O novo mandato do presidente do Vasco, Eurico Miranda, completa 100 dias nesta quinta-feira. Nesse período, muita coisa aconteceu em São Januário. O mandatário vascaíno, que tomou posse em 2 dezembro passado (veja vídeo acima) com suas habituais frases de efeito, a velha habilidade política e boas doses de polêmicas, irritou rivais, brigou com o Consórcio Maracanã, atacou o Bom Senso FC e atraiu holofotes como de costume. Com quase 20 contratações no futebol - a maioria de apostas desconhecidas a "custo zero", como reforçou recentemente - , ele chamou a atenção com os nomes de Dagoberto, Fabiana Beltrame e Falcão, mesmo que não tenha sido no futsal, mas para um esporte menos badalado, o Fut 7. Veja e relembre lista de resumo de ações e acontecimentos da nova gestão Eurico no fim da reportagem.
Se as contratações de atacante Dagoberto, que estreia no próximo domingo em São Januário, e da remadora campeã olímpica, que deixou o Flamengo e retornou ao clube vascaíno, podem ser consideradas vitórias da nova administração, há alguns percalços nessa nova era Eurico. O clube teve frustrada a entrada na liga de basquete brasileira e ainda não conseguiu renovar os patrocínios que devem garantir mais de R$ 20 milhões em mais um ano de vínculo.
Com voz ativa no comando vascaíno de dois filhos no futebol - Euriquinho no profissional e Álvaro Miranda nas categorias de base -, o presidente começou sua gestão combinando velhas e novas práticas - trazendo de volta antigo conhecidos, como os profissionais do futebol Paulo Angioni e Isaías Tinoco, mas surpreendendo nas apostas em Marquinhos Santos, que chegou a ser anunciado, mas depois declinou do convite, e no técnico Doriva. No departamento de marketing, manteve integralmente a equipe que trabalhava na gestão Dinamite que tocou uma bem sucedida campanha de crownfunding - espécie de "vaquinha online" que já arrecadou mais de R$ 230 mil para a reforma do ginásio vascaíno.
Com empréstimos significativos e recados para seus críticos - ou "para aqueles que torcem contra", como disse numa das primeiras coletivas de imprensa" -, a nova gestão honrou os primeiros compromissos com quem permaneceu em São Januário. O clube quitou no dia 10 o pagamento do mês de fevereiro a funcionários que ganham até R$ 3 mil e jogadores. O restante dos funcionários deve receber até o fim da semana. Ainda há, porém, débitos de 13º salário com alguns funcionários, além de grandes dívidas com colaboradores que foram demitidos. O departamento jurídico garante que vai buscar acordo com o sindicato da categoria, embora seja provável que muitos engordem a fila de processos trabalhistas contra o clube de São Januário. Anteriormente com mais de 500 funcionários no fim da administração Dinamite, uma nova leva de demissões no início de Eurico no poder diminuiu bastante o quadro de colaboradores no Vasco.
Eurico espera "final feliz" com renovação da Caixa
Apesar dos altos valores de empréstimos para retirar as certidões junto ao governo e da expectativa positiva dentro do clube para renovação de patrocínios, ainda há incertezas pela continuidade de dois patrocinadores no clube. A Caixa Econômica Federal, depois de definir sua permanência no futebol, ainda não fechou nenhuma nova renovação de contrato, com exceção do Corinthians. Na semana passada, Eurico esteve em Brasília, mas ainda não voltou com resposta positiva sobre o novo acordo com o banco estatal. O clube quer um aumento de R$ 15 milhões para cerca de R$ 20 milhões para mais um ano de contrato.
- Acho que teremos um final feliz com a Caixa - disse, na última semana, Eurico ao GloboEsporte.com.
Nessa quarta-feira, a reportagem tentou contato com o dirigente para falar dos primeiros 100 dias de gestão, mas após alguns contatos não obteve sucesso. O dirigente também espera retorno da Guaracamp, mas o atraso nas negociações da Caixa e do guaraná natural - as duas marcas ainda estampam a camisa vascaína - preocupa os vascaínos. No orçamento para 2015, alvo de críticas da oposição, o clube planejava receber mais de R$ 40 milhões de anunciantes.
Ao lado de aliados de peso na diretoria, como do primeiro vice-presidente geral Fernando Horta, presidente da Unidos da Tijuca, Eurico mantém a fama de centralizador viva. Ao longo desse novo período na presidência, vice-presidentes seguiram linha mais discreta, deixando anúncios para o presidente. Horta, que chegou a comentar negociações de patrocínio depois negadas pelo presidente, relata bons encontros com Eurico depois do fim do carnaval.
- Estamos fazendo reuniões todos os dias na área administrativa. A nossa relação está muito boa. Ele conhece muito daquilo, está mais maduro e não está medindo esforços para recuperar o Vasco - disse Horta, que vê avanços nesses 100 dias, mas lembra que falta muita coisa ainda. - Conseguimos recursos de empréstimo para tirar as CNDs, mas o resto que estamos conseguindo são com recursos próprios do clube, juntando aqui, ali, analisando contratos mal feitos de prestadores de serviço. Uma série de questões. O clube estava muito inchado.
Para Horta, a contratação de Dagoberto (reveja no vídeo acima) foi uma prova de que o Vasco está vivo. Com a ressalva de que “não podemos meter os pés pelas mãos”, ele diz que o torcedor vai ter boas notícias em breve. O clube planeja fazer mais duas contratações de impacto para a disputa do Campeonato Brasileiro.
- Temos que ter responsabilidades para cumprir com aquilo que assumimos. Mas vamos ter mais surpresas como essa do Dagoberto.
Ressalvas e ceticismo
Terceiro colocado na eleição de novembro, o advogado Roberto Monteiro considera cedo para avaliar a nova gestão Eurico Miranda. No futebol, ele crê em boas condições para disputar o título estadual, mas mostra preocupação no Brasileiro. Para ele, Eurico ganhou respiro no início da gestão pois dezembro era um mês de férias e "uma gestão no Vasco começa quando a bola rola". O levantamento de R$ 14 milhões para pagar dívidas e retirar as certidões, para o ex-vereador e ex-presidente de torcida organizada vascaína, se deve também a um procedimento natural em início de mandato.
- Qualquer um que entrasse ia buscar essas condições que Eurico buscou. Acho que toda gestão, no início, tem crédito. Temos que ir acompanhando esse processo depois. Agora, ainda há poucas informações disponíveis, o que é normal em se tratando de Eurico, tem uma certa "mordaça" no clube, o que pode até ser positivo nesse começo, mas visualizo sinais positivos por enquanto. - diz Monteiro, que tem realizado reuniões bimestrais com seu grupo político “Identidade Vasco” e se mantém na vida política do clube. - Ainda prefiro aguardar os próximos 100 dias do Eurico. Vejo tudo com um pouco de ceticismo
Novo presidente da "Cruzada Vascaína", que tem a maioria das 30 cadeiras da oposição no Conselho Deliberativo do Vasco, João Marcos Amorim, mostra “preocupação grande” com a ausência de novos contratos com patrocinadores. O vínculo com a Caixa se encerrou ainda na gestão passada e com a Guaracamp no mês de fevereiro.
- O reflexo financeiro da falta de patrocínios é preocupante. Na altura que estudávamos para entrar no clube, a gente sabia que o cenário seria muito complicado mesmo com esses patrocínios. Sem eles, então, fica mais difícil. Apontamos também alguns problemas, como na apresentação do orçamento, que sofreu críticas nossas e a nosso ver não serve como ferramenta de gestão do clube - diz Amorim, que era membro do Conselho Fiscal na última administração e seria vice-presidente de finanças da gestão Julio Brant. Segundo lugar nas eleições do ano passado, Brant não retornou as tentativas de contato do GloboEsporte.com.
Retirada de artigo do estatuto gera críticas
As mudanças no novo texto do estatuto do clube foram aprovadas por ampla maioria na reunião da última segunda-feira, mas deixou de fora um artigo que provocou debate e polêmica no encontro dos conselheiros. João Marcos Amorim critica a retirada do artigo 136, no capítulo 17, das disposições finais, da carta máxima vascaína. O texto fala que um sócio “não pode integrar nenhum dos poderes do clube, sob qualquer forma, em serviço remunerado”.
- Esse artigo não deveria ter sido excluído. A nosso ver não fazia parte da proposta de adequação do estatuto à legislação atual. A justificativa apresentada é de que há outro artigo que faz referência a essa remuneração de associados, mas não faz sentido de que isso fosse retirado. Fomos votos vencidos - lamenta Amorim, que promete “frente única de oposição pacífica, mas firme, atuante e presente”.
Fonte: GloboEsporte.com