Eurico Miranda nunca foi de medir suas palavras. O presidente do Vasco é conhecido por falar o que pensa, sem considerar as consequências. Foi assim na última quarta-feira, quando o dirigente foi convidado do programa De Cara, da “Rádio FM O Dia”, do Rio. Ao ser questionado sobre homossexualidade, o mandatário deu uma declaração polêmica, que inclusive pode ser passível de processo, de acordo com especialistas ouvidos pelo Portal da Band.
“Eu não tenho e nem nunca tive nada contra gay. Eu tenho contra ‘veado’. Gay é uma opção, ‘veado’ é o que faz ‘veadagem’. Eu sou contra ‘veado’. E o ‘veado’ não precisa ser gay para ser ‘veado’”, foi o pronunciamento de Eurico Miranda durante o programa.
Presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-RJ, a advogada Raquel Castro condenou a declaração do dirigente.
“Ele está equivocado. Ele diz que respeita o gay que se comporta como o homem estereotipado e está atacando aqueles que têm o comportamento mais afeminado. As pessoas têm a liberdade de ser como querem ser. Foi uma declaração altamente preconceituosa”, afirmou Raquel, que acredita que Eurico Miranda pode ser processado.
“Pode ser processado por uma coletividade que se sentir injustiçada. Ele usa a conotação de ‘veado’ de forma pejorativa”, disse a advogada, que comparou o caso ao de Levy Fidelix. Candidato à presidência pelo PRTB, o político foi condenado a pagar R$ 1 milhão por danos morais a movimentos ligados à população LGBT (sigla para lésbicas, gays, bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros).
Como o comentário do dirigente não foi direcionado a nenhuma pessoa específica, mas a um grupo, Raquel Castro explica que Eurico Miranda pode ser acionado na Justiça por movimentos sociais que defendam os direitos LGBT. Segundo Thales Coimbra, advogado do Centro de Cidadania LGBT, órgão da prefeitura de São Paulo, se algum indivíduo se sentir ofendido, ele pode fazer uma denúncia ao Disque 100 para pressionar um posicionamento das autoridades.
Eurico estimula a violência
Os dois advogados concordam que o discurso do presidente do Vasco contribui para o aumento do preconceito e da violência contra homossexuais. Para Thales, declarações como a do presidente vascaíno contribuem para que o preconceito seja algo natural.
“Eu acredito que todo discurso de ódio serve para aumentar a violência. Trata-se de um caldo de cultura que normaliza agressões. Quando um discurso como esse é proferido com naturalidade, sem arrependimentos, ele legitima que outras pessoas ajam dessa forma. Cria um ambiente desfavorável à diversidade humana”, opinou o advogado.
Raquel destaca o fato de que, por partir de uma figura pública, admirada por uma parcela dos torcedores, as frases de Eurico ajudam a propagar a homofobia.
“As pessoas que admiram o Eurico Miranda e que têm o preconceito dentro de si vão se identificar com a postura que parte de um líder. Declarações como essa são um perigo”, disse a presidente da Comissão de Direito Homoafetivo da OAB-RJ, que ainda completou afirmando que “toda liberdade de expressão tem um limite, que é quando viola a integridade física de outras pessoas”.
O que chamou a atenção de Raquel Castro foi as declarações terem partido justamente do presidente do time que, na década de 1920, foi pioneiro na luta pela inclusão de negros e pobres na prática do futebol um esporte da elite na época.
“Muito curioso o presidente do Vasco ter dito isso pelo Vasco ser o primeiro time inclusivo de minorias. Ele está rasgando a história do Vasco”, destacou.
Fonte: Band.com.br (texto), FM O Dia (foto)