo qual é conhecido no meio da bola: Panela. Ele mesmo explica o motivo.

"Cheguei lá e só tinha caras de nome, você fica meio tímido, como eu ia falar com os caras que só via pela televisão? Tinha Caio Ribeiro, Guilherme, Jefferson, Ramon, Scheidt, e só podiam sentar os caras na mesa, mais ninguém. Daí como sou cara de pau, falei para rapaziada: 'Preciso entrar nessa panela, né?'", narra.

"Um dia, sentei à mesa dos caras antes de todo mundo numa cadeira vazia, todo mundo tinha medo de fazer isso. Falei: 'Daqui vocês não me tiram mais, porque a partir de agora eu vou entra nessa panela. Vão ter que me respeitar!'. Daí os caras morreram de rir e eu nunca mais saí, virou até meu apelido (risos). Toda vez que eu encontro essa rapaziada eles falam: 'E aí, Panela, tudo bem?'", lembra.

Ao fim de 2005, o volante trocou o Botafogo pelo Cruzeiro. Apesar de ter sido campeão estadual, não ficou muito na Toca da Raposa, já que, em 2007, foi vendido ao Vegalta Sendai, do Japão, e foi viver suas aventuras no Oriente. Dessa época, guarda histórias saborosas.

"Quando cheguei ao Japão, tudo era igual: casas, apartamentos, até as pessoas (risos). No primeiro dia, meu intérprete me levou numa loja e disse: 'Você esta perto de casa, daqui para frente é por sua conta', e foi ajudar um outro brasileiro. Saí da loja e fui andando, mas nada de achar minha casa. Passaram umas cinco horas, aquele frio danado e caindo neve, minha mão congelando, e quem disse que eu achava minha casa? Entrei em desespero", relembra.

"Eu não sabia falar nada em japonês, mas voltei pra loja e comecei a fazer mímica para ligarem pro telefone do cartãozinho que eu tinha do intérprete. Ele atendeu e eu gritei: 'Mermão, você me deixou num lugar que eu não conheço porra nenhuma e todo mundo é igual'. Daí ele veio me ajudar, minha casa não ficava três minutos da loja, mas como era o primeiro dia eu não sabia nada! Foi uma vergonha (risos)'", gargalha.

É assim, sempre rindo, que o boleiro leva a vida.

"Todo lugar que eu vou é assim, sempre me divertindo. A maioria das pessoas brinca comigo porque eu não esquento a cabeça com brincadeira e tenho uma lábia boa com o pessoal. Sou carioca, né? Em dois minutos, a gente te vende até um carro (risos)."

"Show, Show"

Depois do Japão, Jonílson foi contratado pelo Vasco, clube que defendeu em 2008. "Dessa época, guardo muita amizade com o Pedrinho, Romário e o Edmundo. Eles me chamavam de Dez, porque eu falo sempre isso, 'E aí, nota 10?'", conta.

No ano seguinte, disputou o Campeonato Paulista pelo Botafogo-SP e depois acertou com o Atlético-MG, equipe que defendeu entre 2009 e 2010, ganhando um Campeonato Mineiro. Pela raça e pelo carisma, virou xodó da torcida, e ganhou até música no rítmo de "Quero Chiclete", da banda "Chiclete com Banana".

"Nessa época que surgiu o apelido de 'Shownílson'. A brincadeira começou no vestiário, porque eu brincava falando: 'Hoje eu vou dar show, vai ter show'. Daí uma simples brincadeira que surgiu entre os jogadores acabou indo para a torcida. Foi uma coisa fora do comum!", recorda.

"Quando eu entrava em campo, até me arrepiava na hora que a torcida cantava: 'Jooooo-níííííl-são....Show! Show!'. E virou 'Shownílson', mesmo, ninguém me chamava pelo nome, ou era 'Show' ou 'Shownílson'", acrescenta.

Entre a turma da bola, o meio-campista também ficou conhecido por suas superstições. Jonílson tem uma série de rituais que sempre segue antes e depois das partidas.

"Todo mundo tem mania e superstição, é coisa de brasileiro, né? Sempre que eu acordo, saio da cama com o pé direito no chão, só entro em campo assim também. Também sempre repito a mesma chuteira quando vou bem até a sorte virar, assim como a cueca. Se estamos ganhando, vou repetindo até mudar. Claro que eu poupo as cuecas dos treinos, só uso em jogos (risos). Não gosto de passar embaixo de escada nem a pau, e nunca cumprimento ninguém com a mão esquerda", relata.

Folclórico, o volante garante que, sempre que encontra torcedores dos clubes pelos quais passou, recebe pedidos para voltar. E, assim, vai dando seus toques finais na bola, até a aposentadoria, que, ao que parece, está muito longe de acontecer.

"É sempre muito legal esse carinho da torcida. Em todo lugar que vou, sempre me falam: 'Poxa vida, você poderia voltar ao meu time'. Pedem para tirar foto comigo, é o maior barato! A maior alegria que um jogador pode ter é esse carinho, porque significa que você fez um trabalho bem feito", encerra "Shownílson".



Fonte: ESPN.com.br