O apelido é de artista. Artista debaixo dos paus. Campeão Mundial e da Libertadores pelo Grêmio, em 1983, e do Carioca pelo Vasco, em 1977 e 1982, o ex-goleiro Mazaropi fez muito mais que arte no futebol. Além da conquista de 18 títulos em 19 anos de carreira, o velho ‘Maza’ ainda pode se gabar de ter um recorde mundial: até hoje é o arqueiro que mais tempo ficou sem sofrer gols em uma mesma competição — no Carioca de 1977, entre 25 de maio a 28 de setembro, por 1.816 minutos.
“O curioso é que só fui descobrir isso em 2003, quando trabalhei como treinador de goleiros no Japão (Consadole Sapporo). O assessor de imprensa me deu a folha impressa com o recorde. Em 2006, fui à Alemanha receber a bola de ouro pela marca. Foi um grande reconhecimento de fora. Aqui no Brasil ninguém falava nisso, nem fala, né!”, relembra o ex-jogador, que hoje mora em uma confortável casa em Esteio, na região metropolitana de Porto Alegre, onde vive com a família.
Desde que abandonou o futebol, em 1992, Mazaropi tem apostado na carreira política. No mesmo ano foi eleito vereador pelo PMDB. Após cumprir o mandato, trabalhou no futebol japonês por sete temporadas. De volta ao Brasil, investiu na carreira de técnico em equipes modestas do Rio Grande do Sul. Nos últimos anos voltou a ocupar cargos públicos ligados ao esporte. Na última eleição foi candidato a deputado estadual pelo PC do B, mas, com 4.721, votos não se elegeu. Fato é que o futebol nunca saiu do seu coração. Sempre que pode vai com os filhos assistir aos jogos do Grêmio, onde é idolatrado até hoje:
“Em seis anos e meio foram 11 títulos, entre a Libertadores, o Mundial, seis gaúchos e a primeira Copa do Brasil. Tenho uma identidade muito grande com o Grêmio, mas no Rio torço pelo Vasco. Não tem como esquecer, devo muito ao Vasco.”
Foi em São Januário, inclusive, que o goleiro começou a carreira. Em 1970, ele chegou ao clube para fazer testes. Mineiro de Além Paraíba, o adolescente de 16 anos chamou atenção mais pela timidez, a simplicidade das roupas e logo ganhou o apelido do comediante Mazaropi.
“Foi o Caju, do juvenil que me apelidou. Ele disse: ‘Chegou o jeca, o Mazaropi’. Ficou até hoje. Mas nunca esquentei a cabeça com isso. Sou mineiro de boa paz”, conta, bem-humorado, o ex-goleiro, que, confessa, às vezes também esquece o próprio nome, Geraldo Pereira de Matos Filho:
“Quando falo o meu nome ninguém sabe. Às vezes, me perguntam e penso antes de responder. Mas sempre digo que é Mazaropi.”
Com o nome do caipira mais famoso no Brasil na década de 1970, Mazaropi foi longe. A sua dedicação aos treinos chamou a atenção do titular Andrada. “Naquela época, prata da casa não tinha vez e o goleiro só estava pronto com 28 anos, mas com 22 substitui o Andrada. Tinha muita coisa dele. Devo muito do meu recorde a ele. O Andrada foi um dos melhores goleiros que vi jogar”, revela.
Com a ida de Andrada para o Vitória-BA e a lesão do reserva imediato, Zé Luiz, Mazaropi ganhou sua chance. E, no primeiro batismo de fogo, na Taça Guanabara de 1976, provou estar pronto. “Defendi os pênaltis do Zico e do Geraldo e fomos campeões”. No ano seguinte, na final do Carioca, o jovem goleiro voltou a brilhar.
“Peguei o pênalti do Tita diante de 160 mil pessoas no Maracanã. Foi uma emoção incrível”, relembra o ex-goleiro, que tinha fama de ser pegador de pênaltis: “Era muito treino. Ficava uma hora e meia treinando com o Roberto Dinamite, que era exímio cobrador. Com o tempo, estudei o posicionamento dele, o pé de apoio e fui pegando a malandragem dos batedores.”
Feliz pela sua trajetória no futebol, Mazaropi só guarda uma tristeza: “No jogo do Vasco contra o Bahia, em 1976, falhei. Minha mãe estava muito doente e morreu na semana seguinte. Fiquei mal, cheguei ao fundo do poço. Se não fosse pelo apoio da minha família, do Abel e do Zanata, não teria voltado ao futebol. Mas hoje quando olho para trás só tenho a agradecer a família maravilhosa que tive e por ter sido vitorioso no futebol.”
Fonte: O Dia