Palco de lazer dos cariocas e de disputa dos Jogos Olímpicos de 2016, a Lagoa Rodrigo de Freitas tem sofrido recentemente. Não apenas com poluição. Mas, principalmente, com os casos de violência. Ataques com facadas, relatos de adolescentes em busca de uma presa fácil. Habitat de remadores de Botafogo, Flamengo e Vasco, a Lagoa deixou de ser segura. E preocupa. Diante da cultura do medo instalada, rotinas dos atletas acabaram alteradas.
Independentemente da experiência dos atletas, o receio com a situação é generalizado. Desde garotos dos três clubes cariocas até a experiente Fabiana Beltrame, remadora do Vasco, com três Jogos Olímpicos no currículo e rumo à sua quarta participação, em 2016. Aos 33 anos, Fabiana se cerca de cuidados no dia a dia.
"A preocupação agora é constante. Vou treinar todos os dias de bicicleta e continuo indo, mas agora sempre tomando mais cuidado. Também procuro andar com uma bicicleta mais velha, para não chamar atenção", diz a remadora.
Em maio, os relatos de incidentes explodiram. Um jovem remador do Flamengo, Felipe Schuchmann, de 14 anos, foi esfaqueado no ombro em um assalto de uma manhã de sábado. Dias depois, o incidente mais grave: o médico Jaime Gold, de 57 anos, foi atacado e morto a facadas enquanto andava de bicicleta na Lagoa. Tudo a metros da sede náutica do Botafogo.
"Os casos não são tão recentes. Alteraram nossa rotina, sim. Suspendemos os treinos antes de 6h, os atletas só correm em grupo. Falamos para que não andem com cordões, relógios, telefones caros. Os assaltos se multiplicaram há algum tempo", disse Alexandre Fernandez, conhecido como Xoxô, técnico de remo do Botafogo.
O impacto na rotina também alterou os planos dos remadores do Flamengo, que tem a sede náutica localizada exatamente em frente à Gávea, em lado oposto à sede botafoguense. Nem por isso, no entanto, o cuidados são menores.
"A rotina foi alterada sutilmente. Os treinos de sábado, quando os mais jovens treinam pela manhã, passou de 6h para 8h. No restante da semana eles treinam a tarde. Foi solicitado ao grupo todo que evitem sair sozinhos dos treinos e, sim, em grupos. Como está escurecendo mais cedo, os treinos têm de acabar às 18h", disse Edson Figueiredo, supervisor técnico do remo do Flamengo.
Imagem arranhada e perguntas de atletas estrangeiros
Em 2016, a Lagoa Rodrigo de Freitas será sede das competições de remo e canoagem nos Jogos Olímpicos. Em 2013, o britânico Steve Redgrave, pentacampeão olímpico de 1984 a 2000 no remo, visitou a sede náutica do Botafogo e praticou com os jovens. Teceu até elogios ao local. Mas, à época, notícias de ataques violentos, com ou sem faca, não faziam parte da rotina.
Em contato frequente com a comunidade olímpica, Fabiana Beltrame garante que, até o momento, não foi questionada especificamente sobre a violência na Lagoa, mas, sim, sobre casos em toda a cidade. Em outros países, os atletas já ouvem recomendações sobre a dita Cidade Maravilhosa.
"Acredito que isso tem um impacto muito negativo, porque muitas atletas já estão sendo avisados para não passear pela cidade. Para virem para competir e voltar. Não sei se alguém que planejava assistir aos Jogos, mudou de ideia. Mas é de se pensar. Não me questionaram sobre a violência (na Lagoa), mas, para ser sincera, fico bem apreensiva, torcendo para que não aconteça nada de grave durante os Jogos", disse Fabiana Beltrame.
Já Xoxô, técnico do Botafogo, lembra que foi procurado por amigos com a propagação da violência na Lagoa.
"Falei com uma remadora portuguesa e el disse que na cidade do Porto só se falava disso. Eles não entendiam como podem tirar uma vida por causa de uma bicicleta. Amigos argentinos também me escreveram muito impressionados", disse Xoxô.
Na última semana, a reportagem da ESPN.com.br esteve na Lagoa. Segundo frequentadores e comerciantes, o policiamento no local aumentou diante da divulgação dos frequentes ataques, com policiais em bicicletas, a pé ou em carros estacionados.
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Fonte: ESPN.com.br