Luis Fernandes fala de provável saída do Ministério dos Esportes e apoio a Eurico

Terça-feira, 30/12/2014 - 00:29
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Luís Fernandes, durante a entrevista para o GloboEsporte.com Luís Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte de Aldo Rebelo, que assumirá a pasta de Ciência, Tecnologia e Inovação, confirma: a tendência é que acompanhe o ministro, o que será definido em conversa entre os dois nesta terça-feira. Desta forma, o responsável por apaziguar os momentos mais críticos da preparação brasileira para a Copa do Mundo deste ano, não deverá permanecer na função na nova composição do Ministério, que passará a ser comandado por George Hilton. Em entrevista ao GloboEsporte.com, o executivo que tocou, pelo governo, o dia a dia da preparação e organização do Mundial deste ano, evita dar opinião sobre as mudanças, mas alerta que o principal problema, agora, é estabelecer um modelo de governança semelhante ao da preparação da Copa para as Olimpíadas, o que estava previsto para o início de 2015.

De acordo com o secretário, os escândalos recentes de corrupção no país, que ganharam o noticiário internacional, não afetam em nada a relação entre o governo brasileiro e a organização das Olimpíadas. Fernandes diz que este não é um problema exclusivo do Brasil e há uma "maturidade" dos organizadores e empresas parceiras em relação ao tema. Ele nega ter recebido qualquer tipo de questionamento ou pressão da Fifa por conta da prisão de um executivo da Match sob acusação de envolvimento com uma quadrilha de venda ilegal de ingressos da Copa do Mundo e conta que aplicou sua experiência em relações internacionais - é professor - para que o "chute no traseiro" fosse deixado de lado. Entre os erros na organização brasileira, ele analisa que colocar na mesma matriz de responsabilidade os investimentos para a Copa e investimentos que foram antecipados por causa da Copa foi um grande equívoco.

Com uma bandeira vascaína na mesa e usando um relógio com a Cruz de Malta, Fernandes também não se furtou a falar da sua paixão, o Vasco. Muito menos da sua relação com o presidente do clube, Eurico Miranda. O secretário do Ministério do Esporte é também presidente do Conselho Deliberativo do Vasco na atual gestão. Fernandes contou ter consultado o departamento jurídico do Ministério e que recebeu a posição de que só haveria conflito de interesse no caso de assumir uma função administrativa. Ele reconhece que, confirmada a mudança de área, a questão "não se aplica mais", quando indagado se isso poderia fazer com que se aproximasse ainda mais do clube.

Sobre Eurico, diz ter uma visão "sem preconceitos". A sintonia fica evidente quando Fernandes responde sobre o cartola e de pronto bate firme em um dos principais pontos de campanha de Eurico, a rivalidade com o Flamengo. Não admite, por exemplo, como o dirigente, que o Vasco se coloque em uma posição de aceitar menos do que o Flamengo recebe pela transmissão de seus jogos e assegura que os números de audiência não explicam a diferença de valores.

Confira a entrevista do secretário-executivo do Ministério do Esporte, Luís Fernandes, ao GloboEsporte.com:

GLOBOESPORTE.COM: Fica no Esporte ou vai para Ciência, Tecnologia e Inovação?

LUÍS FERNANDES: O ministro foi designado para a área de Ciência e Tecnologia, que é a minha área. Ainda não conversei com ele, nos encontraremos amanhã, mas diria que a tendência é acompanhá-lo para a área de Ciência e Tecnologia.

A aproximação com o Vasco pode se tornar mais intensa com a sua saída do Esporte?

Em relação ao Vasco, isso foi uma dúvida que surgiu quando foi feito o convite, se haveria conflito de interesse em ser secretário-executivo do Ministério do Esporte e presidente do Conselho Deliberativo do Vasco. Foi consultado o jurídico do Ministério e foi dada a posição de que não havia conflito, porque a função no Deliberativo não é administrativa. Poderia haver conflito se assumisse uma função administrativa no clube. Nesse caso, seria até pior para o Vasco, porque ficaria sem nenhuma linha de financiamento, de apoio por parte do Ministério do Esporte. Na função de presidente do Deliberativo, os cuidados que tenho de ter são os mesmos que tinha na área de Ciência e Tecnologia. Não poderia ter envolvimento direto em qualquer julgamento de projeto que envolvesse o Vasco. Confirmando a ida para Ciência e Tecnologia, a questão não se coloca mais. Embora, na Ciência e Tecnologia, uma área que poderá ser desenvolvida com força é justamente inovação para o esporte. Acho que há um amplo campo de aproximação.

A mudança no Ministério, até por se iniciar uma nova relação, pode causar insegurança na organização das Olimpíadas?

É difícil falar isso hoje, porque vou ter essa reunião amanhã com o ministro. Não quero opinar, só tenho a agradecer o papel que me foi dado na organização da Copa do Mundo, foi uma honra servir ao Brasil nessa função de coordenador pelo governo dos preparativos. Acho que as soluções que serão implementadas serão as necessárias para garantir o êxito das Olimpíadas. Tenho certeza que serão um êxito, como foi a Copa do Mundo. Mas sobre escolhas prefiro não opinar. Ainda vou conversar com o ministro, mas da nossa parte daremos todo o apoio necessário à equipe vai assumir essa responsabilidade no Ministério do Esporte. O período de transição que for necessário, o apoio que for necessário, o repasse das lições que foram aprendidas, tudo isso. Acima de tudo está o interesse nacional de garantir uma boa realização das Olimpíadas.

Qual foi o maior problema que o senhor teve de lidar desde quando chegou para contornar a crise do "chute no traseiro" na organização da Copa?

Houve uma profusão de problemas que tivemos de lidar (risos). Chamaria atenção para duas dimensões: em primeiro lugar, a maior complexidade foi o fato de ser uma Copa em 12 sedes. Isso implicava em relação com 12 governos de Estado, mais dezenas de Prefeituras, em um país de dimensões continentais, isso foi o principal desafio. O segundo desafio, que tem a ver com o incidente dessa declaração não muito feliz do secretário-geral da Fifa (Jérôme Valcke), era a necessidade de consolidar um ponto único de interlocução sobre a Copa. E isso conseguimos com a inclusão do governo no conselho do Comitê Organizador Local.

Nas Olimpíadas, então, pode se analisar que as coisas serão um pouco mais fáceis de administrar?

Por esse lado, sim. As atividades estão concentradas no Rio de Janeiro, então a principal relação é com a Prefeitura. Por outro lado, a Copa é uma federação de esporte, a Fifa. No caso das Olimpíadas, são 30 federações de esportes diferentes, isso é mais complexo por que cada uma entra com as suas exigências, as suas prioridades, e isso torna mais complexa a articulação esportiva.

O que, para o Ministério, deu errado na Copa?

Diria que extraímos duas lições que têm implicações do ponto de vista da preparação para as Olimpíadas. O primeiro é uma questão de comunicação. Para nós, eram tão evidentes os benefícios que a Copa traria para o país, que descuidamos um pouco da defesa pública desses benefícios. Com o tempo, vimos que não era tão óbvio assim. Também na comunicação, acho que faltou uma melhor comunicação para o público discriminando aquilo que era efetivamente custo da Copa do Mundo das iniciativas de investimento em legado. E cometemos o erro de incluir esses dois tipos de investimento na mesma matriz de responsabilidade, sendo que a maioria não era custo da Copa, era antecipação de investimento em infraestrutura que o país precisava. Para as Olimpíadas, procuramos aprender com esse equívoco, separando claramente essas duas dimensões. Um segundo equívoco que reconhecemos foi a incorporação tardia do governo ao Comitê Organizador Local da Copa. Predominou no início da organização uma visão de que o evento era inteiramente privado. Isso se revelou um equívoco, não há como realizar um grande evento de massa como a Copa do Mundo sem forte envolvimento do poder público. Depende de vários serviços fornecidos pelo poder público. Por isso que, naquela crise da declaração infeliz do secretário-geral da Fifa, o mais importante foi não ter ficado só na discussão, mas ter tirado todas as consequências para melhorar a organização e a governança da organização da Copa do Mundo com a nossa entrada, nossa digo governo, no conselho do COL. Isso foi decisivo para o sucesso da Copa. Estruturou a governança, você passou a ter um canal de interlocução do poder público federal, estadual e municipal. Isso foi decidido em março, em Zurique, em uma visita no contexto daquela crise para ver que medidas deveriam ser tomadas para superar a crise caracterizada na relação com a Fifa.

Na preparação para a Copa houve o momento dos protestos, passou a competição, houve nova eleição, e o país se vê novamente em meio a escândalos de corrupção, inclusive no esporte. Isso de alguma forma afeta a relação do governo com os organizadores? Em algum momento foi colocado na mesa algum tipo de receio com danos à imagem da organização?

Primeiro que corrupção é um problema real, mas não é exclusivo do Brasil. Acho que todas essas entidades internacionais têm ampla experiência de convivência com governos e escândalos de corrupção não são exclusividade do Brasil. Todos os países que organizaram Copa do Mundo e Jogos Olímpicos têm casos de corrupção em suas trajetórias políticas. Diria que essas entidades enxergam a questão com muita maturidade, sabem que é um problema endêmico no mundo, não só no Brasil. Acho que não há um peso particular dessa questão no Brasil que o diferencia de outros países no mundo e do nosso ponto de vista, o que é importante, é que temos um sistema muito rigoroso de controle. Diria extremamente rigoroso. Não só o sistema de controle interno do Governo Federal, mas sistemas federais, estaduais e municipais de controle que foram muito atuantes na preparação para a Copa e estão muito atuantes agora na preparação para as Olimpíadas. Temos de contar com isso, a eficiência do sistema de controle, sempre com o cuidado de ser um controle que preserve a missão institucional de entregar os Jogos.

Considerando a quantidade de dinheiro e que grande parte desse dinheiro sai em verba de publicidade e marketing, como o senhor analisa o patrocínio de empresas estatais como Caixa, Banco do Brasil, no futebol e no esporte de maneira geral?

Restrição nenhuma. O esporte brasileiro precisa de todo patrocínio possível, inclusive público. A Caixa está tendo um retorno de imagem fantástico. Vamos pegar aqui o ponto de vista do patrocínio da Copa e das Olimpíadas, são patrocínios recorde. O patrocínio dos eventos é um gigantesco negócio para quem está envolvido, não há por que os bancos públicos ficarem afastados desse filão que interessa ao Brasil, o fortalecimento do esporte nacional.

Como tem sido para o Ministério até agora a experiência na organização das Olimpíadas, com essas várias federações esportivas em vez de órgãos de governo? Qual a principal diferença?

São desafios diferentes. No caso da Copa, que envolveu forte articulação interfederativa, qual foi a chave do nosso êxito? Em nenhum momento deixamos diferenças de natureza política, partidária ou ideológica afetar a preparação. Montamos uma governança que, no Governo Federal havia o grupo executivo, o GeCopa, que se articulava com um grupo chamado Comitê de Responsabilidade, que reunia nas Prefeituras e Governos de Estado das 12 cidades sedes os órgãos responsáveis pela preparação, e esse grupo trabalhou de forma extremamente coesa, mesmo com vários processos eleitorais. Acho que é um modelo de governança que fica também como legado, com aplicações em várias áreas de política pública. Pensar a ação como política pública de Estado e não de governo.

Qual o ponto hoje mais sensível da preparação, aquele que não pode haver erro?

O principal ponto acho que é acertar a governança da preparação para as Olimpíadas, como acertamos para a Copa do Mundo. É o principal problema, temos um problema de acerto de governança. Isso estava em curso, essa mudança no Ministério não pode atrasar essa definição da governança necessária. Diria que é o principal problema. Para nós, o horizonte era início de 2015, espero que se mantenha com a mudança no Ministério do Esporte.

Relógio de Luís Fernandes tem a Cruz de Malta estampadaO senhor está usando um relógio com a Cruz de Malta, tem bandeira do Vasco na mesa... Quais foram os motivos que te levaram a crer que a chapa do Eurico Miranda era a melhor para comandar o Vasco agora?

Em primeiro lugar, a minha postura, não só no Vasco, mas na vida, como pesquisador que sou, eu não me baseio em preconceitos. Sempre me baseio na ideia de que a prática é o critério da verdade. Preconceitos vão e vêm, muitas vezes são fruto de manipulação. Tenho 56 anos. Nesses 56 anos, o período mais vitorioso que o Vasco viveu, ficando atrás só do Expresso da Vitória, foi o período em que o Eurico esteve como responsável pelo futebol. Não tem como fugir desse registro. Segundo ponto, a partir da saída dele, acho que tivemos gravíssimos problemas no clube. Em primeiro lugar, dois rebaixamentos, coisa que nunca havia acontecido na história do Vasco. Mas o mais grave foi o rebaixamento político, institucional do Vasco, sobretudo materializado não só na aceitação, mas na participação ativa que a direção do clube teve numa recomposição das normas de distribuição de cotas de transmissão para os clubes. No caso do Vasco, havendo uma posição de inferioridade aceita em relação ao nosso principal rival que é o Flamengo. Se você pegar os dados da audiência, não apontam essa diferença. Como vascaíno, isso foi o principal prejuízo. É uma aceitação de uma posição de inferioridade do Vasco em relação ao seu principal rival.

Qual o formato ideal?

O formato ideal é qualquer formato em que o Vasco não ganhe menos do que o Flamengo. Se forem, dois, é Vasco e Flamengo. Se forem cinco, Vasco e Flamengo. Se forem 20, Vasco e Flamengo. O Vasco aceitar uma posição de inferioridade ao Flamengo é um crime de lesa ao patrimônio do Vasco e essa direção cujo mandato se encerrou cometeu esse crime, entre aspas, não é crime, mas ela lesou de maneira gravíssima o patrimônio do clube. Estamos em uma competição. Vamos pegar minha área, sou professor de relações internacionais. Irã e Iraque. Os Estados Unidos financiaram os dois lados da guerra. Aí o Irã diz: "Os Estados Unidos aumentaram o meu financiamento". Mas aí aumentaram duas vezes mais o do Iraque. Então, não adianta em uma guerra aceitar uma posição de inferioridade relativa ao seu principal oponente, é uma questão básica.

Fonte: GloboEsporte.com