Os exemplos pipocam mundo afora. Após Anderson Silva ser flagrado com substâncias proibidas, o UFC anunciou que vai aumentar o controle antidoping em seus atletas. A ideia é realizar exames em todas as lutas, além de testes surpresas. Já o governo alemão estuda um projeto de lei para punir envolvidos em caso de doping com até três anos de reclusão.
Porém, enquanto o mundo esportivo caminha para uma fiscalização maior do uso de substâncias proibidas, a Federação de Futebol do Rio de Janeiro (Ferj) anda para trás. Após sete rodadas do Campeonato Carioca, em apenas 34% dos jogos foram realizados exames antidoping. Ou seja, das 56 partidas já disputadas, somente em 19 os atletas correram riscos de passar por algum teste.
Pelo regulamento do campeonato, que foi aprovado em arbitral por todos os clubes, o exame antidoping não é obrigatório. Seja mandante ou não, qualquer clube tem direito de pedir o exame, mas essa solicitação precisa ser feita junto à Ferj até três dias antes da partida. E cabe ao clube que fez o pedido custear o exame, "cujo valor será descontado de sua quota líquida" da partida, conforme diz o regulamento. De acordo com os borderôs, os exames custam de R$ 5 mil a R$ 7 mil.
Na prática, só existem exames antidoping nos jogos dos clubes grandes, que arcam com os custos. Entre os quatro grandes, o Vasco é a única exceção. Em nenhuma partida do Carioca até a sétima rodada o time de São Januário solicitou o antidoping. No clássico contra o Fluminense, pela sexta rodada, foi o clube das Laranjeiras que pediu e arcou com a despesa do exame.
Fluminense e Flamengo são os únicos que fizeram testes em todos os jogos até o momento. O Botafogo, que tem como um dos protagonistas o atacante Jóbson, que já foi flagrado no passado por uso de substâncias proibidas, não realizou antidoping na primeira rodada, contra o Friburguense. Em todas as outras, houve testes.
A situação fica mais dramática quando o assunto são os times pequenos. Enquanto não enfrentam os grandes, nenhum de seus jogadores são testados. Para Serafim Borges, coordenador clínico do departamento de futebol do Flamengo, é um retrocesso a facultatividade do doping no Carioca.
- O ideal seria que o exame antidoping fosse obrigatório. Estamos andando para trás nesse sentido. No departamento de futebol do Flamengo, ensinamos desde a base até o profissional a importância de se competir em igualdade. Além disso, existem os prejuízos que o uso de uma substância proibida pode trazer ao corpo do atleta. No Campeonato Brasileiro, os exames antidoping são feitos em todos os jogos. São a CBF (Confederação Brasileira de Futebol) e seu departamento de controle de doping que arcam com os custos - explicou Serafim.
Custear os exames antidoping é uma mordida significativa na receita dos jogos, principalmente, para os clubes pequenos. Mesmo ficando com 10% da renda bruta de todas as partidas do Carioca, a mais cara entre as federações, a Ferj informa que não existe a possibilidade de pagar os testes. Mesmo que isso afete diretamente a lisura dos atletas que disputam seu principal torneio.
Fonte: O Globo Online