Euriquinho não tem a caneta, não assina cheques, ordem de pagamento e, a rigor, não tem cargo ou dá a última palavra no Vasco. Mas o filho de Eurico Miranda, nesses primeiros meses da volta ao poder do pai em São Januário, assume um protagonismo claro na nova era do dirigente no clube. Aos 37 anos, Eurico Brandão, tratado como Euriquinho desde que viajava com o time ainda com seus 10 anos de idade, minimiza suas atribuições. Ele diz que funciona mais como “um filtro” para assuntos que podem chegar à presidência. Desde a campanha da volta ao clube é mais que isso. Ele foi articulador político e fez meio de campo com pessoas influentes, como o presidente da Unidos da Tijuca, Fernando Horta, que passou de possível rival a aliado, e o empresário de futebol Carlos Leite, que processou seu pai na Justiça e agora virou parceiro.
Na sala própria, que fica ao lado do departamento jurídico, uma foto-pôster gigante do pai puxando o tradicional "casaca" da vitória da última eleição de novembro se destaca. Ao longo da entrevista, recebeu funcionários do clube para analisar contrato de jogador e também para opinar sobre as obras no parque aquático desativado. Na mesa, telefones de empresários, lista com a folha salarial do futebol profissional, de relacionados para a Copa São Paulo de juniores e um bloquinho de anotações que ganhou de presente com a assinatura impressa “Eurico Miranda - Euriquinho”. O bom relacionamento que criou no meio do futebol, segundo o filho de Eurico, vem do convívio no meio, ainda da outra gestão, e do tempo que passou fora do Vasco, com seu escritório particular de advocacia atuando na transação de jogadores.
No espaço dentro do clube, ele recebe empresários, agentes, discute salários e propostas, em contato direto com o técnico Doriva e consultas obrigatórias ao pai e ao vice-presidente de futebol José Luis Moreira. Benemérito - não remunerado para a atual função, como ressalta -, ele vê o pai como espelho, o que se reflete no jeito de falar – quase sempre na primeira pessoa do singular ao se referir as ações no clube -, mas também num certo esforço para refletir e evitar as inúmeras polêmicas que acompanhou de dentro de casa ao longo da trajetória de Eurico. A entrevista completa com Euriquinho, sem deixar de fora alfinetadas a rivais, defesas ao pai e às contratações realizadas até agora, o GloboEsporte.com publica abaixo.
GloboEsporte.com: Como filho do presidente, você participava da última gestão na presidência do seu pai. Mas agora atua mais diretamente, principalmente no futebol?
Quando meu pai assumiu como presidente, em 2001, passei a efetivamente trabalhar no clube. Antes eu acompanhava, como colaborador, mas desde que ele virou presidente passei a atuar diretamente no clube. Tinha 23 anos e fazia jogo, ajudava na operação do estádio, já com uma assessoria à presidência. Fora do Vasco nesse tempo, atuei como advogado muito nessa parte de transferência de atletas, no direito desportivo, e fiz muito contato com dirigente e com atletas. E agora fiquei mais próximo do futebol, até porque tenho relação muito boa com o Zé Luis (Moreira, vice-presidente de futebol).
Angioni disse recentemente que pouco tem participado das negociações, que estão mais a cargo do vice de futebol. Como tem sido essa sua função agora?
Hoje estou meio que filtrando as ofertas para a comissão técnica. No futebol tem muita oferta, então tem que ter alguém filtrando as coisas. Faço um filtro para não sobrecarregar o Zé Luis e não sobrecarregar meu pai. Levo primeiro para a comissão técnica, vejo se interesse, se tem condição, depois levo para o vice-presidente e para o presidente, para ver se se encaixam ou não. Mas não estou só ligado ao futebol, tenho que fazer outras coisas. Tem 10 caras querendo conversar sobre a situação da piscina. Falo antes com eles para o presidente não ter que receber as 10 pessoas. Se não fizer isso, fica um tumulto na presidência. Como sou pessoa de confiança, vejo o que é interessante de levar ou não para a presidência. Mas não tenho decisão direta em nada, encaminho e levo para tomar as decisões com os vice-presidentes de cada área. Como tenho boa relação com os vice-presidentes de cada área, isso facilita. Não assino documento nenhum, passo a parte burocrática para meu pai, pra o Angioni e para o Zé Luis. Eles me escutam, ouvem minha opinião, até porque tenho relação de amizade com Zé Luis, mas quem decide é ele, ele e o presidente.
Seu cargo é remunerado?
Formalmente não tenho cargo, sou benemérito do clube, não sou remunerado. Sou advogado. Tenho escritório de advocacia, meu escritório próprio, meu pai tem o dele e eu tenho o meu.
Deve haver uma resistência das pessoas que vêm e sabem que vão sentar para negociar com o filho do Eurico, não há?
Você ser filho do presidente traz umas resistências naturais, mas encaro isso com naturalidade. O cara acha que você está ali só porque é filho, que não tem capacidade, que não tem articulação suficiente para tal, mas depois que conhecem encaram com naturalidade.
Seu pai criticou recentemente a gestão de profissionais, dizendo que não funciona no clube. Esse modelo com o gerente Angioni e os amadores, você e o Zé Luis, é o que será adotado no Vasco? É o que funciona no clube?
O modelo que funciona no clube é o que tem a decisão final do amador. O profissional está preocupado em renovar o contrato. Se vai assumir dívidas para montar um time, ele assume, porque no final do ano pode ser que ele não esteja aqui. O amador tem a preocupação de fazer aquilo ali para futuras gerações. O profissional não está preocupado com isso, ele tem que mostrar resultado imediato para renovar o contrato dele ou para seguir para outro clube. É como o treinador. O que ele quer? Quer que sempre que se contrate cada vez mais. Claro, o time fica forte e ele pode andar. Agora, a responsabilidade em relação ao ano seguinte, o outro ano e o outro ano é do cara amador. O amador vai ficar no Vasco, não vai para o Flamengo, como é o caso do Rodrigo Caetano (ex-diretor de futebol do Vasco). Quem paga as contratações que foram feitas? O clube. Hoje, no Vasco, se formos enumerar, vamos lá (pega uma folha dos atletas e passa a citar um por um): Martín Silva, contrataram e não pagaram. Falta pagar transferência, comissionamento e luvas, uns US$ 400 mil que deve. Rodrigo, veio livre, contrataram e não pagaram comissionamento. Dividiram, sei lá, em 15 vezes. Pagaram uma! Luan, assumiram luvas no contrato, não pagaram. Marlon, contrataram e não pagaram. Guiñazu, contrataram e não pagaram. P..., contratar assim é mole. A gente contrata o Messi, o Neymar. Montoya, compraram por US$ 1,5 milhão de dólares, até hoje não pagaram. Não tem um jogador do elenco principal para quem não deviam. Jordi não deve, porque já era daqui. Nei, devem, não pagaram. Anderson Salles, contrataram e não pagaram. Sandro Silva, não pagaram. Matheus Índio, combinaram e não pagaram. Bernardo, combinaram, não pagaram. Aranda, fizemos acordo com empresário, temos bom relacionamento, eles abriram mão do que devia a ele e trouxemos o Julio dos Santos. Ou seja, não tem um que eles contrataram e pagaram. Do que adianta contratar assim? Ainda deixaram três meses de salários atrasados, a ponto de todo mundo ir na Justiça para conseguir a rescisão. “Ah, são profissionais”. Não estou questionando se o cara trabalhou mal ou bem, não sei se a diretoria falou “contrata, que eu vou pagar”. Também tem isso, o executivo do futebol às vezes vê que tem orçamento de tanto para gastar, aí chega na hora o cara vai lá e não paga.
Mas Eurico também deixou inúmeras dívidas para a gestão anterior, o que sempre foi citado nesse tempo todo da gestão Dinamite.
Mas que dívidas, o cara tem que dizer? O Vasco na gestão do Eurico tem dívida de 2000 a 2002, período que não teve receitas. Se pegar dali para frente não tem dívida, qual jogador que foi para a justiça?
Mas o Abedi, semana passada, ganhou na Justiça contra o Vasco por dívidas trabalhistas.
Ele pediu fundo de garantias e direito de arena, qualquer clube do Brasil está sujeito a isso, mesmo que pague em dia. Direito de arena, por exemplo, é 5%, que é do acordo coletivo, que o sindicato paga. Tem vários atletas entrando na Justiça cobrando 20% direito de arena. Todo mundo deve, porque ninguém pagou isso. Alguns juízes dão 5%, outros dão 20%, então o cara vai ganhando essas coisas. Agora, empresário, procura um que fala de jogador que foi comprado e não pagamos. É muito difícil achar isso. Vai achar um caso, porque brigou no meio, não concordou com algum termo. Agora, são todos hoje, todos! Não é uma coisa assim “ah, esse caso aqui deu uma confusão e não conseguimos pagar”. Mas todo mundo? Fora os que já foram embora. Vou citar um caso: Fágner, lateral. Venderam o cara, ao invés de repassar o que deviam ao jogador, gastaram o dinheiro. Agora a gente tem que pagar pelo dinheiro que receberam do Fágner e não pagaram a ele. Devem ao jogador uns 500 mil euros. Isso é gestão profissional? Você chegar aqui e ter que pagar R$ 14 milhões de impostos atrasados? Quando eles (gestão Dinamite) assumiram tinham as certidões negativas para poderem assinar com a Eletrobras. Agora eles deixaram (CNDs) para a gente renovar com a Caixa? Isso é profissional? O amador estava errado? “Ah, tinha dívidas das gestões anteriores”. Claro, pô, quando Eurico assumiu também tinha dívidas das gestões anteriores. Dívidas de fundo de garantia o Vasco não pagava, sei lá, desde 1950, 1960. Aí pagou uma, outra, parcelou outra. Quando se entregou o clube, tinha certidões, o que significa que as dívidas estavam equacionadas.
Como foi montado esse elenco atual?
A gente assumiu sem R$ 1 real e fomos atrás de parceiros para pagar impostos. Estamos contratando sem dinheiro nenhum. Estão vindo jogadores só pelo salário. O cara (empresário) querendo apostar em jogador, acreditando em atletas que não estão em evidência no mercado, empresários que estão abrindo mão de comissionamento. O cara fala “vamos fazer porque a gente quer voltar a ser parceiro do clube” ou vai fazer porque tem interesse em clube grande, empresário que é vascaíno, tem nosso relacionamento de anos.
Por falar em empresário vascaíno, um caso notório é do Carlos Leite. Seu pai já foi processado por ele, quando o chamou de frouxo. Como foi essa aproximação?
Futebol é assim mesmo, tem brigas, depois passa. Meu pai é um cara impulsivo, ele vai na emoção. Eu também tenho isso, mas por tê-lo como espelho, tento parar para refletir melhor. Apesar de impulsivo, é um cara de bom diálogo. (Eurico) é um cara que briga, mas senta para dialogar no dia seguinte. O caso do Carlos Leite foi exatamente esse. Brigou com o cara, entendeu que o posicionamento do cara era diferente. Procurei o cara, sentamos, ele disse “não é bem isso, quero ajudar, sou vascaíno”. Hoje encaro como possível parceiro do clube. Outro caso foi do Claudio Guadagno, um cara que lá atrás brigou com a gente. Ele era empresário do Juninho, que tem briga até hoje com a gente por causa disso. E o Claudio agora tem relacionamento bom, tem jogadores na base e trouxe o Jean Patrick.
Chamou a atenção nesse início o número de contratações de jogadores de qualidade questionável. Grande parte foi rebaixado recentemente. Por que não usar os jogadores da base, que mostraram muito talento na Copinha?
A geração da base que é muito boa, mas é muito nova. Não tem como criar expectativa, por exemplo, de um Evander jogar no profissional agora. O garoto tem 16 anos, tem que ser adaptado ao profissional aos poucos. Ele não tem formação física de homem para jogar no profissional hoje. Você não tem casos assim no futebol com 16 anos do cara no profissional. Nem o Neymar foi tão cedo (Nota da redação: o craque do Barcelona estreou no Santos em março de 2009 aos 17 anos). O Caio (Monteiro) tem 17 anos. São muito novos. Esses, que são as reais promessas nossas, são muito novos. São jogadores que precisamos adaptá-los ao profissional esse ano. Eles vão treinar no profissional, vão ter acompanhamento do Caprres (centro de saúde do Vasco), que é nosso grande investimento do ano, para fortalecimento, criação de estrutura muscular, de tudo, para formação do atleta, realmente.
Mas é um número muito alto de contratações de qualquer jeito?
Quando você vai apostar em coisas baratas, você tem que ter opção: não deu certo, toca a vida. Você não pode ficar só com ela (essa opção). Ninguém faz um time gastando o que a gente gasta, não tem como. Três jogadores do São Paulo ganham mais do que a nossa folha inteira. E a gente vai lá e joga de igual para igual com eles. Nossa folha é de R$ 2 milhões, R$ 2,5 milhões, no máximo. Os outros times têm R$ 8 milhões, R$ 9 milhões. E não pagam. Eles fecham o ano com R$ 80 milhões negativo. E chega lá fazemos jogo igual? Para montar time vencedor hoje no Vasco só tem essa solução. Apostar nuns caras, aí chega no meio do ano, aposta em mais alguns, aí chega no final do ano, aposta em mais garotos da base. Aí você vai montar um time que ainda não ganhe muito dinheiro, mas que na frente pode ganhar muito dinheiro. E que vai jogar de igual para igual com time que ganha muito dinheiro, que foi o que Cruzeiro fez com Ricardo Goulart, com Everton Ribeiro. Os caras foram para lá saindo times de pequena expressão, rodaram lá e virara fortunas. O caso do Lucas, do Macaé: o jogador entrou bem no time. Qual diferença do Lucas para um monte que tem aí que ganha muito mais? Diferença do Lucas para o Cáceres (volante do Flamengo)? O Cáceres ganha 10 vezes o que ele ganha. Ele é 10 vezes melhor que o Lucas? Isso que o torcedor tem que analisar. “Ah, não é jogador de Vasco, o outro é melhor”. Mas quanto esse melhor ganha? Isso que tem que pensar.
As contratações também receberam críticas por que seriam de amigos do presidente, porque têm a ver com apoio na campanha para a presidência.
Normal de falarem, de criticarem. Qual jogador da Brasport tem no Vasco? Nenhum. O Erick Luis é do Carlos Leite. O Victor Bolt é do Leandro e do Felipe, dois empresários novos. O Bolt pertence ao Madureira, não tem nada a ver com Brasport. Erick Daltro é o único que tinha algum vínculo com o Olaria. Falaram que tinha quatro, cinco… Eles vieram de graça e o Vasco vai pagar só o salário. Se o jogador não for bem, o empresário tira o jogador daqui. Quer risco melhor que esse? Meu risco é só pagar salário pequeno durante período curto. É a única maneira nossa hoje de fazer futebol.
Por que não deixar de contratar dez apostas ou jogadores questionáveis para contratar um de retorno mais certeiro?
Esses 10 não pagam um de R$ 100 mil, 150 mil. Fora Marcinho, que ganha salário alto, Julio dos Santos, que ganha salário razoável. Só esses dois. O restante são todos jogadores baratos. Todos eles juntos não dá um desse (mais caro). “Ah, era melhor um”. Mas eu preciso dos outros também. Senão não tenho grupo, como é que eu faço? os caras deixaram aqui 14 jogadores.
Por que o Vasco não renovou com quase ninguém e só ficou o Douglas Silva?
Primeiro que eles ganhavam muito e tinham rendimento que não valia a pena. Hoje, eu vou pagar R$ 100 e tantos mil para um jogador podendo pagar R$ 30 mil, R$ 40 mil, R$ 20 mil? Uma coisa é analisar jogador, “ah, esse é bom, esse é ruim”. Não é assim tão simples. Tem que analisar: esse custa R$ 150 mil e esse custa R$ 20 mil. Agora me diz quem é o bom e quem é o ruim. “O Marcinho é bom”, está bem. Mas ele custa isso. O outro custa tanto. Qual o bom agora? Torcedor tem que analisar pelo que estou gastando, não pelo que o jogador representa. O Gilberto que chegou agora, não sei se ele vai ficar. Tem que analisar quanto custa, se realmente ele vale a pena. Não temos como pagar R$ 20 mil, R$ 30 mil para 20 jogadores e pagar R$ 300 mil para um. Ele não vai jogar sozinho. Pago R$ 100 mil e pouco para todo mundo, R$ 200 mil para um ou para outro, para não ficar uma distância. Agora, jogadores de R$ 200 mil e pouco e outros de R$ 10 mil, de R$ 15 mil - tem jogador no Vasco que ganha R$ 10 mil! -, não dá. Não posso trazer jogador de R$ 300 mil. É um disparate muito grande. Escolhemos um ou dois caras de mais nome, de mais peso, aí vem tem outros garotos, mesclando, assim consigo pagar e quem sabe vai conseguir disputar. Pelos dois jogos que fizemos: é melhor gastar R$ 10 milhões e fazer o que o São Paulo fez (em Manaus) ou é melhor gastar R$ 2 milhões e fazer o que a gente fez? Não sei. Na frente queremos ter um time de R$ 10 milhões e poder pagar. A realidade, hoje, é que ninguém pode pagar. Eles pagam, mas não sei como.
O Vasco procura um atacante e dispensou Edmilson. Não era mais fácil ficar com ele?
Edmilson era um jogador caro. E a gente entendia que precisávamos de uma mudança de ares. Jogador que entrou pouco no segundo semestre, um cara com certa idade e tal. E queremos investir no Thalles, que está na seleção. Se a gente contrata muito, não revela ninguém. Não pode sufocar teu time com uma porrada de jogador de R$ 100 mil e pouco e o que joga ganha R$ 20 mil. Não adianta, não vamos fazer, não tem como.
Nessa sua posição agora, como filho do presidente que participa ativamente do futebol, está preparado para receber críticas?
Torcedor quer ganhar o jogo. Se ganhar, é bonito, se perder, é feio. Não interessa. São 20 clubes, só um ganha. O que ficou em segundo é uma porcaria. Só que temos que ter cabeça fria para fazer um trabalho e tentar resgatar o Vasco como um todo, não por um ano. Temos que tentar reconstruir uma história vencedora no clube. Não se faz uma história vencedora de um dia para o outro. Se faz apostando em caras novos, baratos. Aí se monta um time que ninguém acredita e daqui a seis meses, um ano, um ano e meio quem sabe você tem time forte, que vai adequando jogadores da base, vai dando oportunidade. Ou você vai para a loucura e tira o peso das costas, a responsabilidade da crítica, porque se você contrata jogador de nome e o torcedor vai adorar. Ou não se contrata e se está sujeito à crítica, mas pelo menos no final do mês a gente vai estar com a consciência tranquila de que pagou os caras. Vai poder andar lá, entrar no vestiário. Os jogadores falam: “pelo menos vocês estão aqui todos os dias, olham na nossa cara. Antigamente as pessoas fugiam da gente”. Nossa prioridade é investir pesado na parte de estrutura, de equipamentos, do Caprres. Acreditamos no potencial do Alex Evangelista (coordenador científico do clube), um cara com visão enorme no futebol, que tem experiência com atletas de alto rendimento. E vamos botar o jogador mediano para correr 10 vezes mais que o bom. Vamos ver se eles vão ganhar.
Se fechar com Gilberto, não contrata mais ninguém agora?
Hoje, estamos atrás de duas peças só, um homem de frente de lado de campo e um atacante. O de área pode ser o Gilberto. Se ele não vir, vamos ver outro para ter opção para o Thalles. Temos o Romarinho, que é uma aposta, mas ele está muito aquém ainda fisicamente. Ele até surpreendeu todo mundo aí na pré-temporada. Foi bem, mostrou que não joga só porque é filho do Romário, isso (o peso) às vezes mata um jogador. Na análise técnica de todo mundo que vê se ele não fosse filho do Romário estava jogando normalmente. Não sei se no Vasco ou num time mais modesto. As pessoas dizem, “ah, deixa ele aí, não vamos nem olhar direito”. Agora, chega nos treinos ele mostra um desempenho bom que a gente já conhecia porque foi formado aqui e o acompanhamos desde pequeno. Tem característica forte de área, gosta de entrar na área para fazer gol. É audacioso, um jogador interessante. Não sei se vai virar jogador no Vasco, mas garanto que se ficar aqui dedicado como está, acreditando que pode virar jogador de futebol, porque ele ainda ainda não é, pode ajudar. Ele pode ser encarado como jogador de futebol, independente do pai ter sido um ídolo do futebol. Eu como filho de uma referência entendo isso. É difícil você trilhar seu caminho com uma referência tão forte como eu tenho e ele tem. Apesar de grande parte das pessoas não querer aceitar isso, Eurico Miranda é a maior referência de dirigente do Brasil. Pergunta a qualquer um, dirigente, jogador, empresários, presidentes de clubes, até imprensa, por mais que seja antipático a alguns, as pessoas reconhecem que ele é uma referência. É difícil, para mim, começar na parte diretiva. Os caras falam “teu pai que é o cara. você está aí porque é filho dele, se não fosse isso, não estaria”. É a mesma coisa que acontece com o Romarinho. Eu, como acredito que posso ter sucesso, que tenho conhecimento de Vasco, que estudei, conheço as pessoas do Vasco, posso trilhar meu caminho. Sei da dificuldade de ter espelho como ele, mas procuro fugir isso.
Seu pai hoje está mais afastado do futebol?
Meu pai ainda é a mão de ferro, a mão pesada no clube. O consulto o tempo todo. Na verdade, o futebol do Vasco, se não tiver ele lá olhando, não é a mesma coisa. Ele tem uma percepção de vestiário, de comportamento de atleta, de tudo, que ninguém tem. Isso aí é o feeling que é dele. A gente tenta aprender, mas tem coisas que não se aprende. Ele chega, olha na cara do jogador, e já sabe o que está acontecendo, o que está precisando. Tem jogador que tem um pouco de receio, mas são os que não conhecem. Os que são daqui já conhecem como ele é. Na verdade, é o contrário do que muitos pensam. O que ele mais faz é dar força para os jogadores. Esse negócio de que cobra para caramba, não é assim. Agora mesmo aconteceu: eles voltaram de Manaus, no domingo, meu pai chamou eles para uma reunião, eles estavam todos na expectativa de que seriam cobrados e foram elogiados. No futebol, você tem que agradecer ao jogador quando ele trabalha. Nós até agora só podemos agradecer ao jogador. Se o resultado vai dar certo ou não, tem uma porrada de nuancezinhas que existem. Uma fatalidade, lance que juiz não deu impedimento. Acontecem essas coisas no futebol. Agora, se você está vendo que o cara está trabalhando, dedicado, focado, como reclama do cara? como vai questionar? não tem como. tem que dar força para trabalhar mais e melhorar cada vez mais.
Fonte: GloboEsporte.com