O passado ainda está bem vivo no coração do ex-volante Vitor. A sua bela casa na pacata Governador Portela, distrito de Miguel Pereira, abriga um acervo pessoal digno de museu. São dezenas de fotografias, recortes de jornais, faixas de títulos e uma coleção com mais de cem camisas de futebol. Relíquias guardadas ao longo de 19 anos de carreira desde que o garoto de Portela saiu da cidade serrana para vingar no futebol. E Vitor foi longe. Não só vestiu a camisa dos quatro grandes do Rio, como ganhou o mundo. Em seu currículo constam o Mundial Interclubes de 1981, uma Libertadores e três Brasileiros pelo Flamengo; o Carioca de 1989, que pôs fim a um jejum de 21 anos sem título do Botafogo , além da conquista do Carioca de 1987 pelo Vasco.
Não é difícil entender tanto sucesso. Marcador implacável, o ex-jogador também sabia sair para o jogo e marcar gols. Fã do seu futebol o célebre técnico Telê Santana um dia o comparou ao genial Beckenbauer.“
Telê gostava da minha dedicação. Dizia que a minha forma de jogar lembrava o Beckenbauer. Eu pensava, mas o que será esse tal de Beckenbauer? Um posicionamento tático? Sei lá, a gente que é do mato, né! ? Na época não é como hoje que temos acesso a tudo. Depois fui saber que era um baita jogador alemão”, gargalha exibindo uma relíquia. A camisa 6 do craque alemão quando ele jogava no Cosmos.
“No jogo de despedida do Carlos Alberto (tricampeão mundial) troquei minha camisa com o Beckenbauer. Pedi para contarem que um treinador havia me comparado a ele”, relembra orgulhoso.
Garoto de Portela
Avesso à badalações e fiel às raízes, Vitor não teve dúvidas quando encerrou a carreira no Campo Grande, em 1997. Voltou com a família para Governador Portela, estância climática, dona de um dos melhores climas do planeta. Cercado por belas matas, cachoeiras, hoje ele leva uma vida bem simples. Acorda bem cedo, às 6h, corre no entorno do Lago Javary, cartão postal da região, e depois, caminha sem pressa pela cidade revendo amigos de infância. Vez ou outra, para em frente a casa de número 16 da Vila Operária, onde nasceu, cresceu e viu o pai, seu Norberto, criar os cinco filhos com o salário de telegrafista da estação ferroviária.
“Aprendi com ele a telegrafar. Meu pai era tão bom que pegava de ouvido. Eu também fui ferroviário, mas trabalhava na oficina como caldeireiro. Soldava, montava trilhos, fazia pontes. Doeu quando a estação foi desativada. A partir daí, Portela parou no tempo,”lamenta.
Após seguir a carreira de técnico em clubes modestos como Angra dos Reis, Tombense, Goytacaz e Paraíba do Sul, hoje Vitor está praticamente aposentado. Até janeiro deste ano coordenava a escolinha do lateral Léo Moura, em Paraíba do Sul. No ano passado se candidatou a vice-prefeito pelo PTB.“Perdi a eleição por muito pouco, mas não desisti do projeto de tirar a criançada da ruas através do esporte. Se pudesse montaria um time de futebol”, garante o ex-jogador que é filiado ao PSB.
Muito conhecido em Portela, o ex-volante é chamado nas ruas por vários nomes. Vitor do Flamengo, Vitor do Botafogo, Vitor do Vasco e Vitor do Fluminense. Mas afinal qual é seu time de coração?
“O que tenho menos ligação é o Fluminense. Tive uma passagem marcante no Flamengo onde ganhei praticamente tudo. O título de 1989 do Botafogo também foi especial”. Na bela campanha alvinegra, Vitor marcou um gol inesquecível no empate em 3 a 3 como o Flamengo. “Passei pelo Jorginho, driblei o Zé Carlos e marquei um golaço”, relembra.
Emotivo, Vitor foi às lágrimas ao citar o descaso dos clubes com seus ídolos. “Devia ter uma carteirinha para os ex-atletas terem acesso aos clubes. Se quiser levar meus filhos para conhecerem a Gávea ou General Severiano não vou nem entrar. É chato dizer para o porteiro que você já jogou ali. Parece que está pedindo favor (chora). Só queria mostrar para meus filhos um pedaço da minha vida”, diz emocionado.
Fonte: Blog Observatório da Bola - O Dia