Nunca a palavra “determinação” teve o significado tão intenso quanto na vida do jovem atacante amazonense Daniel Pessoa, de 19 anos. O atleta do Vasco da Gama, que foi um dos destaques do clube de São Januário na Copa São Paulo de Futebol Júnior deste ano, acaba de fechar contrato de cinco anos com equipe carioca e vai compor o elenco principal da equipe. O centroavante cruzmaltino teve uma infância marcada pela pobreza e por dramas familiares, mas encontrou no futebol o caminho da redenção. O camisa 9 das divisões de base do Vascão falou ao CRAQUE com exclusividade sobre sua trajetória e a expectativa de arrebentar no time comandado pelo técnico Doriva.
Das ruas do bairro Praça 14, na Zona Sul de Manaus, para o bairro de São Cristóvão onde fica o estádio de São Januário, o veloz atacante passou por grandes dificuldades e grandes tragédias familiares antes de estourar com a camisa do Vasco. Órfão de pai e mãe, Daniel Pessoa tem poucas lembranças do pai, que foi morto pela polícia quando o jogador tinha apenas três anos de idade. Essa foi a primeira grande perda em sua família.
O garoto, que adorava bater uma bola com os amigos na pracinha do bairro, deu seus primeiros chutes sob o comando do professor Iranildo com o time de futsal do Recanto da Criança. A passagem das quadras para os gramados veio quase por acaso em 2005, quando Daniel acabou ficando amigo da família de um companheiro de equipe que um dia lhe convidou para passar as férias no Rio de Janeiro.
Chegando na Cidade Maravilhosa o menino de nove anos fez um teste no Vasco da Gama e acabou sendo aprovado. Como a família de Daniel era muito humilde e não tinha condições de custear sua estadia no Rio, o determinado garoto passou a morar na casa dos parentes dos amigos. Foram dois anos e meio até se mudar de “mala e cuia” para São Januário, onde viveu por quase quatro anos.
Nesse meio tempo, enquanto o jovem atacante se tornava um fenômeno nas categorias de base do Vasco, sendo artilheiro desde o mirim até os juniores, eis que a vida lhe impôs a segunda grande perda. Em 2008, com problemas pulmonares, a mãe de Daniel faleceu e o jogador nem pode acompanhar o seu enterro.
“Foi muito difícil. Nem pude ir ao enterro da minha mãe. Já havia perdido meu pai muito cedo e minha família acabou se tornando o Vasco. O clube me acolheu e agradeço muito por isso”, afirmou o camisa 9 do Vasco, que marcou quatro gols na Copinha, além de ter dado passes preciosos para os companheiros marcarem.
Força da nova família
A distância e as perdas forçaram Daniel a estreitar a amizade com os companheiros de concentração. Foram vários Natais longe dos familiares e isso marcou bastante o jogador que se emociona ao lembrar dos tempos de solidão no alojamento de São Januário. “Sentia muita saudade. A base familiar é tudo e isso me fez muita falta”, revelou o atacante que hoje comemora outras conquistas.
“A família da minha esposa acabou se tornando a minha. Perdi meus familiares e hoje criei minha própria família”, festeja o pai da pequena Manuella, de apenas oito meses, que não perdeu tempo e em breve será pai pela segunda vez. “Minha esposa está grávida e ela fala que vai ser um garoto. Estou mito feliz por ser pai de novo”, revelou o jovem artilheiro vascaíno.
Mesmo eliminado pelo Cruzeiro na Copinha, a campanha do Vasco foi considerada muito boa e parte disso se deve ao desempenho de Pessoa. O atacante comentou o momento do time principal em 2014, onde jogou a Série B e não agradou muito aos torcedores vascaínos. “A torcida cobrou muito, pois o time não rendeu o esperado. Não tive chance de atuar no time principal. Estava bem e acho que merecia uma chance. Mas tudo bem, meu momento agora é melhor e estão me olhando de uma forma especial. Tomara que eu tenha minha chance”, explicou o camisa 9 cruzmaltino.
Três perguntas para
Daniel Pessoa, atacante amazonense do Vasco
1) Agora que você será integrado ao elenco profissional do Vasco. Qual o seu principal objetivo no clube?
Manter o foco e conseguir uma vaga no time principal. Para isso eu tenho de continuar treinando forte e me concentrar bastante no que a comissão técnica vai pedir. Tenho certeza que com minha determinação eu vou conseguir meus objetivos e me tornar titular na equipe.
2) Qual o momento mais triste em todos esses anos em São Januário?
Foi no ano passado. Eu estava com uma contusão no adutor da coxa direita. Foi chato. Não podia jogar e a antiga diretoria não queria renovar comigo. Foi um momento difícil em que eu fiquei muito triste com a situação. Mas eu me recuperei no final do ano e me preparei bem pra jogar bem a Copa São Paulo.
3) E qual o momento mais feliz com a camisa do Vasco da Gama?
Esta sendo Agora. Eu Fiz uma boa Copinha. Tive boas atuações, dei passes pra gols, sofri pênalti. Estou muito bem fisicamente e acabo de fechar um bom contrato com a equipe. É claro que quero muito mais durante a temporada. O ano está apenas começando. Quero dar muitas alegrias ao torcedores do Vasco. Vem muita coisa boa ainda.
Fonte: A Crítica