Cerca de duas semanas depois de ter feito história, ajudando o Golden State Warrios a superar o Cleveland Cavaliers e a erguer o troféu da NBA pela segunda vez (1975 e 2015), e de ter-se tornado o segundo jogador brasileiro campeão da liga — depois de Tiago Splitter, campeão em 2014 pelo San Antonio Spurs —, o ala-armador Leandrinho está de volta ao Brasil. Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, no Rio, não deixou de comentar a crise entre a Federação Internacional de Basquete (Fiba) e a Confederação Brasileira de Basquete (CBB). A entidade internacional cobra da nacional uma dívida de US$ 1 milhão (R$ 3,2 milhões) e ameaça não garantir as vagas das seleções brasileiras masculina e feminina nas Olimpíadas Rio-2016, como país-sede. Com isso, é possível que as equipes nacionais tenham de se classificar nos respectivos pré-olímpicos.
— Sobre a situação da seleção, não estou sabendo direito, mas estou à disposição, independentemente do que tenha de acontecer. Esperamos que o melhor aconteça, porque as Olimpíadas serão dentro da nossa casa, e todos nós atletas queemos estar presentes. Estamos dispostos ao que der e vier — afirmou, antes de prosseguir. — É muito difícil ter o privilégio das Olimpíadas no nosso país. É como a Copa do Mundo para os jogadores de futebol. Se tivermos de nos classificar (no Pré-Olímpico), vamos nos classificar, e queremos medalha!
Indagado se houve algum jogo inesquecível pela seleção, Leandrinho disse que todos foram:
— Vestir a camisa da seleção pela primeira vez foi um sonho, e outro sonho é a medalha olímpica.
Enquanto o pódio olímpico ainda é um projeto para o futuro, o camiseta 19 do Golden State Warriors ainda se sente sonhando quando se lembra da fantástica série em que seu time bateu o Cleveland, de LeBron James, por 4 a 2, ganhando o sexto jogo na casa do adversário.
— Estou muito feliz. Foi uma conquista muito importante, depois de 12 anos na liga, correndo atrás disso. Lutamos muito, eu e minha família, e o objetivo foi atingido — declarou ele, acrescentando que tem interesse em permanecer no Golden State e o clube espera contar com ele para a próxima temporada.
Quanto ao anel dado aos campeões da liga, o ala só irá recebê-lo no começo da próxima temporada, quando o time fizer o primeiro jogo em casa.
— Ainda é difícil imaginar que consegui ganhar o anel. É um sonho realizado. Tantos grandes jogadores, como Karl Malone, Reggie Miller e meu amigo Steve Nash, que deve estar morrendo de inveja, tentaram, mas não conseguiram. Eu já vi imagens de como será o anel e fico pensando: ‘Consegui.’
Sobre sua participação na equipe, ele, que começava no banco, agradeceu à confiança do treinador Steve Kerr, que contava com o brasileiro especialmente para os playoffs. No elenco, ele é amigo dos astros Stephen Curry (melhor jogador da temporada), Klay Thompson e Andre Iguodala (melhor jogador da série final).
— Muitas pessoas não acreditavam no potencial e no talento do Golden State. É um grupo de atletas bem jovens, não tão experientes, mas que fizeram glórias acontecerem na cidade de Oakland. Quando eu havia dito que nosso time poderia ser campeão, não falei isso à toa. Já estou há 12 anos na NBA, e o time encaixou dentro da quadra, teve uma organização muito forte fora dela, e foi tudo na direção certa. — comentou.
Para os amigos e companheiros de equipe Curry, Thompson e Iguodala, o camiseta 19, um dos líderes do grupo, reservou os maiores elogios.
— Curry é muito simples, alguém super na dele. Uma vez perguntei a ele se ele tinha noção do que estava fazendo na liga, e ele disse que não. Então, eu lhe disse que continuasse daquele jeito. Ele não tem noção do que fez, e acho que só terá mais tarde. É alguém muito simples, que ainda dará muitas alegrias à NBA. O Klay (Thompson) não tem medo de errar. Se ele erra, continua arremessado. É muito frio, o jogador mais frio ao lado de quem eu já estive. Aprendi muito com eles — comentou, antes de falar sobre como Iguodala cresceu nas finais. — Ele é muito importante no time. Enfrentou muitas dificuldades, e eu sou uma espécie de braço direito dele. Passou por uma experiência nova, a de começar nobanco. Muitas vezes aconteceu de ele não se sentir confiante, eu conversava com ele, e às vezes, ficávamos treinando até mais tarde no ginásio. Ele é a nossa bússola na defesa e fez a marcação sobre LeBron.
Mesmo reconhecendo todo o talento do superastro americano, capaz de jogar nas cinco posições em quadra, Leandrinho acredita que LeBron e o Cleveland tenham sentido um cansaço ao longo da série decisiva.
— Quando Cleveland fez 2 a 1 na série, nós nos eunimos no vestiário. O grupo estava pra baixo, e nós não sabíamos como parar o LeBron. Eu falei, Iguodala falou, e foi quando os técnicos resolveram começar com Iguodala jogando e puseram Bogut no banco. Quando empatamos a série em 2 a 2, vimos que iriamos ser campeões, porque o LeBron e o time dele começaram a se cansar. Como o intervalo de descanso entre os jogos era curto, nós jogamos na base da correria, e eles não tinham mais perna no último quarto para nos enfrentar — analisou.
Sobre as Olimpíadas de 2016, os companheiros americanos querem saber como é o país.
— Curry e Klay têm muita vontade de vir. Temos uma aposta — riu. — Não vou revelar, e eles estão ansiosos para vir. Eles têm muita vontade de ir à praia, de verem as mulheres bonitas e as belezas do país.
Segundo Leandrinho, a conquista teve a colaboração de outro brasileiro, o fisioterapeuta Alex Evangelista, que foi aos EUA cuidar dele e tratou também de lesões de outros jogadores, como Curry e Klay Thompson.
— Quando rompi o ligamento do joelho (esquerdo, em fevereiro de 2013, quando cheogu a ser dado como acabado para o esporte), tratei com o Alex Evangelista, hoje no Vasco. Ele e o Cláudio Baiano me ajudaram muito, e eu me recuperei. Nesta temporada (em fevereiro para março), o Alex foi lá (em Oakland) para tratar de mim. Algumas vezes, o Curry e o Klay estavam com algumas lesões e se tratavam com ele também. A equipe médica e de preparadores físicos do Golden State aceitou o trabalho dele muito bem, e até pensei de o Ales ter algum problema com o Vasco porque ele tinha ido me atender lá — relatou o ala.
No Brasil, Leandrinho está apoiando o projeto de difusão do basquete 3x3 (trincas) do ex-jogador de basquete e ex-BBB Fernando, nos núcleos da Cruzada São Sebastião, no Leblon, e do Cesarão, em Santa Cruz, onde 220 crianças já vêm sendo atendidas. O projeto está em fase de captação de recursos para que possa ser ampliado, visando à formação de uma grande escolinha específica para a modalidade de trincas.
Fonte: O Globo Online