Em 2014, o Ituano driblou o favoritismo dos rivais e levantou o título do Campeonato Paulista pela segunda vez em sua história. Entretanto, o troféu erguido no Pacaembu, após uma dramática disputa de pênaltis contra o Santos – que terminou com o placar de 7 a 6 para os interioranos –, teve sabor mais especial do que a conquista inaugural, em 2002. Na edição de 12 anos atrás, o Estadual foi desfalcado por nove importantes equipes, que disputavam o torneio Rio-São Paulo. Foram elas: Corinthians, Guarani, Palmeiras, Paulista (então Etti Jundiaí), Ponte Preta, Portuguesa, São Caetano, São Paulo e o Alvinegro praiano.
Sob o comando do estreante técnico Doriva, o Galo surpreendeu e se mostrou impecável nos momentos decisivos. Durante a primeira fase, a representação de Itu terminou na segunda posição do Grupo B, com 28 pontos, trilhando um retrospecto de oito vitórias, quatro empates e três derrotas. Os rubro-negros, porém, passaram em segundo lugar, já que tiveram uma vitória a menos que o Botafogo. De maneira decepcionante, o Corinthians figurou no terceiro posto da chave e sequer figurou no mata-mata.
Nas quartas de final, o Ituano teve pela frente o líder de seu grupo, em jogo único, disputado em Ribeirão Preto. No estádio Santa Cruz, o Galo segurou o empate sem gols no tempo normal e desbancou a Pantera nos pênaltis, pelo placar de 4 a 1.
Com o ingresso garantido nas semifinais, a formação de Itu sabia da dificuldade que teria para enfrentar o Palmeiras, em pleno Pacaembu. Porém, demonstrando uma eficiente marcação, os visitantes anularam as investidas palestrinas e marcaram o gol da vitória aos 38 minutos da segunda etapa. Ex-jogador do Timão, o atacante Marcelinho saiu do banco de reservas para superar o jovem goleiro Fábio, em finalização rasteira da intermediária. O sonho de disputar a final estava garantido.
Na decisão, o Ituano teria que medir forças com o franco favorito Santos, em dois jogos, ambos no Pacaembu. Novamente demonstrando maturidade e eficácia, os interioranos venceram o primeiro compromisso por 1 a 0, com gol do experiente camisa 10 Cristian, carinhosamente alcunhado de “Mendigo” pelos torcedores. No segundo duelo, o Peixe devolveu o placar, com Cícero, e encaminhou a disputa pelo troféu para as dramáticas penalidades máximas.
Quando o experiente zagueiro Anderson Salles perdeu seu pênalti, a segunda cobrança dos rubro-negros, o título alvinegro parecia certo. Porém, Rildo também desperdiçou e viu os comandados de Doriva serem perfeitos, encaminhando a acirrada peleja para as cobranças alternadas. Em tal configuração, Josa foi às redes e enxergou o zagueiro Neto desperdiçar. A surpreendente festa interiorana eclodiu no Pacaembu.
Naquela tarde de domingo, os heróis que vestiam camisas rubro-negras foram Vágner; Dick, Alemão, Anderson Salles e Dener; Josa e Jackson Caucaia; Paulinho (Marcinho), Cristian (Marcelinho) e Esquerdinha; Rafael Silva (Jean Carlos). Após o título heroico, apenas dois destes 14 jogadores utilizados permaneceram em Itu, para a disputa da Série D – competição que o Ituano parou nas oitavas de final, para o Moto Club-MA. Curiosamente, os maranhenses triunfaram nas cobranças de pênalti.
Confira a trajetória dos titulares do Ituano após o título do Campeonato Paulista:
Goleiro: Vágner (Avaí)
O paranaense Vágner chegou ao Ituano após passagem pelo Paulista de Jundiaí e se tornou ídolo da torcida, por defender o pênalti cobrado pelo zagueiro Neto, que garantiu a conquista do Estadual. Consagrado, o camisa 1 desembarcou em Santa Catarina logo após o título surpreendente, para vestir as cores do Avaí, e foi novamente vitorioso, conseguindo o acesso à elite do Campeonato Brasileiro.
Lateral-direito: Dick (Bragantino)
Após um grande período de indefinição, Dick foi anunciado no Bragantino, quando o Massa Bruta havia acabado de conquistar o passaporte para a terceira fase da Copa do Brasil. Porém, o defensor foi discreto, amargou a reserva e deixou o clube sem corresponder o esperado.
Zagueiro: Alemão (Vitória e Santa Cruz)
Após despertar o interesse de clubes como Sport e Chapecoense, Alemão chegou no Vitória, por empréstimo, mas não se firmou. Assim, foi rapidamente negociado com o Santa Cruz, onde lutou pelo acesso à Série A como titular.
Zagueiro: Anderson Salles (Vasco)
Além da precisão para efetuar desarmes, Anderson Salles se destacou pela categoria demonstrada nas bolas paradas. Exímio cobrador de faltas e pênaltis, ajudou o Ituano com seis gols anotados durante o Campeonato Paulista – mesmo número do atacante santista Thiago Ribeiro. Porém, por ironia do destino, foi o único rubro-negro a desperdiçar a cobrança na decisão contra o Alvinegro praiano.
Negociado com o Vasco, Salles nutriu esperanças de ser titular na campanha da Série B. Porém, amargou a reserva e disputou apenas três partidas – a última delas, a derrota para o Avaí, na Ressacada, que selou o acesso da formação catarinense. Resta agora ao defensor lutar para ter uma trajetória mais consistente na Colina.
Lateral-esquerdo: Dener (Coritiba)
Dener chegou em Curitiba para suprir uma carência importante na configuração alviverde: o lado esquerdo da lateral. Com a camisa do Coxa, foi chamado de Dener Assunção, e o novo nome de guerra parece não ter trazido sorte. Com a saída de Celso Roth, perdeu espaço e viu Carlinhos se firmar na posição. Em 2015, disputará o Campeonato Paulista pelo Penapolense, clube dirigido pelo ex-santista Narciso.
Primeiro volante: Josa (Vitória e Boa Esporte)
Responsável por levantar a taça do Campeonato Paulista no Pacaembu, Josa chegou em alta no Vitória, para tentar se firmar em uma das equipes mais expressivas do Nordeste – antes, na região, o volante tinha passagens por América-SE, Juazeirense-BA, Sergipe, Salgueiro-PE e Náutico. Porém, irreconhecivelmente, o jogador não agradou e foi negociado com o Boa Esporte.
Em Varginha, chegou com status de titular, bancado pelo técnico Nêdo Xavier. Porém, falhou na maioria das partidas e foi muito questionado pelos torcedores. Assim, acabou dispensado do clube boveta, antes mesmo da Série B acabar. Assim, deve retornar ao Ituano para disputar o Paulistão.
Segundo volante: Jackson Caucaia (Bragantino)
Incansável nos desarmes e dono de um toque de bola refinado, Jackson Caucaia foi rapidamente classificado como um volante moderno, daqueles capazes de alterar a dinâmica de jogo. Sua regularidade no Campeonato Paulista e a atuação de gala desempenhada nas duas partidas da final o tornaram objeto de desejo dos principais clubes de São Paulo. O atleta chegou a se animar com uma possível proposta do Palmeiras, mas o acordo não foi selado. Nem com o Verdão, nem com qualquer outro representante da elite.
Após muito tempo de indefinição, Caucaia foi anunciado no Bragantino, mas a passagem no Massa Bruta durou menos que um mês. Um choque com o atacante corintiano Luciano, em partida válida pela Copa do Brasil, causou uma lesão ligamentar em seu joelho esquerdo. Lesionado, o volante retornou ao Ituano, tendo disputado apenas duas partidas pelo Alvinegro.
Meia: Paulinho (Náutico e Ponte Preta)
Veloz, bom marcador e eficiente nos passes, Paulinho desempenhou a função de meio-campo no Ituano. Porém, após se destacar no Galo, o jogador chegou no Náutico afirmando que prefere jogar mais recuado, como volante, auxiliando a marcação. Na posição que se sente à vontade, o atleta foi titular do Timbu na Série B, mas não seguirá em domínio alvirrubro em 2015, já que recebeu uma proposta superior da Ponte Preta, onde irá lutar por mais um título paulista.
Meia: Cristian (remanescente)
Autor do gol da vitória rubro-negra na primeira decisão contra o Santos, Cristian foi o único titular que permaneceu no Ituano para a disputa da Série D. Porém, com o elenco enfraquecido e sob o comando de Tarcísio Pugliese, o camisa 10 viu os interioranos caírem nas oitavas de final, para o Moto Club-MA, nos pênaltis, após dois resultados iguais (1 a 0).
Além de Cristian, seguiram no Novelli Júnior para enfrentarem a difícil Quarta Divisão os seguintes atletas: Diego (goleiro), Alex (lateral-direito), Aírton e Luizão (zagueiros), Gercimar (volante), Clayson (meia) e os atacantes Claudinho e Marcelinho.
Meia-atacante: Esquerdinha (Goiás)
Transitando entre o meio-campo e o ataque, o polivalente Esquerdinha se destacou no Campeonato Paulista e foi negociado com o Goiás. Em domínio esmeraldino, figurou na formação titular do técnico Ricardo Drubscky e também disputou a Copa Sul-americana – onde a representação do Centro-Oeste acabou eliminada nos pênaltis, para o Emelec-EQU, em pleno Serra Dourada.
Atacante: Rafael Silva (Vasco)
Veloz, bom driblador e dono de um passe apurado, Rafael Silva chegou para aumentar o poderio ofensivo do Vasco, durante a disputa da Série B. Entretanto, assim como o companheiro Anderson Salles, não teve espaço e amargou o banco de reservas. O bom momento de Thalles, Edmílson e Kleber, o popular Gladiador, também pesou contra o baiano de Feira de Santana.
Técnico: Doriva (Atlético-PR e Vasco)
Em seu primeiro trabalho como treinador, Dorival Guidoni Júnior, o popular Doriva, volante campeão do mundo pelo São Paulo e com passagem pela Seleção Brasileira, transformou um elenco sem nomes de destaque e farto aporte financeiro em campeão. Sem necessitar de uma peça para sua configuração ter êxito, o comandante surpreendeu pela aplicação tática exigida, bem como a motivação nos vestiários.
O título inédito o fez chegar no Atlético-PR, para a disputa do Campeonato Brasileiro. Porém, em solo curitibano, acabou demitido efemeramente, com um aproveitamento de 45,8% (três vitórias, dois empates e três derrotas). O ultimato fora um empate sem gols contra o Bahia, na Arena da Baixada.
Neste mês, chegou a acertar sua transferência para o Botafogo de Ribeirão Preto, para a disputa do Campeonato Paulista. Todavia, o interesse do Vasco fez a proposta da Pantera cair por terra. A afinidade com Anderson Salles e Rafael Silva também pesou para a decisão do presidente Eurico Miranda, que roubou a cena na coletiva de apresentação de Doriva, exigindo uma equipe ofensiva, “sem essa história de 4-5-8 ou 7-5-2”.
Fonte: Gazeta Esportiva