Em dezembro de 2011, o Brasil foi campeão sul-americano sub-15 com um pé nas costas. Venceu Argentina, Colômbia e Uruguai na fase final do torneio, marcando 12 gols em três jogos (4 a 2 em argentinos e colombianos, 4 a 0 nos uruguaios). Se falava muito na qualidade da geração, que tinha um quarteto ofensivo promissor: Matheus Índio, Robert, Caio Rangel e Mosquito. Três anos e dois meses depois, porém, nenhum deles é titular de seu clube nos profissionais.
Logo depois do Sul-Americano, chegou a hora dos quatro renovarem o contrato. E eles pediram alto. Mosquito, artilheiro da competição com 11 gols e melhor jogador, não chegou a um acordo com o Vasco e foi para o Atlético-PR. Sem espaço no Furacão após jogar 16 jogos como profissional em 2014, retornou ao Cruz-Maltino com um cartaz muito menor em 2015.
O caminho é o mesmo de Matheus Índio, que acionou o Vasco na justiça, acertou com o Penapolense, passou pela base do Santos e agora está de volta a São Januário. Na confusão, ele praticamente não jogou em 2014 e perdeu um tempo precioso de sua formação.
Em situação melhor está Robert, que fez um bom contrato com o Fluminense, mas demorou mais do que o esperado para atuar nos profissionais. O meia-atacante, que sofreu um acidente de carro no ano passado, fez bons jogos no Campeonato Carioca de 2015, mas ainda luta para se firmar como titular.
Completava o quarteto Caio Rangel, que deixou o Flamengo sem sequer jogar pelos profissionais, vendido para o Cagliari, da Itália. Lá, segue na luta para se afirmar, mas completa a estatística. Chega a ser irônico o fato de Kenedy, reserva deles no Sul-Americano, ter mais destaque nos profissionais do que os quatro, que têm toda uma carreira pela frente, mostram potencial e ainda podem brilhar nos gramados brasileiro. Mas já não são mais vistos como fenômenos da base brasileira. Nenhum deles, aliás, disputou o Sul-Americano Sub-20 pela Seleção em janeiro.
A dificuldade desses jogadores de se firmar é reflexo de uma realidade: para os principais jogadores da base brasileira, o dinheiro vem antes do sucesso. E tudo isso é arquitetado da seguinte maneira: no primeiro contrato do jogador, ou mesmo antes, os pais vendem um percentual dos direitos econômicos para os empresários. Os mais espertos não pedem um bom salário no primeiro contrato, e sim, no segundo, quando o atleta já tem 19 anos e já há uma perspectiva maior do que ele pode se tornar. Ao clube, resta pagar o que é pedido ou perder o jogador depois do fim do primeiro vínculo, que pode ser aos 19 ou aos 20 anos.
Criam-se, portanto, dois problemas: de um lado, o clube, que longe de ser santo (muitas vezes atrasa salários ou mantém excesso de jogadores no elenco só para não perdê-los para os rivais e atrasa o desenvolvimento deles), é refém da legislação que não permite contratos longos e precisa fazer apostas de altíssimo risco. De outro, jogadores que fizeram o nome com meia-dúzia de gols no Mauaense sub-15 ou no Bonsucesso sub-17 com a vida resolvida antes mesmo de atuar no profissional.
Tudo isso compromete a formação do jogador, pois deixa o futebol em segundo plano. E o empresário, ou o pai que percebeu que a perspectiva de sucesso, e não ele em si, já está se dando bem há algum tempo, surfando na onda de uma fama que garante pelo menos um início de carreira badalado. Mas que pode botar tudo a perder no momento posterior, e exemplos nesse sentido não faltam.
Fonte: Blog Na Base da Bola - GloboEsporte.com