A gestão de Roberto Dinamite como presidente do Vasco da Gama chegou ao fim nesta segunda-feira. Hoje, terça-feira, dia 02 de dezembro de 2014, Eurico Miranda toma posse do Gigante da Colina. Após seis anos como mandatário do clube pelo qual se notabilizou como maior ídolo, Dinamite sai enfraquecido após péssimo trabalho. Dois rebaixamentos (em 2008 e 2013), dívidas e apenas uma coisa para se orgulhar: o inédito título da Copa do Brasil, em 2011.
Alçado à presidência do clube como uma esperança de mudança após anos de autoritarismo de Eurico, que sequer disputou as eleições e indicou o falecido Amadeu Pinto da Rocha como representante de seu grupo político, em 2008, Dinamite contou com o apoio de vascaínos ilustres, afastados do clube pelos desmandos do dirigente, que curiosamente, volta ao poder.
Não foram só os dois rebaixamentos que mancharam os dois mandatos de Dinamite. Com as divisões de base sucateadas, o Vasco perdeu muitos jovens jogadores, como Muralha, Foguete e Mosquito. Além disso, em 2012, durante "peneira" do clube, um jovem de 14 anos faleceu, no CT de Itaguaí. Denúncias de falta de estrutura e o não oferecimento de condições básicas de alimentação e atendimento médico para os jovens atletas foram bombardeadas sobre Dinamite, que sequer se pronunciou oficialmente sobre o caso.
A gestão financeira, talvez, tenha sido o grande calcanhar de aquiles de Dinamite. Péssimas contratações, como a do lateral Johnny, vindo do Náutico, Rodrigo Pimpão, por R$ 1 milhão e de Diogo Silva, por R$ 2 milhões, oneraram muito o clube.
Início com promessas e rebaixamento
Em seu primeiro ano, o presidente tomou calote histórico da fornecedora de material esportivo Champs, que se comprometeu a pagar R$ 18 milhões por ano e até hoje, o Vasco não viu a cor do dinheiro, além de ter visto o valor de sua marca cair e camisas consideradas horríveis pela torcida que sequer foram à venda. O caos nos cofres vascaínos foi a grande raíz dos problemas durante toda a gestão. Somado a isso, o contrato, formalizado em bases absurdas, previa a construção de uma megaloja em São Januário, cujo futuro, devido à pouca transparência da gestão, ninguém sabe ao certo qual é.
Além disso, promessas de modernização de São Januário não saíram do papel. Algumas mudanças foram feitas pela Ambev, como mudanças de vestiários, telão e a criação e um setor premium, mas pouca coisa foi feita. Para piorar, nenhum programa agressivo de sócio-torcedor saiu do papel, e o Vasco não conseguiu aumentar suas receitas mesmo com um estádio próprio.
Em um 2008 marcado por péssimas escolhas, como a do vice-presidente de futebol, Manuel Fontes, sem qualquer experiência no ramo e a manutenção de Tita como treinador - primeira experiência como técnico nos profissionais de seu ex-companheiro como jogador -, além de péssimas contratações, o Vasco da Gama foi rebaixado pela primeira vez em sua história. A derrota para o Vitória, em São Januário, foi marcada pela tentativa de um torcedor de se jogar da cobertura das arquibancadas do estádio.
Reestruturação, título 'honroso' e montagem da base do elenco campeão
Para a Série B, Roberto Dinamite reestruturou o comando do futebol, com a contratação do diretor executivo Rodrigo Caetano e do técnico Dorival Júnior. O não aproveitamento de Pedrinho e Edmundo, ícones do clube e que faziam parte do time rebaixado, entretanto, mancharam ainda mais a imagem do ídolo. Com um time operário liderado por Carlos Alberto e trazendo de volta e aos estádios e unindo a torcida cruzmaltina, com a criação de um novo programa de sócios embasado em campanhas de marketing com artistas vascaínos, o Vasco se sagrou campeão da segunda divisão e voltou à elite do futebol brasileiro no ano seguinte.
O ano de 2010 seguiu com a aposta na equipe campeã da segunda divisão e na renovação, com alto investimento, de Carlos Alberto, principal jogador e símbolo daquele time. Ainda assim, com a volta de Felipe, outro jogador identificado com o clube, e a contratação de Éder Luís trouxe uma temporada pífia para o Vasco. Além disso, um novo ídolo surgia: o zagueiro Dedé, importantíssimo na reconstrução da imagem de um Vasco forte e renovado.
Reeleição e título da Copa do Brasil
Reeleito, Dinamite se preparou para um grande primeiro ano de segundo mandato. A temporada de 2011 começou com a pior campanha do Vasco na história dos campeonatos estaduais, terminando no sexto lugar, atrás de Boavista e Olaria. Depois, o cliube fez contratações pontuais de jogadores experientes como Diego Souza, Alecsandro e Eduardo Costa, além da excelente aposta Anderson Martins que se somaram a boa base jovem da equipe: o zagueiro Dedé, os volantes Rômulo e Allan e os laterais Ramon e Fágner. Sob a batuta do ídolo Felipe e com Ricardo Gomes como treinador, um dos grandes acertos do ano, o Vasco se sagrou campeão da Copa do Brasil pela primeira vez.
No Brasileirão, o clube fez sua melhor campanha na era dos pontos corridos e o segundo lugar foi bastante questionável: muitos erros de arbitragem comprometeram o resultado final da competição e Dinamite foi acusado de ter postura pouco firme nesse sentido, recebendo o apelido de "Bananite" da torcida cruzmaltina. Em agosto de 2011, o técnico Ricardo Gomes sofreu um AVC, no banco de reservas do clássico contra o Flamengo, pelo Brasileirão. A efetivação do auxiliar Cristóvão Borges se mostrou um acerto, mas o treinador foi pouco blindado das críticas e especulações pela volta do antigo treinador.
Do auge ao desmanche, fim de 2012 marca início da decadência
No ano seguinte, o Vasco tinha tudo para dar sequência às glórias. A volta do ídolo Juninho somada ao vice-campeonato brasileiro do ano anterior faziam da equipe uma das favoritas em todos os campeonatos que disputava.
Em campo, havia enorme pressão pela escalação de Juninho e Felipe, juntos, num elenco inchado de meias. Como símbolo do ano que começou cheio de esperanças e terminou com o início da derrocada vascaína, nas quartas de final da Libertadores, contra o Corinthians, sem conseguir um patrocínio master mesmo após grande campanha em 2011, o Vasco fecha um patrocínio pontual com uma dupla sertaneja, expondo o clube ao ridículo. Com Henrique & Diego nas mangas, a equipe acabou eliminada pelo Timão, que se sagraria campeão continental naquele ano.
A base da equipe campeã da Copa do Brasil no ano anterior acabou desmontada, com as vendas de Allan, Rômulo Diego Souza e Fágner no meio do ano, que se somaram às saídas de Felipe e Fernando Prass, ao fim da temporada. Daí, se retira mais um absurdo: todos os contratos dos jogadores que formaram a base do time campeão traziam péssimas contrapartidas ao clube, que não contava com a maioria dos direitos federativos de nenhum jogador de destaque do time titular.
Perda de ídolos e segundo rebaixamento
Se 2013 já se apresentava caótico para o Vasco, enfraquecido dentro e fora de campo, o grande baque veio em abril de 2013. Com os cofres combalidos, a equipe se desfez de seu novo grande ídolo: Dedé foi vendido ao Cruzeiro por R$ 14 milhões. Com um time muito fraco, as esperanças eram depositadas em Juninho Pernambucano, mas com o clima ruim no grupo e sem comando após péssimas jornadas de Paulo Autuori, Marcelo Oliveira e Celso Roth no comando da equipe, além de muitas falhas dos goleiros, principalmente, Diogo Silva, o Gigante da Colina amargou seu segundo rebaixamento.
À essa altura, Dinamite se afastava aos poucos do clube e estava isolado: Eurico Miranda mandava no Conselho Deliberativo e o presidente sofria pressão de todos os lados. Na Série B, sem dinheiro e sem comando, a equipe fez um 2014 que nem de longe representa sua grandeza: a campanha do terceiro lugar na Segunda Divisão, mesmo com o acesso para a elite, rendeu críticas durante todo o ano ao fraco e mal comandado time cruzmaltino. De maneira melancólica e pela porta dos fundos, Dinamite não só se enfraqueceu e fez o mesmo com o Vasco como manchou, para sempre a sua imagem de maior ídolo e artilheiro da história do Gigante da Colina.
Fonte: ESPN.com.br