Com ascensão meteórica, Doriva ganha elogios de companheiros de trabalho

Quinta-feira, 18/12/2014 - 08:16
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O telefone de Doriva tocou no domingo. E o convite empolgou o jovem treinador de 42 anos. Assim que recebeu a oferta de que o Vasco o queria como treinador para a temporada 2015, não hesitou nem por um segundo. Com passagens por Ituano e Atlético-PR, deixou o Botafogo-SP e disse que era um sonho treinar uma equipe grande do Rio de Janeiro. O "sim" veio na mesma hora e deixou a diretoria cruz-maltina confiante com a determinação do novo comandante.

O currículo vencedor de Doriva dentro dos gramados - colecionou títulos dentro e fora do Brasil - se encaixava com o que procurava a diretoria do Vasco. Com passagens marcantes pelo São Paulo e na Europa, Doriva foi convocado para Copa do Mundo de 1998 na França. Depois de sofrer uma arritmia cardíaca em 2008, ele teve que abandonar a carreira, mas não ficou muito tempo longe do futebol. Paulista de Nhandeara, o técnico, de 42 anos, começou a trabalhar no Mirassol, depois passou por todas as categorias inferiores do Ituano na trajetória de uma ascensão meteórica. Na cidade que tem fama de ter tudo em grandes proporções, levou o Ituano ao título paulista. Mas desafio gigantesco mesmo ele terá em São Januário.

Com a vantagem de ter ao lado alguns ex-jogadores do Ituano como Anderson Salles e Rafael Silva, Doriva iniciou de vez o planejamento com a diretoria nessa quarta-feira, quando ficou o dia todo em reunião em São Januário. A diretoria do clube pretende aproveitar a vitalidade do treinador e todos aspectos positivos de uma nova mentalidade para dirigir a equipe.

- É um treinador que dá oportunidade para todo mundo, que acredita em sua filosofia de trabalho e que faz com que os jogadores acreditem também. Gosta muito de trabalhar, estudou bastante para isso e dá treinos diferenciados. A expectativa é grande - disse o zagueiro vascaíno Anderson Salles, que fazia parte do elenco campeão pelo Ituano.

Foi a primeira vez que um time sem divisão conquistou o Estadual de São Paulo. Na época do Paulistão, o Ituano tinha o seu segundo semestre preenchido apenas com a disputa da Copa Paulista. Com o título, a equipe do interior garantiu vaga na Série D 2014 - foi eliminada pelo Moto Club nas oitavas de final. Mas para chegar até a conquista, Doriva precisou ter paciência. No total, foram cinco anos de trabalho no clube, entre 2009 e 2014.

Levado a Itu pelo amigo Juninho Paulista, Doriva estudou e se preparou para ser treinador, um objetivo traçado desde que pendurou as chuteiras por problemas cardíacos em 2008. Ele fazia de tudo: desde ajudar a montar a categoria de base do Ituano a ser auxiliar técnico do time principal. E foi justamente assumindo interinamente o comando da equipe que ele começou a se destacar.

Em 2010, ainda com Juninho e Roque Junior no time, Doriva ajudou a evitar o rebaixamento no Campeonato Paulista. No ano passado, a história se repetiu. Doriva assumiu o time faltando cinco rodadas para terminar o estadual. Nos dois últimos jogos, só duas vitórias salvariam o Ituano. Primeiro, virada por 3 a 2 sobre o Paulista, em Jundiaí. Depois, novo triunfo diante do Palmeiras, por 2 a 1, com direito a gol salvador no último minuto. Na sequência, o aspirante a treinador levou o clube à fase final da Copa Paulista depois de oito anos. Era a senha para ele ser efetivado no cargo.

- Doriva se preparou para esse momento. Passou por todas as categorias de base do Ituano, fez cursos, estágios com outros treinadores. E na prática foi implantando treinos dinâmicos, crianos novas maneiras de trabalhar a equipe. É um treinador de perfil calmo, transparente e honesto. É assim que ganha o grupo. Mesmo os que não jogam muito gostam dele porque Doriva dá atenção para todos. É um cara justo, vencedor. Joga quem dá o melhor resultado. Ele está pronto para treinar o Vasco - resumiu Juninho Paulista, que comanda o futebol do Ituano.

A conquista do Paulista foi incontestável. Com um futebol eficiente, o Ituano eliminou São Paulo, Palmeiras e Santos na fase decisiva. Em 19 jogos, foram dez vitórias, cinco empates e quatro derrotas. Dez anos depois do São Caetano em 2004, um time de menor expressão do estado voltava a levantar a taça. A intenção de Doriva era permanecer para a disputa da Série D. Para isso, recusou propostas de clubes das principais divisões do futebol brasileiro. Foi quando o Atlético-PR entrou com força na jogada. Pouco depois, a decisão de assumir o comando do Furacão se mostraria errada.

Foram apenas oito jogos no comando da equipe. Contratado em junho, foi demitido em agosto após três vitórias, dois empates e três derrotas no Campeonato Brasileiro - o Furacão estava em nono lugar na tabela. A suposta interferência do presidente Mário Celso Petraglia na escalação do time teria sido um dos problemas. Leandro Ávila, tricampeão estadual pelo Vasco, era auxiliar técnico do clube nos três meses de trabalho de Doriva no Furacão. Ele não sabe exatamente o que aconteceu para justificar a rápida demissão. O novo técnico do Vasco definiu sua saída como uma "lamentável" decisão do presidente atleticano.

- A gente nunca sabe o que passa na cabeça de um dirigente. O que posso dizer do Doriva é que ele é muito bom profissional, além de ser excelente pessoa. É um cara que gosta de conversar com jogador, gosta de marcação forte e gosta de jogar para frente, como Eurico quer. Os jogadores gostavam muito dele - contou Leandro Ávila.

Cabeça de área de destaque nos anos 1990 como Doriva, Leandro foi convocado para a seleção brasileira pelo técnico Zagallo em 1996 ao lado do novo treinador do Vasco. Para ele, o seu ex-clube do Rio acertou em cheio em apostar num nome novo: "Doriva é bom e barato", opina Leandro. O ex-auxiliar lembrava um pouco da voz marcante de Antônio Lopes quando via Doriva gritar na lateral do campo.

- Ele fala muito, pede posicionameto, fica animando nos treinos. Os jogadores gostam do treino dele. E é engraçado que a voz fica meio fina quando vai gritar. É bom que o jogador ouve e não tem como confundir - brincou o ex-jogador.

Depois de não durar muito com Petraglia no Atlético-PR, há quem tema um breve fim também em São Januário. Leandro até vê semelhanças nos dois presidentes, mas outras pessoas já disseram a Doriva que Eurico Miranda protege mais os seus treinadores. O próprio presidente lembrou isso na entrevista coletiva em São Januário, o que deixou o jovem técnico mais seguro.

- Deu para perceber na entrevista do Eurico durante a apresentação que o Doriva terá respaldo para trabalhar. Isso é importante em um clube do tamanho do Vasco. No Ituano a situação era diferente, um trabalho de médio a longo prazo. Independia muito do resultado. No Vasco, por ele ser jovem e ainda não ter um nome consolidado no mercado, esse respaldo da diretoria será importante. Ainda assim acredito que ele vá precisar de um bom resultado a curto prazo. Para ganhar ainda mais a confiança dos dirigentes e conquistar a torcida. A pressão será grande, mas o vejo preparado para encará-la - finalizou o amigo e ex-chefe Juninho Paulista.



Fonte: GloboEsporte.com