Doriva não faz o estilo disciplinador durão. Muito menos é um treinador verborrágico, daqueles que dão show a cada preleção antes das partidas. Aos 42 anos e apenas no segundo da carreira, assumiu as rédeas do grupo do Vasco com um estilo agregador. Sua capacidade de criar um bom ambiente no vestiário tem sido um diferencial na função e ajudou o time a chegar à decisão do Estadual, contra o Botafogo.
Com um grupo novo nas mãos, o treinador levou pouco tempo para se impor. Não o fez com gritos. No tratamento com os mais novos, é carinhoso. Certa vez, ao conversar com Matheus Índio no gramado de São Januário, afagou a cabeça do garoto como se ele fosse seu filho.
A reação diante de mais um caso de indisciplina de Bernardo mostrou seu equilíbrio. Ao mesmo tempo em que o apoiador foi multado e afastado por chegar atrasado a um treino, Doriva não o tirou dos planos. Com isso, ganhou o grupo. Adílson Batista, por exemplo, não teve a mesma paciência.
Já com os mais experientes, o treinador optou pela conversa franca e se impôs. Apesar do pouco tempo de carreira, tem conseguido passar confiança a respeito de suas opções táticas. Joel Santana, técnico que o antecedeu, não conseguiu o mesmo. Perdeu a mão do grupo e viu vazarem vídeos irônicos de suas preleções.
Doriva vem de uma experiência recente como jogador — encerrou a carreira antes do previsto, em 2008, por causa de problemas cardíacos. Por ter estado do outro lado da relação há tão pouco tempo, ainda têm vivos na memória os vícios dos antigos treinadores com que trabalhou. Agora técnico, se esforça para não repeti-los.
- Procuro ter coerência, ser frontal com o atleta. Eu gostava que as pessoas fossem frontais comigo quando eu era jogador - lembrou Doriva. - O técnico não engana ninguém. O respeito adquirimos pela postura, pela conduta no dia a dia. O respeito faz parte do ambiente de trabalho, é fundamental. Falar a verdade, olhar no olho, isso é importantíssimo.
Entre as atribuições de qualquer treinador, está a de administrar frustrações. No clássico de amanhã, Rafael Silva ou Dagoberto será deixado fora do time titular que enfrentará o Botafogo. Doriva já tem a equipe definida na cabeça, mas mantém o mistério para não dar armas ao adversário René Simões.
Se o primeiro começar no banco, não deixará de ser um desprestígio para um dos jogadores mais regulares contra o Flamengo, na semifinal do Estadual. Se Dagoberto ficar no banco, Doriva vai preterir a principal contratação do clube para a temporada.
- Não é momento de fazer loucuras. Sabemos que a equipe tem tido consistência importante. Vamos seguir nessa linha - garantiu.
O estilo de Doriva ajudou o treinador também a se entrosar mais rapidamente com o clube e com seu presidente, Eurico Miranda. O perfil centralizador do dirigente não tem sido um problema para o técnico neste começo de trabalho. A cada coletiva, são só elogios ao manda-chuva.
- O presidente é uma pessoa incrível. Aprendi a admirá-lo. Ele sempre tenta nos proteger - destacou.
Nas últimas semanas, a agitação de Eurico Miranda está ainda maior do que o normal e o dirigente tem acompanhado mais de perto o trabalho do treinador. As idas ao vestiário têm sido constantes. Eurico Miranda desce de sua sala e é levado de carro por seu motorista até o outro lado de São Januário, para conversar pessoalmente com Doriva e com os jogadores. O dirigente dá seus pitacos e é soberano. Ninguém o contesta.
A pressão para que o Vasco seja campeão estadual e acabe com o jejum de 11 anos sem o título tem sido grande sobre Doriva, mas o treinador garante estar lidando bem com ela:
- Estou dormindo bem. Vamos usar todas as armas para sermos campeões.
Fonte: Extra Online