Ao cruzar o portão do Complexo Modesto Roma pela última vez, no início da tarde de quinta-feira, Enderson Moreira se sentia mais um na lista de treinadores demitidos neste início de temporada. A versão do Santos é outra. O presidente Modesto Roma Júnior disse ter cancelado uma consulta com o seu odontologista para ir ao Centro de Treinamento Rei Pelé conversar com Enderson sobre suas declarações criticando os jogadores da base e ter sido surpreendido com as reclamações de atraso de cinco meses no pagamento de direito de imagem e de não ter sido atendido em alguns pedidos de contratação de reforços do treinador. Com a insatisfação duas partes teria se chegado a acordo para o rompimento amigável do contrato.
"Não houve demissão e nem pedido de demissão. Foi um acordo entre as partes pela saída. O motivo foi que ele demonstrou insatisfação e disposição de não continuar no clube", disse Modesto Roma Júnior. O dirigente explicou, em coletiva na Vila Belmiro, nesta tarde, que pretendia apenas dizer ao técnico que certos assuntos só podem ser discutido internamente que ele estava se abrindo demais para os jornalistas.
Para os assessores de Enderson, o técnico foi demitido. Alguns dirigentes santistas acreditam que Enderson já estaria apalavrado com o Vasco e começou a forçar a demissão para não ter de abandonar o time em meio à uma competição. Primeiro ao exigir publicamente a troca de Thiago Ribeiro por Walter e depois ao criticar o comportamento dos garotos do elenco. Também foram despedidos o auxiliar técnico Luiz Fernando Flores e o observador técnico Ricardo Leão.
A princípio, o Santos será dirigido pelos interinos Marcelo Fernandes e Serginho Chulapa no jogo contra o Botafogo, domingo, em Ribeirão Preto, pelo Campeonato Paulista. Mas, há a possibilidade de o novo treinador ser contratado nas próximas horas.
O candidato mais cotado no momento é Dorival Júnior, um dos principais responsáveis pelo sucesso do time de 2010 (conquistou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil), logo após a posse de Luis Alvaro de Oliveira Ribeiro, e que foi demitido por fazer questão de punir Neymar, que o desrespeitou publicamente, deixando-o fora de um clássico contra o Corinthians. Outro nome forte é de Vagner Mancini e como terceira opção aparece o ex-zagueiro santista Argel.
"Não adianta treinador que não tenha alma do torcedor santista. Também não dá para pagar mais do que o clube arrecada e o treinador precisa saber é que não vamos prometer salário que não caiba no nosso orçamento. Não vamos agir de afogadilho e contratar técnico com salário de R$ 500, 600 ou 700 mil".
Bem menos do que a demissão de Oswaldo de Oliveira, em setembro do ano passado, pela administração de Odílio Rodrigues Filho, a dispensa de Enderson surpreendeu porque o Santos vem de duas vitórias convincentes diante de Portuguesa e Linense, ambas no Pacaembu, soma 17 pontos no Grupo D, com 11 de vantagem sobre o XV de Piracicaba (segundo colocado da chave) e está perto da classificação às quartas de final do Campeonato Paulista, além de ele ter sido atendido em todos os pedidos de contratações, à exceção de Walter, em razão dos altos salários do atacante do Fluminense e de Thiago Ribeiro, que seria envolvido na troca.
Pela primeira vez desde que chegou ao clube, Enderson demorou mais de meia hora entre o encerramento do treino e a sua chegada à sala de entrevista do CT Rei Pelé para conceder a que seria a sua última entrevista como treinador santista. Segundo Modesto Roma Júnior, ao falar com os jornalistas, o acordo já tinha sido feito. "Combinamos que ele não falaria nada e Enderson cumpriu".
Fonte: Estadão