Clássico dos Milhões tem duelo de técnicos de estilos diferentes: Doriva x Luxemburgo

Domingo, 12/04/2015 - 11:19
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Os nervos ficam à flor da pele e é difícil segurar a emoção. Um Vasco e Flamengo decisivo, como o deste domingo, às 16h, no Maracanã, muda a atmosfera da cidade, vira assunto nos bares e contagia do novato ao veterano, do promissor ao consagrado. Com carreiras e temperamentos distintos, Doriva e Vanderlei Luxemburgo, adversários em campo, vivem a ansiedade e a expectativa de passarem à decisão do Carioca.

Doriva ainda dá os primeiros passos fora das quatro linhas. Ganhou oportunidade no Ituano na temporada passada depois de partidas emblemáticas contra a Portuguesa, em 2010, e o Palmeiras, em 2013, como interino. No primeiro trabalho, foi campeão paulista contra todas as previsões. Antes de ser chamado para o Vasco, ele ainda comandou o Atlético-PR.

“Esse jogo é muito especial para a minha carreira”, admitiu.

Para se consolidar no mercado, Doriva terá de superar o consagrado Vanderlei Luxemburgo. Em 32 anos de carreira, o treinador rubro-negro soma nada menos que 23 títulos de expressão, passagens por 20 clubes - chegou a treinar o Real Madrid, em 2005 -, além da seleção brasileira.

Diante do Vasco, como treinador do Flamengo, Vanderlei ainda ostenta a marca de sete vitórias, quatro empates e nenhuma derrota. Mesmo assim, prega respeito: “Cada Flamengo e Vasco é diferente do outro. Vamos jogar com um rival duro. É outro jogo e outra história.”

O promissor Doriva

O destino interrompeu de forma traumática uma carreira vitoriosa. Mas, ao abandonar as chuteiras em 2008 por causa de uma arritmia cardíaca no Mirassol, o até então volante Doriva, que perdeu o pai e o avô por problemas parecidos, deu novo rumo à sua vida. O futebol ainda corria em suas veias quando se redescobriu. Como treinador, foi campeão paulista em um trabalho improvável e vem conquistando espaço com um jeito que foge aos estereótipos do esporte.

Nascido no interior de São Paulo, longe da badalação, Doriva "entra em campo" com o time, mas é calmo, dificilmente perde a serenidade e defende até o fim os comandados. Por ser evangélico, de frequentar igreja nos tempos livres e adorar ouvir música gospel, não fala palavrões e se sente mal quando sai do sério e passa dos limites.

“É muito difícil isso acontecer, pois não gosto de chegar aos extremos. Nem para mais nem para menos. Por isso, me arrependo sempre que passo dos limites. Não gosto, me sinto mal, peço desculpas e logo quero me redimir”, confessa.

Aos 42 anos, há quatro meses no Rio para o desafio de comandar o Vasco, o pacato Doriva já está adaptado à Cidade Maravilhosa, mas nada de agitação. Programas preferidos? Almoçar fora e passear em shoppings: “Sou um cara caseiro, mas que já está adaptado ao Rio. O povo é caloroso e está sendo muito carinhoso.”

Para Doriva, difícil mesmo é não conviver de perto com a família. Tirando o filho Diego, de 18 anos, que está na base do Vasco e mora com ele na Barra da Tijuca, recebe esporadicamente a visita da mulher e dos outros dois filhos que seguem em Itu, cidade do interior paulista onde, por sinal, fez história. Foi no Ituano onde as portas se abriram em 2009 como auxiliar-técnico, que ganhou sua primeira chance fora das quatro linhas. E não a desperdiçou. Na sua estreia no comando, no ano passado, levou o clube ao inédito título no Paulista, um dos mais improváveis da história da competição.

O consagrado Luxemburgo

Vanderlei Luxemburgo cavucou muita minhoca em barro duro, antes de bater campeão para mais de metro. Já consagrado, mandou seu grupo carregar cimento nas costas para escapar da confusão. Com vocabulário próprio, ele se reinventa a cada dia, a fim de falar a língua dos jogadores, entre elogios e broncas, normalmente em voz alta. Fazendo de palavrões vírgulas e usando termos como piscadinha, quebra a arrogância professoral de treinadores que enfeitam o discurso, mas nem sempre as salas de troféus. Numa das últimas vezes em que se valeu de sua fluência no idioma da bola, foi suspenso por usar a expressão “dar porrada” no sentido de criticar. Mas jurou que não vai se calar. Afinal, sua carcaça aguenta as pancadas.

“Às vezes, invento uma história, uma frase. Futebol é linguajar simples. Aqui não tem nenhum cara que ganhou Prêmio Nobel, que é da Academia Brasileira de Letras. Aí o advogado vai ao dicionário e interpreta”, disse Vanderlei que, perguntado se havia criado alguma novidade linguística para este domingo, proferiu frase impublicável, sucedida de sua gargalhada característica.

Apesar do jeito mais escrachado, o treinador é um teórico do futebol, influenciado por referências que vão de Joubert, seu técnico na base do Flamengo, ao italiano Arrigo Sacchi.

“Sou professor formado, técnico e educador”, afirma Vanderlei, que, para fazer o dever de casa, assiste a jogos diariamente: “O Jonas foi contratado assim, vendo Vasco e Sampaio Corrêa. Eu olhei para aquele sarará e falei: ‘Ele é diferente.’ Até pelada e Terceira Divisão eu vejo.”

Fonte: O Dia