Duas vitórias, dois empates, seis derrotas consecutivas e o adeus precoce após dois meses de trabalho no Vasco. Riscado o calendário daquele difícil 2012, Marcelo Oliveira subiu alguns degraus, tornando-se, dois anos depois, bicampeão brasileiro à frente do Cruzeiro. Agora, Marcelo cobra a conta: entrou, no mês passado, com uma ação na Justiça contra o clube de São Januário. Enquanto espera o pagamento da velha dívida, vai tentando digerir uma dor maior, a perda da Copa do Brasil para o Atlético-MG. Marcelo ainda não engoliu as provocações dos adversários.
A derrota na Copa do Brasil deixou um gostinho de quero mais?
A gente sempre trabalha com a perspectiva de vitórias. Era uma chance de a gente ganhar a Tríplice Coroa, e em cima do rival. A derrota mescla um pouco de tristeza à consciência de que tivemos um ano muito bom. Ganhamos dois torneios, jovens se valorizaram e foram para a seleção sub21 e para a principal e houve crescimento do sócio torcedor.
O Cruzeiro sentiu o desgaste?
O Atlético tem um ótimo time, está jogando muito bem, só que o peso físico é grande. O Atlético, como disputava só esse título, fez suas opções. E ganhou do Cruzeiro em dois jogos. O resultado foi muito justo. O calendário brasileiro é desumano e colabora para que os espetáculos não sejam os melhores. Muitos jogadores se machucam. O São Paulo perdeu jogadores, o Cruzeiro perdeu quatro ou cinco devido à maratona... O time que passa 31 rodadas jogando às quartas e aos domingos não treina, e o nível tende a cair.
Tem alguma sugestão para melhorar?
Em primeiro lugar, que o calendário seja feito por pessoas conhecedoras de futebol. Em segundo, que os estaduais sejam mais enxutos para que sobrem mais datas. Quem está jogando bem é o mais punido pelo calendário. Jogando para ser campeão e disputando mais de uma competição no fim da temporada, com todo mundo querendo ganhar do líder, fica difícil. Seria um desastre total se o Cruzeiro fosse vice no Brasileiro. Caía todo mundo. Caía técnico, todo mundo...
Cruzeiro e Galo são os melhores times do Brasil?
Estão num bom patamar, e eu gostaria de ver esse jogo em condições normais, com o intervalo de uma semana de descanso.
O Cruzeiro teria mais chance?
Sem dúvida. Saímos de uma comemoração de título no domingo. Quando a bola rebatia, o Atlético chegava mais rápido. O Cruzeiro estava sem poder de contra-ataque.
Você deve adorar os pontos corridos, não?
(Risos). Essa fórmula premia regularidade, estrutura e planejamento. Não se ganha por acaso. O Cruzeiro teve absoluta supremacia.
O que explica o sucesso do futebol mineiro?
É uma combinação de coisas. Cruzeiro e Atlético são dois grandes clubes, com tradição e torcidas fanáticas. A estrutura está entre as melhores do Brasil. O treinador tem uma condição muito boa para trabalhar. As categorias de base são bem montadas. As administrações têm ousadia. E, puxando a sardinha, o trabalho das comissões técnicas é muito intenso. Os meus jogadores e os do Levir gostam desse ambiente.
Você é amigo do Levir?
Sou muito amigo dele. Trabalhamos juntos lá (no Atlético). Morei quase três anos em Curitiba e frequentava o restaurante dele.
Ficou aborrecido com as provocações dos jogadores do Galo após a Copa do Brasil?
Não fiquei chateado, mas oriento aqui para que os meus jogadores não façam. Poderia ter sido evitado porque pode colaborar para que torcedores tomem atitude impensada.
O que acha de jogar um clássico praticamente sem torcida adversária?
Joguei muitos clássicos aqui com mais de 100 mil pessoas, e a torcida dividida. Joguei Vasco x Botafogo também. Não se deveria alijar o torcedor. Mas o Atlético fica querendo jogar no Independência! Eles deveriam esquecer o aspecto técnico e pensar um pouco maior.
Por que o futebol carioca vai tão mal?
Não conheço o dia a dia dos clubes. Mas me decepcionei com a estrutura do Vasco. Os clubes do Rio merecem um melhor nível estrutural e administrativo.
Trabalharia de novo no Rio?
Claro. Não pude seguir trabalhando pois não teria condição de fazer a reformulação do elenco. Acho que eu estava certo porque, dois anos depois, o Vasco tenta retomar seu caminho e tem dificuldade. Torço para que, com o acesso à Primeira Divisão, se reorganize.
O Vasco te deve dinheiro?
Deve parte de um salário e a rescisão. Infelizmente, no dia 6 de novembro fez dois anos e não tive nenhuma resposta. Vendo que caducaria, tive que passar o caso para alguém resolver por mim. Propus a uma pessoa do Vasco que parcelasse a dívida, mas não obtive resposta. No dia 3, entrei (na Justiça).
O salário no Cruzeiro atrasa?
Recebo rigorosamente em dia.
Por que acha que o treinador bicampeão brasileiro não tem uma chance na seleção?
Não tenho essa obstinação. É bacana, é o ápice da carreira, mas preciso ter projeto e autonomia. Meu pensamento é trabalhar feliz, num clube que me dê condição. E deve-se respeitar o Dunga.
Está gostando da seleção?
Ele está indo bem, fazendo a reformulação. Convocou jogadores pela primeira vez do Cruzeiro e do Atlético. O problema da seleção é não treinar. O time se reúne numa semana!
A seleção está melhor do que na Copa?
Esperava-se mais da seleção da Copa, que acabou decepcionando. Essa reformulação está dando condição para que se tenha um time mais rápido, com recomposição na parte ofensiva e boa técnica.
Quem é o craque do Brasileirão?
É o Éverton Ribeiro, numa boa disputa com o Tardelli.
O melhor treinador do Brasileiro é o campeão?
(Risos). Isso aí eu deixo por conta de quem está comentando. Existem grandes técnicos até com mais experiência do que eu.
Que motivação terá o Cruzeiro para entrar em campo já campeão?
Como esse jogo contra a Chapecoense (domingo) não tem tanta implicação, vou dar chance a alguns que não vinham jogando. Mas, na última rodada, contra o Fluminense, o jogo será do interesse de outras equipes. Então, devo escalar o melhor time, para que o Cruzeiro faça sua festa de despedida e honre a camisa.
Fonte: Extra Online