Uma hora antes do jogo, Paulo Paixão, solitário, surgiu no verde imenso do gramado do estádio Mané Garrincha. Medindo passos largos, arrumou doze discos na área central. Depois, foi até bem próximo do banco com sete discos na mão, que colocaria na área restrita do técnico. Ouviu chamada de torcedores, acenou e voltou para o serviço. A rotina é a mesma há mais de 30 anos anos e nesta quarta-feira, muito antes da derrota por 4 a 0 para o São Paulo, o dia começava diferente para Paulo Paixão. Preparador físico do Brasil na Copa, ele arrumava o seu material de trabalho no campo bem pertinho de uma cartolina de torcedor com os dizeres "7 a 1 foi pouco".
Um ano depois da derrota que estampou cada jornal e site e foi repercutida em rádio e TVs nessa quarta, Paixão viveu um sabor amargo na sua segunda derrota pelo Vasco, com Celso Roth. Seu atual time lhe proporcionou uma verdadeira versão vascaína do 7 a 1 alemão.
Com um dos currículos mais invejáveis do futebol brasileiro, Paixão foi campeão do mundo em 1994 pela seleção brasileira, tri da Libertadores - Grêmio, Palmeiras e Internacional -, além de outros títulos nacionais, sul-americanos e estaduais. Depois da Copa e da queda de desempenho com o Grêmio no fim do ano passado e a irregularidade da equipe com Felipão neste ano, ele não acompanhou o amigo na China, mas encarou o desafio de acompanhar Celso Roth na missão de evitar o terceiro rebaixamento do Vasco.
Mais cedo, foi reconhecido por hóspedes do hotel, que lhe viram sair cedo para caminhar. Não quis fazer entrevista sobre o primeiro aniversário da terrível derrota brasileira na Copa do Mundo do ano passado. Aos 64 anos, o preparador físico, que passou pelo Vasco no início da carreira - trabalhou com os juniores em 1987 -, vai além de suas atribuições e se mostra importante na conversa do dia a dia com atletas. O atacante Gilberto, que não marca há 13 jogos, teve a voz da experiência de Paixão ao ouvido durante o aquecimento.
Durante o jogo, em meio aos gols são-paulinos no primeiro tempo, tentou animar os reservas e manteve Rafael Silva em movimento quando a alteração, aos 27 minutos, demorou para sair:
- Corre de um lado para o outro aí! Tá frio, vamos, se movimenta - gritou para o atacante.
No segundo tempo, assistiu, pasmo como todo o estádio, à sequência de gols perdidos pelo atacante colombiano Riascos. Com o banco todo em aquecimento, fazia movimentos automáticos com a mão direita, pedindo para que os jogadores continuassem o aquecimento, mas de pouco prestava. A derrota por 3 a 0 - antes do gol no útlimo minuto dos paulistas -, as chances incríveis desperdiçadas pelo Vasco, que já diminuía o ímpeto de uma reação frustrada, o grito de "olé" dos rivais e as provocações deixavam os olhares dos jogadores atordoados.
Um ano depois, num palco de Copa do Mundo, contra uma equipe superior tecnicamente, com outras coincidências - atuações ruins de zagueiros (David Luiz no Brasil; Rodrigo pelo Vasco), chances perdidas no início do segundo tempo em momento crucial para reação; protestos de torcedores -, Paixão foi com Roth para o vestiário com a sensação que a Copa do Mundo do Vasco este ano é não cair novamente para a Segunda Divisão do futebol brasileiro.
Fonte: GloboEsporte.com