A dupla manchete, em letras garrafais, no alto da primeira página da edição do GLOBO de 23 de julho de 1952, expressava o orgulho pelo feito inédito daquele brasileiro, de apenas 24 anos, que participava dos Jogos Olímpicos de Helsinque: "Bateu o 'record' Mundial!", "Ademar Ferreira da Silva Campeão Olímpico do Salto Triplo". Na verdade, naquele mesmo dia, o jornal trazia um outro feito, menos espetacular que o do grande salto do atleta paulista, mas também marcante para a época: a foto que ilustrava a chamada da reportagem de Ademar, e que mostrava o momento em que o atleta saltou 16,22m, era um grande furo de reportagem. O GLOBO foi o único jornal brasileiro a publicar, em edição extra, a radiofoto enviada pela agência de notícias United Press.
Em texto assinado pelo repórter Geraldo Romualdo da Silva, enviado especial às Olimpíadas de Helsinque, que viajou acompanhado do fotógrafo Indaiassú Leite, o jornal registrou as primeiras palavras emocionadas do brasileiro após o salto histórico: "Desejo de todo coração ouvir o hino de nossa pátria no Estádio Olímpico, para comemorar uma vitória do Brasil. Meu espírito e minha alma voltam-se inteiramente para o meu país."
Não foi uma vitória qualquer. O Brasil nunca havia conquistado uma medalha de ouro olímpica e ela veio acompanhada de um recorde mundial. O recorde, de 16,01m, em 1951, pertencia ao próprio Ademar. E o brasileiro se superou quatro vezes naquela mesma tarde em Helsinque. Primeiro, saltou 16,05m, em seguida 16,09m, 16,12m e fechou com 16,22m. Emocionado, ele deu uma volta olímpica, ovacionado pelo público.
Na primeira página, o jornal publicou ainda um texto em que anunciava uma homenagem que faria ao atleta: "O GLOBO prestará esta noite no Maracanã uma homenagem a Ademar Ferreira da Silva". Naquela noite, o Fluminense faria um amistoso com a seleção da Áustria.
Quatro anos e muitas reportagens depois, Ademar Ferreira da Silva voltou à primeira página do jornal novamente em grande estilo. Era uma terça-feira, 27 de novembro de 1956. Um texto-legenda no alto dizia: "Em sensacional 'Speedphoto I.N. O GLOBO', vemos acima Ademar Ferreira da Silva saltando hoje em Melburne, quando se sagrou bicampeão olímpico de salto triplo, com o grande resultado de 16,35m, o que constitui um novo recorde olímpico. Esta, a exemplo do salto em Helsinque, há quatro anos, que O GLOBO também teve o ensêjo de divulgar em 1ª mão, é uma foto histórica para os arquivos do nosso esporte."
O bicampeonato olímpico manteve Ademar entre os maiores esportistas. Além da medalha de ouro, ele estabelecera, com o salto de 16,35m, novo recorde olímpico. No fim do ano, o brasileiro esteve presente na lista dos principais atletas do mundo. Naquele ano, recebeu o voto do GLOBO na eleição da Internationale Sport-Korrespondez, prestigioso órgão de Stuttgart, na Alemanha, que escolhia os dez maiores atletas do ano através de uma eleição no qual votavam alguns dos principais jornais do mundo. O GLOBO era o único veículo brasileiro que participava.
Em 1962, Ademar foi nomeado Adido Cultural da Embaixada do Brasil na Nigéria. De volta ao país, em 1968, passou a trabalhar no governo de São Paulo, desenvolvendo um trabalho social. Vítima de parada cardiorrespiratória, morreu no dia 12 de janeiro de 2001, aos 73 anos.
Fonte: O Globo Online