Clubes do futebol brasileiro se organizam nos bastidores para promover um boicote ao Vasco nas competições de base. A ação se dá por um suposto aliciamento ao jogador Paulo Victor, do sub-15 do Fluminense, que parou de treinar no Tricolor e se apresentou ao Cruzmaltino.
A primeira medida punitiva ao clube de São Januário poderá acontecer na Copa Nike sub-15, que será disputada a partir do dia 14 de abril, em São Paulo. Por intermédio do "Movimento Futebol de Base", 13 das 16 equipes envolvidas na competição já se manifestaram a favor de saírem do torneio, caso o Vasco não seja excluído.
André Figueiredo, gerente técnico da base do Atlético-MG e diretor do movimento, alega que o principal motivo para o boicote foi o fato do Cruzmaltino ter inscrito Paulo Victor na Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) e na CBF sem a liberação do Fluminense.
"Existe um fato, um aliciamento. O movimento de gestores da base se reúne de três em três meses para tentar coibir esse tipo de assédio. O Vasco o inscreveu na Ferj e na CBF e não sei nem como conseguiu, porque o Fluminense não deu a liberação. Não sei nem como isto foi feito (a inscrição). Se não tem a liberação, não pode. O Vasco está com um menino, o inscreveu e entendemos que é contra nosso código de ética", disse ao UOL Esporte.
A diretoria do Vasco, por sua vez, nega ter aliciado o jovem. Como argumentos, ela apresenta uma suposta notificação de Paulo Victor ao Fluminense informando que não renovaria seu contrato de formação, bem como atrasos na bolsa que é paga a atletas da base com vínculos não profissionais.
"Ele (Paulo Victor) veio porque quis, porque tem o direito de escolher e decidiu vir. Falou que estava sem receber o contrato de formação há seis ou sete meses e que já tinha feito uma notificação ao Fluminense explicando que não ia exercer a renovação do acordo por mais um ano. Ele não quis a renovação porque a lei é clara. O atleta, até uma certa faixa de idade, tem que fazer a renovação em dezembro. Se não faz, fica livre. O Vasco não o aliciou e nem ele fez nada de errado. A não ser que o Estatuto da Criança e do Adolescente, que prega o direito de ir e vir, tenha acabado. Se os clubes têm um código que passa por cima da lei, da constituição, é uma outra coisa", declarou o gerente de futebol da base do Vasco, Isaías Tinoco.
Procurado pela reportagem, o Fluminense, através de sua assessoria de imprensa, nega atrasos na bolsa auxílio dos atletas da base e garante que todas estão em dia desde janeiro. Sobre a notificação feita por Paulo Victor, o Tricolor alega que a mesma foi realizada no dia 2 de março pelo representante do atleta. E que havia apenas a solicitação de liberação, sem o argumento de atrasos, mas que o pedido foi prontamente negado pelo clube.
O Tricolor salienta ainda que no dia 27 de março, às 18h17, recebeu um email da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) dizendo que o Vasco havia solicitado a transferência do atleta em questão e que aguardava uma resposta em 24 horas. A posição, então, teria sido dada às 18h47 com a ênfase de que o clube "não concordava em hipótese alguma com a liberação".
No fim do conteúdo, o clube das Laranjeiras ainda reforça à Ferj que no dia 25 de março, ou seja, dois dias antes de ter recebido o email, já tinha protocolado um ofício sobre o caso não concordando com a liberação e pedido para que fossem adotadas "todas as medidas punitivas".
Já André Figueiredo lembra ainda que representantes do "Movimento Futebol de Base" tentaram entrar em contato com a diretoria do Vasco antes de iniciar a ação de boicote, mas que jamais foram atendidos.
"Tentamos fazer contato com o Vasco umas 200 vezes. Com o Álvaro (manager da base e filho do presidente Eurico Miranda) e o Isaías (Tinoco) e ninguém atendeu. Se o Vasco mostrar que o menino está livre, tudo bem, mas eles não têm essa liberação. É uma diretoria nova, que acha que é ainda a mesma bagunça de antigamente", declarou.
Isaías Tinoco, por sua vez, alega que o Vasco ainda não foi notificado sobre o boicote.
"Não recebemos nenhum tipo de intervenção da presidência do Vasco e nem de outros clubes. Ninguém veio aqui para dizer isso. Até pelo contrário, porque se o código de ética funciona, o Vasco é o clube que mais vem sendo prejudicado".
Vasco já viveu o outro lado da moeda
Curiosamente, o Cruzmaltino já esteve em situação inversa. Em 2012, o Atlético-PR havia inscrito o atacante vascaíno Mosquito e acabou sendo boicotado em uma competição após o pacto entre os clubes. O Furacão, na ocasião, precisou efetuar um pagamento aos cariocas para não sofrer novas sanções. Em 2015, o jovem retornou ao Vasco. O São Paulo foi outra equipe que já foi boicotada de um torneio por ser acusado de aliciamento.
Fonte: UOL