Doriva foi jogador de nome, campeão mundial pelo São Paulo. Celso Roth, quase não virou profissional, atuou apenas no Juventude. Como treinador, o primeiro faz o estilo de atleta: usa bermuda, participa dos treinos e mostra a disposição de quem sente saudade da bola. O novo comandante do Vasco, porém, veste calça, não arrisca passes ou dribles e faz questão de manter o ar professoral. Este fala palavrão, cobra, quase nunca ri no trabalho. O antigo era sorridente, educado ao extremo e incentivador. Bastaram três dias para as diferenças no estilo de comandar ficarem evidentes no Vasco. Saiu o calmo, entrou o pilhado. É assim que o Cruz-Maltino se prepara para enfrentar o Flamengo, domingo, e tentar começar a mudar a realidade no Brasileirão.
Antes mesmo da apresentação, a mudança de personalidade do treinador pautava a cabeça dos vascaínos. O presidente Eurico Miranda, por exemplo, resumiu o que iria acontecer em São Januário:
- Celso tem o estilo dele, tem mais peso no contato com os jogadores. Isso não tem dúvida. O Doriva conquistou o respeito. O Celso não precisa disso, não tem de conquistar nada. Ou gostam ou não.
Foi o que se viu. Evangélico, Doriva, em seis meses de Vasco, falou, no máximo, dois palavrões, de acordo com quem conhece o dia a dia do clube. Ao se dar conta, em ambos os casos, pediu desculpas.
- Saí da minha graça - disse, constrangido.
Em dois treinos abertos à imprensa, Roth, católico, abusou. Foi impossível contar. Cada cobrança veio com expressões comuns ao meio do futebol. É a maneira dele mostrar a hierarquia. Manter a disciplina. E trabalhar o time. Foi no passado, se mantém no presente.
- Celso Roth foi um profissional que me ensinou muito. No período em que trabalhei com ele foi onde evoluí muito como jogador de futebol. Me ensinou a ter a disciplina no trabalho. É um grande treinador - resume o ex-lateral-esquerdo Roger, atual treinador do Grêmio, onde, na época de atleta, trabalhou duas vezes com o agora comandante do Vasco.
É por isso que os sorrisos de Doriva deram lugar à expressão fechada de Roth. Doriva incentivava. Era o “vai”, o “chega” ou o “isso” nas poucas vezes em que se ouvia a sua voz. Até brincava, como em Mangarativa ao cobrar faltas e ao jogar altinha em São Januário (veja no vídeo acima). Roth prefere outro tipo de orientação, como o visto no treino de quarta-feira.
- Tem de ter mais seriedade - disse a Jordi após dois erros na reposição de bola.
- Quero ver se vocês vão ter ‘colhão’ para fazer o que mandei - berrou aos titulares.
- Se errar o gol, vou te mijar - falou a Jhon Cley.
- Eu ‘sabo’? - e emendou um palavrão ao reclamar do erro de português de Rafael Silva ao responder que sabia executar a marcação pedida no treino.
Até as entrevistas são diferentes. Doriva riu inclusive na sua despedida do Vasco. As respostas, porém, eram mais curtas. Roth detalha os temas, como visto na primeira. E, sabedor do próprio histórico, disse esperar não ter problemas com os jornalistas.
Em último colocado, o Vasco volta a treinar nesta quinta-feira. O Flamengo é o rival de domingo.
Fonte: GloboEsporte.com