Convocado por Zagallo para a Copa do Mundo de 1998, o ex-volante Doriva encerrou a carreira aos 35 anos devido a problemas cardíacos. Passados sete anos, ele inicia nova fase de sua vida, agora como comandante do Vasco. Doriva garante estar 100% pronto pa
“O torcedor sente quando tem uma equipe que sabe ocupar espaços e pressionar o adversário”
Os times estão gastando menos, inclusive o Vasco. O futebol brasileiro estava fora da realidade?
Isso fica evidente pela saúde financeira dos clubes. O mercado continua inflacionado, e o clube tem que trabalhar dentro da realidade dele. Se você gastar mais do que ganha, é uma matemática simples... É difícil você competir com os mercados europeu e asiático. Eles têm muito dinheiro. O Brasil tem jogadores que vão ganhar mais até pela qualidade, mas está muito inflacionado.
Como conciliar isso com a expectativa da torcida de um clube como o Vasco?
Tem que ter uma equipe competitiva, que, ainda que não tenha tantos jogadores de nível A, convença os torcedores de que é uma equipe consistente e que vai ter resultado por jogar um futebol voluntarioso, solidário e envolvente. O torcedor sente quando tem uma equipe que sabe jogar, que sabe ocupar bem os espaços, que sabe pressionar o adversário em casa, que sabe ser um visitante que o adversário teme. A maneira de equilibrar é ter um respaldo que a equipe dá através da performance.
São Januário tem que ser o caldeirão do Vasco?
Sim, a história mostra isso. São Januário sempre foi um palco em que os adversários tremeram. Temos que resgatar esta afinidade. O jogador do Vasco tem que conhecer o campo. A gente tem que ser forte em casa. Logicamente, contra equipes do mesmo patamar, os jogos vão ser difíceis, você não vai exercer um controle o tempo todo, mas tem que propôr o jogo, tomar iniciativa, jogar para frente, pressionar. Se as coisas vão acontecer, isso depende da situação de cada partida.
Você teve uma passagem longa pela Europa e jogou em Portugal, Espanha, Itália e Inglaterra. Qual ensinamento pode trazer para o Vasco?
Eu sempre fui um jogador tático, mesmo quando jogava no Brasil, mas eu amadureci muito neste aspecto nos quatro países, cada um com sua particularidade. Isso me enriqueceu como jogador e hoje utilizo muitas coisas do que vivi como treinador.
Os treinadores europeus estão num estágio mais avançado do que os brasileiros?
Não diria assim. O Brasil é um grande celeiro de treinadores. Obviamente, quando um técnico emigra e tem sucesso, ele abre portas. E isso não aconteceu muito. É preciso que isso aconteça para que aquele mercado comece a acreditar nos treinadores do país. É normal. O Brasil já teve hegemonia no mundo árabe e no Japão. Não que o treinador brasileiro esteja para trás. Ele tem procurado se atualizar e, neste mundo globalizado, as informações estão aí. Logicamente os mais interessados aprendem.
Na Europa, alguns treinadores participam diretamente na contratação dos jogadores. Aqui no Vasco, você teve esta participação?
Eu tenho sentado bastante com o Euriquinho ( filho de Eurico Miranda), que está à frente das negociações, e indicado alguns jogadores para que as contratações tenham o perfil do que eu creio ser fundamental para a equipe. Temos dificuldade porque o mercado está muito competitivo. Teve jogadores que estávamos planejando trazer e já perdemos, mas é assim. Como a gente sai na frente com alguns atletas, outros clubes também conseguem. Mas temos tentado montar uma equipe bem forte e competitiva com jogadores que possam ganhar ainda mais projeção. Atletas que foram bem na Série B e podem dar um salto aqui no Vasco. O meu desafio é fazer com que estes atletas entendam que isso é uma grande oportunidade. Trabalhar no Vasco pode abrir as portas do mundo para eles.
O Carioca é prioridade ou só um teste?
É fundamental que a gente consiga montar uma equipe. Se chegarmos a ser campeões do estado, isso nos credencia a fazer uma boa campanha no Brasileiro. Logicamente, vamos diagnosticar uma ou outra posição que deixou a desejar porque não se acerta 100%. Serve como observação, mas é um título importantíssimo que vamos fazer de tudo para conquistar.
Este ano o Vasco vai lutar apenas para permanecer na Série A do Campeonato Brasileiro ou dá para ser um pouco mais otimista?
A Série A é dificílima. O que vai te dizer se você vai brigar para permanecer ou buscar algo a mais é a competição. Isso é difícil de prever. Você tem que entrar bem, forte e buscando o título. Um clube como o Vasco tem que pensar lá em cima.
Você encerrou mais cedo a sua carreira aos descobrir problemas cardíacos. Com se sente hoje?
Eu estava jogando no Mirassol e tive uma alteração cardíaca. Refiz os exames logo depois e nada foi constatado. Assim como surgiu o quadro que surgiu e desapareceu. Foi um problema momentâneo. Tenho um coração forte para aguentar as emoções. Hoje, estou 100% e posso até jogar peladas. Parei com o futebol profissional porque não queria correr riscos. Eu até poderia ter voltado, mas já tinha mudado de foco.
Com 42 anos, acha que a chance num grande clube, como o Vasco, chegou de forma rápida?
As coisas sempre aconteceram no momento certo na minha vida. Estou muito feliz e quero fazer um grande trabalho para me consolidar no mercado, que é competitivo como o mercado de atletas. Nada melhor do que um clube com a tradição do Vasco para você se projetar.
Fonte: O Globo
