Eurico teme que Bernardo se mate caso tenha contrato rescindido, diz colunista

Segunda-feira, 15/06/2015 - 08:29
comentário(s)

Eurico Miranda enfrenta um dilema sério. Em jogo a vida de uma pessoa. O duro dirigente de 71 anos, capaz de enfrentar até a presidente da República pelo Vasco, não sabe o que fazer com Bernardo. O seu medo é o pavor dos dirigentes que comandam o clube carioca. Até onde vai o descontrole psicológico do meia de 25 anos? Ele seria capaz de tirar a própria vida se for dispensado? Eurico não sabe.

É uma das poucas vezes que o ditador do clube cruzmaltino está sem ação. É um pesadelo o que acontece com o atleta, com idade para ser neto do presidente vascaíno.

As fotos que enviou para a ex-namorada, tentando convencê-la a reatar o romance são chocantes. Bernardo coloca uma faca imensa na garganta, no pulso, no rosto. Patricia Mello o teria abandonado depois de várias brigas violentas, onde teria sido agredida. E por constrangimento.

Ela acusa o jogador de agressões por chutes, socos, tapas na cara. E ameaça de morte. Tudo isso por ela reclamar que Bernardo estaria bebendo todos os dias. Ele pode ser enquadrado na Lei Maria da Penha. Corre o risco de pegar três anos de cadeia. Para complicar há a ameaça de morte.

Bernardo também está enquadrado na 'Lei Carolina Dieckmann' por pela acusação de ter divulgado um vídeo no qual mantinha relações sexuais com Patricia. Foi ele quem filmou no seu celular a cena. Comprovado que foi o atleta quem distribuiu o vídeo, a pena pode chegar a mais três anos de detenção.

Depois de bater em Patricia, ele fugiu, levando o Honda Civic que teria dado à namorada.

O processo foi instaurado na Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (DEAM) do Rio, há dez dias. O depoimento de Patricia é constrangedor, terrível. Lembra um roteiro de filme. Com agressões físicas, verbais, surra, ameaça de assassinato, comemoração pelo vídeo íntimo espalhado pela Internet. E chantagem para um retorno forçado, usando o suicídio como maior trunfo. Foi quando mandou para Patricia as fotos com a faca.

Bernardo é filho do ex-jogador Hélio Doido, atacante que fez relativo sucesso nos anos 80. Passou por Palmeiras, Vitória, Bahia, Fluminense, Sport e outras equipes. Tem 135 gols contabilizados. O apelido 'doido' não tem nada a ver com o que fazia fora dos campos. Mas por suas comemorações excêntricas.

Desde pequeno, Bernardo foi preparado pelo pai para ser jogador de futebol. Nascido em Sorocaba, interior paulista, saiu de casa para morar na concentração do Cruzeiro. em Belo Horizonte. Se destacava por pela velocidade nos dribles, arranque e técnica. Acabou convocado para a Seleção Brasileira sub-15 e sub 17. Foi tratado como uma das grandes promessas na Toca da Raposa. Foi artilheiro da Copa São Paulo de Juniores, em 2009. E logo começou a atuar no profissional.

Só que os problemas fora de campo já marcavam o jogador. Baladas e confusões e futebol irregular cansaram a diretoria do Cruzeiro. Os treinadores cansaram de declarar ser um enorme desperdício o que Bernardo fazia com sua carreira, sua vida. Não houve suspensão, punição interna que desse jeito.

E começaram os empréstimos. Foi para o Goiás. Foi bem dentro do campo. E fora, outra vez a fama de baladeiro, se impôs. Mas seu futebol despertou a atenção do Vasco. Acabou emprestado. Se esbaldou na noite carioca. Mas fez 58 partidas e 18 gols. Foi o que bastou, ninguém quis saber de controlar seu destempero.

Seu rendimento animou o clube a pagar R$ 4 milhões por metade dos seus direitos. O Cruzeiro seguiu com 25% e 25% dos seus representantes. Foi só ser comprado para o seu futebol despencar. E as confusões aumentar.

Deu uma casa para os pais em Sorocaba, mas entrou em conflito financeiro com sua então esposa, Laila Fonseca. Se separou, deixando a esposa grávida e ainda três filhos. Atrasos salariais e dívidas pessoais fizeram com que processasse o Vasco, chorando muito voltou atrás. O ex-presidente Roberto Dinamite o perdoou porque o percebeu 'completamente desorientado, perdido'.

Mais confusões viriam. A pior delas aconteceu em março de 2013. Ele foi sequestrado e torturado barbaramente por traficantes da Favela da Maré. Ele se envolveu com Daiane Rodrigues, namorada do chefe do tráfico Menor P, Marcelo Santos das Dores. Foi uma noite inteira de tortura. Bernardo foi humilhado pelos traficantes. E ainda viu Daiane tomar três tiros nas pernas pior ter se envolvido com o jogador.

Bernardo ainda foi processado por estelionato. Pediu R$ 40 mil emprestado para um amigo, o empresário Andriws Moraes. O meia deu dois cheques de R$ 20 mil como garantia. Em seguida, sustou os dois cheques. Passou a informação ao banco que eles foram roubados...

Dirigentes do Vasco logo se arrependeram da compra. O emprestaram para o Santos. Foi devolvido também pelo excesso de farras e fraco futebol. Conseguiu entrar 17 vezes com a camisa do clube paulista e marcou apenas um gol.

O Palmeiras no ano passado aceitou a oferta de empréstimo gratuito do Vasco. Empréstimo de cinco meses. Depois do segundo, a diretoria de Paulo Nobre já queria devolvê-lo. Só problemas fora de campo e nada de futebol. Entrou em campo sete vezes e nada de gols.

De volta ao Vasco, continuou sem se firmar como titular. Quando entrou fez gol, jogou a camisa no gramado, deu um descontrole impressionante. Pior quando foi substituído contra o Rio Branco do Acre, pela Copa do Brasil, ele foi muito xingado pelos torcedores vascaínos. Ele não aguentou e caiu no choro em pelo gramado.

Depois veio o vídeo erótico. E o absurdo fim de relacionamento com Patricia Mello. Diante de muitas críticas nas mídias sociais, Bernardo desafiou um torcedor que o ofendeu a ir brigar 'na mão' em frente à sede do Vasco da Gama. Bastaria esse vascaíno ou qualquer outro aceitar o desafio. Levar uma arma e a desgraça estava completa.

O enorme e inaceitável erro dos clubes em relação a Bernardo foi o mesmo. A falta de um tratamento psicológico intensivo. Ele nunca teve a menor estrutura para jogar futebol. Não com destaque. Mesmo que fosse obrigado a fazer, este seria o caminho que poderia evitar tanto constrangimento, desequilíbrio, vexames.

"Meu filho não estava preparado para a pressão que é ser um atleta de sucesso. Ele se deslumbrou. E se deixou levar pelos amigos. Infelizmente", admite Hélio Doido. A mãe Joelma só chora.

Só na última semana, Bernardo teria começado a ir em um psicólogo. A notícia chegou até Eurico Miranda. E o fez manter a suspensão do jogador. Não a rescisão. Seu contrato termina no final do ano. O presidente vascaíno promete ter paciência e ajudar o atacante nestes últimos seis meses de contrato.

Há uma grande preocupação em relação à atitude de Bernardo, em caso de demissão. Ele recebe R$ 100 mil mensais. Advogados da namorada Patricia Mello, com quem morava, já avisaram que entrarão com pedido de pensão. Além de jurarem que as queixas por agressão, ameaça de morte e divulgação de vídeo íntimo continuarão.

Bernardo está afastado do Vasco. Proibido de treinar com os companheiros. As últimas notícias dão conta que está profundamente deprimido e com muito medo de ser preso. Diante desse quadro, rescindir o seu contrato poderia trazer consequências imprevisíveis. Ainda mais para quem já ameaçou se suicidar.

Por isso Eurico Miranda se vê diante de um grande dilema. Sabe que não pode brincar com Bernardo. Um triste exemplo de quanto os clubes brasileiros só se preocupam com o que jogador pode fazer em campo. E não com a pessoa.

Bernardo implora por um tratamento psicológico há anos. Mas os incompetentes dirigentes fingiram não enxergar. E agora a diretoria vascaína não pode se livrar definitivamente desse problema.

Por puro medo que resolva cumprir o que prometeu a Patricia. Se matar.

Bernardo hoje é muito mais que um jogador de futebol afastado.

É um ser humano doente, atormentado.

Em profunda depressão...




Fonte: Blog Cosme Rímoli - R7