A torcida do Vasco não tomou apenas o lado dos botafoguenses no Maracanã durante a final do Campeonato Carioca neste domingo. Em São Paulo, cerca de 100 vascaínos invadiram o São Cristóvão Bar e Restaurante, reduto boêmio na Vila Madalena, zona sul da capital. Para dar conta do contingente, o estabelecimento precisou passar a decisão em todas as TVs, que normalmente passam jogos alternados, deixando de lado a final do Campeonato Paulista.
Uma hora antes da partida, as mesas do bar já eram dominadas por vascaínos do Rio, de São Paulo, Bahia e Goiás, à exceção de uma com meia dúzia de botafoguenses, que pagaram a conta e foram embora antes do início do clássico. Um garçom disse que teria que acompanhar a decisão entre Palmeiras e Santos pelo celular, pois as televisões ficariam à disposição dos torcedores do Vasco.
E assim foi feito. O bar temático de futebol — que leva o nome de São Cristóvão porque o tio do dono era torcedor do time que revelou o fenômeno Ronaldo — virou um caldeirão, como extensão de São Januário, no bairro homômino carioca. Nem as três rápidas quedas de energia que desligaram as tevês por menos de um minuto ao longo do jogo tiraram o humor dos vascaínos, que gritavam: “tem flamenguista infiltrado!”. Durante 90 minutos, os clientes comeram, beberam e cantaram.
Democracia vascaína
- Aqui é um bar democrático, como o Vasco, que iniciou a democracia no futebol. Recebemos todas as torcidas e há espaço para todos os times aqui - disse Leo Silva Prado, dono do bar e vascaíno. - Quando inauguramos, há 15 anos, depois dos títulos da Mercosul e do Campeonato Brasileiro, não havia tantos vascaínos frequentando como hoje.
Aplausos, fogos e morteiros transformaram a comemoração num carnaval típico do Rio de Janeiro. A explosão final veio com o segundo gol do Vasco, marcado por Gilberto aos 48 minutos do segundo tempo, quando o bar inteiro já gritava “é campeão!”. Após o apito final, Leo puxou o tradicional Casaca, seguido do hino do Club de Regatas Vasco da Gama.
O publicitário carioca Guilherme Machado, radicado em São Paulo há cinco anos, foi um dos muitos torcedores que participaram da festa.
- Da primeira vez que vim ao bar, já havia sentido que era um reduto vascaíno. Mas não era final e não havia essa concentração enorme. Estou me sentindo em casa - vibrou Machado.
Justiça seja feita, cerca de três torcedores do Botafogo permaneceram no bar até o final da partida e aceitaram a derrota na esportiva. A psicóloga carioca Elis Ribeiro foi uma delas:
- Apesar de meu time ter perdido, o Vasco mereceu o título. O bar é muito legal por acolher todos os torcedores em clima de paz. Falta esse espírito no Rio.
Normalmente, o bar transmite jogos principalmente dos times paulistas, de acordo com a maior demanda. Vale a lei da oferta e da procura: durante o Campeonato Carioca, por exemplo, vascaínos já ficaram de fora certa vez, porque o bar lotou com a transmissão de partidas de outros torneios estaduais.
Além dos times nacionais, o bar é decorado com fotos, ingressos, flâmulas e toda a sorte de souvenires de jogadores, equipes e seleções de futebol. Na porta do banheiro, por exemplo, há uma foto de Maradona pelado escondendo as partes íntimas, outra de Pelé desferindo um soco (e não aquele clássico da comemoração do gol), uma caricatura de Zico em homenagem aos 10 anos do bar e uma charge zoando Eurico Miranda. Guardadas as devidas proporções etílicas, o estabelecimento não deixa a desejar em relação ao Museu do Futebol no Estádio do Pacaembu.
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Fonte: O Globo Online