A atleta de remo, Fabiana Beltrame, retornou ao Vasco em 2015. Com participação em três olimpíadas no currículo, campeã mundial e medalha de prata no Pan-americano de 2011 e seis vezes medalhista em Jogos Sul-Americanos, a remadora volta ao clube para ser o símbolo do retorno do remo vascaíno. Visitando a família, ela concedeu entrevista exclusiva. Confira o bate papo na íntegra:
Como você iniciou sua carreira no remo?
"Eu comecei no Martinelli (Florianópolis) quando eu tinha 15 anos, com uma amiga minha a Denise. A gente via o pessoal treinando na beira mar e ai a gente se interessou pelo esporte, a gente sempre gostou de praticar esportes e então viemos aqui conhecer, e desde a primeira vez gostei muito e fiquei até hoje."
Quando você iniciou no esporte, você imaginava que um dia chegaria a um nível tão alto e seria a atleta que você é hoje?
"Não, até quando eu comecei eu nem pensava em competir, só queria praticar o esporte. Ai comecei a competir o campeonato estadual, ai depois o brasileiro, e ai comecei a me motivar pra fazer parte da Seleção Brasileira e competir pelo Brasil. Na verdade foi uma coisa natural, não foi algo pensado desde o inicio."
Como foi a saída de Florianópolis pra ir para o Rio de Janeiro?
"Eu meio que tive que sair daqui para poder continuar treinando, porque chegou um momento que eu tive que escolher entre começar a trabalhar, ter uma profissão, ou me dedicar aos treinos. A gente treina muitas horas por dia, então é difícil conciliar com uma profissão, então eu tive que sair pra realmente continuar treinando, e aqui já não tinha mais condições de me manter, e lá consegui me manter treinando, fui para o Vasco, tive que sair, e agora voltei. As dificuldades no início, é aquela coisa, viver longe de casa, da família, tudo é difícil, mas conheci o Gibran, na verdade já conhecia, e ele me ajudou muito, mas acho que a adaptação foi boa, não teve grandes problemas."
No último sábado, você venceu a primeira etapa da copa do mundo de remo, vencendo a segunda colocada com mais de 3 segundos de diferença. O primeiro lugar já era esperado?
"Como eu já tinha feito algumas avaliações no início do ano, físicas e técnicas, eu estava me sentindo super bem, eu sabia que tinha condições de ter um bom resultado, claro que a gente só sabe quando está lá, porque depende muito do nível dos adversários, mas pelos tempos que eu estava fazendo na lagoa, eu sabia que eu tinha condições de ter um bom resultado, então eu estava treinando muito. O meu foco principal é o Mundial, o Pan-americano, e essas competições são meio que preparatórias pra essas competições, então acho que foi um grande resultado já pra inicio de ano."
Você já participou de três olimpíadas, e tem um título mundial. Olhando pra sua carreira, você acha que atingiu seus objetivos? É uma carreira satisfatória ou você acha que ficou faltando algo?
"Claro que atleta sempre almeja mais, por isso que a gente treina tanto, com certeza meu maior sonho é uma medalha olímpica, coisa que eu não atingi ainda, mas olhando de uma perspectiva que eu não esperava por isso, ser campeã mundial por exemplo, claro que a gente treina visando isso, mas eu não esperava que fosse possível, então eu gosto do que eu fiz até hoje, tenho orgulho disso, mas gostaria de atingir mais."
Qual a maior dificuldade do esporte?
"São varias na verdade, porque a gente depende dos clubes, tem muita burocracia para viagem, a gente não consegue ficar fazendo campo de treinamento lá fora, que é o que todo mundo faz. Por exemplo, eu participei dessa etapa da Copa do Mundo e daqui a três, quatro semanas vou participar de outra, e geralmente o pessoal fica na Europa direto, treinando, e depois só vai pra lá e compete. No nosso caso temos que voltar, então tem várias coisas que atrapalham nosso crescimento, infelizmente."
Sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas, o que você acha da situação e o que pode ser feito para melhorar? Quanto isso prejudica os atletas do remo nos treinamentos?
"Até as Olimpíadas acho difícil que melhore alguma coisa, até porque não está sendo feito nada pra limpeza da lagoa e nem estava previsto na realização dos jogos. Assim, da pra remar numa boa, a gente treina lá todo dia, não é aquela água que você pode tomar banho, mas dá pra treinar e competir numa boa, o problema é quando acontece a mortandade de peixes, o que não está livre de acontecer num evento desses, então isso preocupa um pouco, mas mudar daqui até nos jogos, acho difícil."
Você já pensou alguma vez em desistir do esporte?
"Já, já pensei até nessa época quando eu estava entre a escolha da profissão e continuar remando, na época do vestibular também, eu tinha decidido parar de remar, porque estava difícil, não tinha muito apoio, ai eu cheguei a parar por um tempo pra fazer o vestibular, mas depois encontrei algumas pessoas que me convenceram a voltar, e até tenho que agradecer por isso."
O que o Vasco representar pra você?
"Eu tenho um carinho muito grande pelo Vasco. Primeiro porque foi o clube que abriu as portas pra mim no Rio de Janeiro, que me apoiou desde quando eu entrei até eu sair. Eu tenho um carinho muito grande pelo seu Lopes, que é um diretor de remo, pelo Eurico, que fez questão que eu voltasse. Eu me senti muito bem recebida por todos os diretores quando a gente tava em negociação, eles foram lá conversar comigo, me receberam muito bem, coisa que não acontecia no outro clube, então tenho um carinho muito grande pelo Vasco."
Quando você retornou ao Vasco, o Eurico falou que você voltou pra ser o símbolo do retorno do remo do Vasco. O que isso representa pra você?
"É uma responsabilidade, mas eu vejo pelo lado do orgulho, eu me orgulho muito disso, de eu ser um símbolo da volta do remo. O remo do Vasco sempre foi muito campeão, e ser um símbolo dessa volta é um orgulho muito grande, e acho que também representar um espelho para os outros atletas verem que o Vasco realmente está voltando, e apostarem no Vasco. Também os atletas que saíram naquela época, pra voltarem, e para os atletas que estão lá continuarem treinando pra competir bem."
A antiga diretoria vascaína não dava muita prioridade para os outros esportes. Com a chegada do Eurico, a gente já percebe mudanças. Na entrevista coletiva da sua reapresentação ao Vasco, você falou que confiava no Eurico para reerguer o remo do Vasco. Porque essa confiança tão grande no presidente?
"Porque eu sei que ele gosta muito não só do Vasco, mas do remo do Vasco, ele sabe a importância dessa modalidade para o clube, então ele vai em todas as regatas, ele sabe o nome de todos os remadores, ele torce mesmo. É aquela coisa, a gente sente quando a pessoa gosta, então eu confio muito, e já tá acontecendo, o Vasco melhorou muito, foi campeão carioca agora, coisa que não acontecia há muito tempo, tá se reerguendo no remo e nos outros esportes também. Ele está fazendo um bom trabalho mesmo em tão pouco tempo."
Quais suas metas para o futuro?
"Esse ano tem o Pan-americano, que eu ainda vou competir sozinha no skiff simples, em novembro tem o pré-olímpico, que eu pretendo me classificar no double leve, e competir a minha última grande competição, que vai ser os Jogos Olímpicos, e depois vou voltar pra cá pra Floripa para curtir minha aposentadoria."
Em 2016 vai ser sua ultima competição de alto nível. O que você espera das Olimpíadas e quais seus planos pra depois disso? Você pretende largar totalmente o esporte, ou vai continuar no remo de alguma forma, como treinadora ou algo assim?
"Com certeza eu vou querer ajudar o remo. O remo representa tudo pra mim, minha vida foi baseada no remo, então eu pretendo passar um pouco da minha experiência, acho que não como treinadora porque não tenho perfil de treinadora, mas quero ajudar de alguma forma, acho difícil eu conseguir me manter longe do remo, pois o remo representa tudo pra mim, então quero ajudar o remo de Santa Catarina, o remo do Brasil, a conseguir melhores resultados."
Você e o Gibran, seu marido, que também foi atleta de remo do Vasco, pensam em abrir uma escolinha de remo depois que você parar de competir?
"Nós já pensamos em alguma coisa desse tipo, nada concreto ainda, estamos analisando ainda o que a gente vai fazer, na verdade a gente não sabe. Eu tô focando esses últimos anos totalmente nos treinos, e não estou fazendo muitos planos, eu quero deixar mais o barco correr..."
Fonte: Supervasco (texto), Reprodução Internet (foto)