Na onda do Bom Senso F.C no campo, da revolta do craque Falcão e companhia no Futsal e dos "palhaços" do Vôlei contra a CBV, atletas do “Beach Soccer" brasileiro resolveram dar um basta e afrontar a empresa designada pela CBF em 2010 para organizar a modalidade, a Kock Tavares.
A guerra foi declarada depois que o Vasco, campeão da primeira edição do Mundialito de Clubes, em 2011, não foi chamado para o torneio de 2014, que aconteceria em dezembro, no Rio, em represália com o grupo que questiona a administração.
O time do Flamengo, apesar da rivalidade, se uniu na causa e, com apenas seis clubes, a competição não será mais realizada e transmitida.
— Que acabe essa ditadura de vinte anos. Que a CBF acorde e veja que essa empresa de marketing não pode comandar o esporte — revolta-se Jorginho, 40 anos, 20 dedicados à seleção brasileira já sob a gestão da empresa, que saiu e depois voltou.
Atualmente no Vasco, o veterano resolveu expor todos os problemas enfrentados por jogadores que, diferente dele, com recente passagem na Rússia, não têm estrutura, calendário e reconhecimento financeiro para se dedicar ao esporte exclusivamente.
A reclamação é que a Kock Tavares arrecada R$ 10 milhões por ano com os patrocinadores da CBF e não investe em competições, além de criar situações constrangedoras para os atletas aceitarem convites para defender a seleção brasileira fora do Brasil com pagamentos ridículos.
— A gente não quer ficar rico. Queremos que o dinheiro seja investido na modalidade. As pessoas têm que começar a saber porque o esporte perdeu a visibilidade. Não tem mais ídolo, não tem mais campeonato. No maior evento da modalidade é R$ 15 mil para o time todo. Parece várzea. Nem isso, no campeonato da areia por jogo ganha-se até R$ 1 mil — detonou Jorginho, mandando recado à CBF. A entidade foi procurada para se posicionar, mas o presidente José Maria Marin não enviou resposta.
Nova Confederação vai organizar uma Liga
O pedido dos jogadores para a CBF é que a Kock Tavares seja retirada do circuito ou ao menos se mantenha restrita às questões de marketing. A organização das competições ficaria com a Confederação Brasileira de Beach Soccer, que hoje reúne dirigentes das federações mais atuantes junto aos atletas, entre elas Rio, Espírito Santo e Maranhão. A ideia é que a partir de janeiro uma Liga de clubes seja oficializada nos moldes do Mundialito, e sem a intervenção da Kock Tavares no pagamento aos jogadores.
— A gente vai esperar essa nova confederação se manifestar. Algumas federações são contra, alguns presidentes estão no cargo há vinte anos. Tem presidente que se vende por 20 bolas, uma viagem pro exterior para acompanhar jogo. Esperamos a Confederação tomar uma atitude no início de janeiro, ser apresentada. Vai ter tipo uma liga até a CBF tomar nova posição — diz Jorginho, que pela oposição chegou a ser cortado da seleção junto a outros atletas do Vasco.
— Na Copa do Mundo revogaram a convocação e levaram quem estava sem jogar. Eles vão porque não tem força para dizer não.
Bom Senso e Futsal ajudam. Clubes se omitem
O grupo que se reuniu para reclamar da situação dos jogadores de Beach Soccer tem, além de Jorginho, Digo, filho do maestro Júnior, um dos precursores do esporte. Através da dupla, o primeiro do Vasco, e o outro do Flamengo, alguns apoios chegaram, como de Falcão e Vinicius, da seleção de Futsal, e Paulo André , um dos líderes do Bom Sendo F.C.
— A gente ia fazer uma associação, Falcão e Vinicius nos auxiliaram, o Paulo André apoiou, mas nossa briga é diferente do campo — lembra Jorginho. Segundo Digo, que conta com apoio do pai e de outros ídolos como Zico,a empresa só promove a crise.
— A gente não quer brigar com a CBF, não é ela que promove o evento. Queremos que esses milhões não fiquem retidos e a gente não sabe pra onde vai — lamenta.
Segundo os atletas, os clubes não dão apoio direto à causa. Apenas oferecem camisas para que se busque patrocínios. Sem jogos, não há o que divulgar. Nem recursos para investir em talentos, lembra Jorginho.
— Renova porque o moleque desce do morro e encontra quem queira ensinar. Só tem material humano.
Fonte: Extra Online