Nilson Gonçalves fala sobre o trabalho na base do Vasco

Terça-feira, 16/06/2015 - 14:24
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Philippe Coutinho, do Liverpool, e Alex Teixeira, do Shakhtar Donetsk, ambos com passagens por seleções brasileiras, o primeiro deles com belas perspectivas. São crias de São Januário. O primeiro está na Copa América. Encontrar nas divisões de base novos jogadores como os dois, entre outros tantos revelados pelo clube, é a esperança vascaína para, pelo menos por algum tempo, ter um time profissional mais forte. E em seguida faturar com transferências internacionais para superar em parte sua difícil situação financeira. Mas o difícil momento do time dificulta os planos.

"Começamos em dezembro, fizemos reavaliação dos atletas, colocamos todas as categorias de férias ficamos com os juniores. Preparamos o grupo para Copa São Paulo depois de 30 dias treinando e time foi até bem na Copinha. Caiu para o Cruzeiro mas deixou boa impressão, inclusive pela presença de atletas novos, dentro da proposta do presidente de formar jogador para atuar em cima. Não adianta só o time de juniores ser bom", raciocina Nilson Gonçalves, diretor das divisões de base do Vasco da Gama.

Ao falar sobre os planos e a estratégia do seu departamento, o dirigente faz referência a Eurico Miranda, de quem é seguidor fiel, com ele trabalhando há muitos anos. Hoje atua diretamente com um dos filhos do presidente, Álvaro, que coordena a base vascaína e é formado em Educação Física com especialização em gestão de futebol. "A idéia é aproveitar um ou dois entre os profissionais ainda em 2015. Mas o momento não é bom para isso, quando as coisas estiverem melhores, eles vão subir. O Gabriel Félix, goleiro, já ficou no banco neste Campeonato Brasileiro", cita Gonçalves, que tem ao lado o experiente Isaías Tinoco como gerente de futebol amador, espécie de conexão entre a base e o elenco profissional.

Nilson afirma que o Vasco tem mais dois a três jogadores à espera de uma oportunidade e que essa é a prioridade. Próximos a subir também estariam Cadu (zagueiro), Barbosa (volante) e Renato Kayser (atacante), a estrela de sua geração. "Ele depende do aval do treinador, os quatro podem ser promovidos a qualquer momento", garante o diretor. Para 2016, antecipa, o Vasco tem mais quatro ou cinco jovens que pretende projetar até o time profissional. "A idéia do presidente é aproveitar os jogadores em cima. A não ser que apareçam propostas e não possamos segurar..."

E se aparecerem o clube ficará feliz. Pois precisa de dinheiro. Por isso, o dirigente fala com empolgação sobre os que se destacam. "Nosso foco maior é no mirim com mais de cem que estamos trabalhando, analisando aspectos como saúde, crescimento, intelecto, situação social, para formá-los. Como Allan Kardec, Philippe Coutinho e Souza", cita. De fato, os dois hoje são-paulinos revelados na Colina são articulados e bem desembaraçados nas entrevistas. Muitos deles passaram pelo Colégio Vasco da Gama, hoje com cerca de 350 alunos, segundo o clube.

"Agora introduzimos aulas de inglês. Entre os matriculados tem atleta do futebol, futsal, meninas inclusive, cerca de 30 do time Sub-17; atletismo e basquete. Mas a maioria é do futebol, com uns 200 meninos. Temos primeiro e segundo graus, inclusive alguns já participam do Enem e estão buscando alternativa para fazer a faculdade", relata Nilson Gonçalves. A idéia, diz, é desenvolver novas referências, como o zagueiro Luan, formado no clube e titular na campanha do título estadual. "É um líder nato, queremos que seja referência para os demais", cita.

Entre esses possíveis destaques futuros, além de Kayser mais próximo do profissional, está Evander. Nascido em 1998, ele tem apenas 17 anos, juvenil na idade e titular entre os juniores e na seleção Sub-17. "Vem jogando numa categoria acima da dele e bem. É um meia-atacante que de acordo com o próprio desenvolvimento poderá ser aproveitado como meia ou caindo pelos lados, mas que chega na frente e faz gols", analisa. A expectativa é que ele tenha as primeiras chances no profissional no final do ano que vem, quando não terá mais do que 18 de idade.

Outro da mesma faixa etária e menos maduro ainda, mas também promissor é o Matheus Pet, em São Januário há 12 anos e que tem só 17. Aluno do Colégio Vasco da Gama, chegou à Seleção Brasileira Sub-15. "Mas queremos mudar o nome dele", revela Nilson. Mesmo tendo defendido o Vasco, Petkovic tem forte ligaçao com o Flamengo. "A mudança seria para não ficar uma carga muito grande em cima dele. É muito criativo, um camisa 10", completa. Outro que é juvenil e está sendo puxado para os juniores é o atacante Hugo, também de 1988, como Alan e Andrey.

"A meta é formar os garotos e queríamos não depender financeiramente de vender para que joguem pelo profissional por ao menos dois anos. Mas sabemos que pode aparecer uma proposta irrecusável da Europa e aí não há como segurar. As necessidades são grandes. Quando há o assédio de fora vem uma pressão intensa até da família", conta o dirigente. Para ele, os garotos dos juniores precisariam de pelo menos dois anos e os juvenis quatro anos, para jogar no time profissional por algum tempo. Entre a teoria e a prática vai boa distância.

Na tentativa de fortalecer sua base, o Vasco entrou numa batalha com o Fluminense por causa de Paulo Vítor, de apenas 15 anos. "O pai do garoto nos procurou dizendo que o filho queria retornar a São Januário, então acertamos a volta dele para cá quando estava sem receber", alega Nílson. Os tricolores, claro, discordaram. Ao final a CBF os indenizou. "Recebemos R$ 1,5 milhão. Se considerarmos que tem 16 anos não deu um chute no profissional, é um bom valor. Se virar grade jogador, deixará de ser", analisa Fernando Simone, diretor executivo e ex-gerente da base do Fluminense.

A ação do Vasco tirando o jogador do rival gerou um boicote de outros clubes antes de o tme de São Januário disputar a Copa Nike. "Isso passou, temos o contrato de formação dele, que está jogando no juvenil, o Sub-17. Como fará 16 anos dia 24 poderemos firmar um contrato profissional", acrescenta Nílson, cheio de promessas e esperanças. Mas sem o ambiente adequado para lançar jovens. Entre os quatro piores do Campeonato Brasileiro após sete rodadas, seria o mesmo que colocar os meninos na frigideira. Um dilema, sim. Mas nesses rapazes está a esperança do Vasco.

Fonte: Blog Mauro Cezar Pereira –- ESPN.com.br