Longe das arenas caras e dos estádios modernos, o futebol no estadual do Rio ainda tenta encontrar um pouco da cultura popular no deslocamento dos times grandes para o interior. No Eucyr Resende de Mendonça, vascaínos e torcedores do Boavista se provocaram e vibraram com as emoções da vitória do Vasco: 2 a 1 com pênalti nos acréscimos em cima de Thalles. A falta dentro da área deixou o tornozelo do jovem atacante vascaíno inchado, mas não impediu a torcida da casa de "homenagear" Eurico Miranda.
Longe do estádio de Bacaxá, em Saquarema, o presidente vascaíno era representado por parte de sua diretoria na partida contra o Boavista. Uma sala reservada para os vice-presidentes tinha lanches e ar-condicionado. Sem o mesmo conforto, a comissão técnica vascaína ficou bem acima da arquibancada destinada a uma organizada do Boavista.
Os "moleques revoltados", como diz uma das músicas da torcida local, misturam cânticos do Vasco - com a paródia de "Ana Julia", do Los Hermanos -, do Flamengo - "Brasília Amarela", dos Mamonas Assassinas - e também o grito de guerra dos botafoguenses - "É a Fúria, mané". Apesar da revolta com o pênalti que decidiu a partida e um princípio de xingamentos contra a sala, os funcionários vascaínos e, principalmente, contra o ausente presidente vascaíno, a diplomacia foi feita pelo carismático Valdir Bigode.
Enquanto os seguranças do Vasco se preocupavam em retirar assessores, preparadores, auxiliares e até o zagueiro Aislan, que acabou cortado do banco, o ex-atacante vascaíno se agachou e passou alguns minutos tirando fotos com torcedores do Boavista.
Com forte calor em Bacaxá, o vascaíno Luis Carlos Feres, de 69 anos, caprichou no visual. Com um vistoso chapéu branco, ele não se intimidou em meio aos torcedores do Boavista. Morador de Niterói, ele pegou uma hora de estrada para ver o Vasco.
- Eu tenho a TV fechada, mas preferi ver essa garotada que ia jogar hoje (quinta). Vim para esse lado da arquibancada, porque do outro lado estava muito sol - explicou o aposentado.
Perto dali, vendedores ambulantes vendiam pipocas doces - com direito a duas doses de leite condensado - e salgadas, amendoins e salgados. Para completar o cenário que contrasta com a gastronomia gourmet do Maracanã e de outros estádios reformados ou construídos para a Copa do Mundo, dentro do campo do Boavista, um torcedor de bicicleta conversava com funcionário ao lado do banheiro masculino. Próximo dali, um sofá velho colocado na vertical "decorava" as dependências do campo de Bacaxá. Havia ainda um chinelo jogado no gramado, depois arremessado na grade que separa a plateia do campo.
Sem jogar em Bacaxá desde 2009, o Vasco maltratou, mas aliviou sua torcida com o gol de Anderson Salles, nos minutos finais do jogo. Nem o xingamento da torcida do Boavista ou a ironia dos próprios vascaínos - um deles gritou na arquibancada, na saída do campo, que o gol tinha sido marcado por Eurico - tiraram a festa no fim da partida.
Fonte: GloboEsporte.com