Saiba por onde anda César, atacante do Vasco e da Seleção Brasileira nos anos 80

Domingo, 07/12/2014 - 16:36
comentário(s)

Ele tinha tudo para não vingar no futebol. Começou a jogar muito tarde, aos 20 anos, não passou pela base e, nos tempos em que disputava animadas peladas nos campinhos de Cocotá, quase sempre parava no gol. Mas, contrariando todas as expectativas, Júlio César Coelho de Moraes, o César, superou as deficiências e conquistou o Brasil e o mundo com seus gols. Foi assim por Palmeiras, Vasco e Sevilla, entre outros clubes, em mais de 20 anos de carreira.

Um legítimo matador dentro e fora de campo, que não se dobrou nem à idade. Hoje, com 60 anos, o velho artilheiro prova estar em forma. Há um ano nasceu seu quinto filho, Bernardo, com Natália: “Estou no quinto casamento. São cinco filhos, um em cada estado. Só faço filho bonito. Mas parei. Tenho uma mulher bonita, de 28 anos, e vagabundo tá de olho, malandro”, gargalha o ex-jogador, que também é pai do lateral-esquerdo Júlio César, que estava no Botafogo. “É um bom menino e está encaminhado.”

Quando não está curtindo o pequeno Bernardo, o xodó, César pode ser visto nas ruas da Ilha do Governador, onde mora, pilotando o seu táxi: “Já tive uma van, mas hoje tenho um táxi que é o meu ganha-pão. Aqui todo mundo gosta de mim. Sou o rei do pedaço. Ajudei muita gente quando tinha dinheiro. Vivo bem, mas agora tenho que trabalhar”, admite.

Nem o dinheiro mais curto é capaz de roubar o seu bom humor. Mas, quando o assunto é futebol, ele se queixa. “Tomei raiva. Vi tanta sacanagem que me desiludi. Tem marmelada”, denuncia. “Em um jogo, um juiz de Copa do Mundo passou por mim e disse: ‘Saiba cair’. Já estava tudo armado. Naquela época, o Palmeiras corria o risco de cair, mas não caiu”, conta, com ar de decepção.

Apesar de ser cria do Bonsucesso, foi só quando jogou no time paulista, em 1979, que estourou. “O Palmeiras tinha um timaço, com Jorge Mendonça e Pedrinho. Disputei três títulos com o Telê Santana, dois Paulistas e um Brasileiro, mas perdemos. Sou ruim de ganhar título. Só fui ser campeão pelo Sampaio Corrêa, nos anos 90.”

Em 1980, César voltou ao Rio para brilhar no time de coração: “Em seis meses, fiz mais gols que o Roberto Dinamite. Sempre fui Vasco. Treinava com muita motivação. Foi a melhor coisa que fiz.” Os gols chamaram a atenção do Sevilla, onde atuou de 1981 a 1983: “Se não tivesse ido para a Espanha, poderia ter jogado a Copa de 82. Joguei três amistosos,mas não fui”, lamenta Cesar, que encerrou a carreira, aos 40 anos, no Barra, de Teresópolis: “Com 15 anos, era ruim demais, mas acreditei no meu sonho e venci pelo esforço. Deus foi muito bom para mim. Só tenho a agradecer.”

Ex-atacante cobra o fim do racismo

Quando chegou à cidade de Sevilla, nos anos 80, César teve que enfrentar um problema antigo. Não foram poucas as vezes em que foi vítima de racismo. “Andava com a minha mulher, que era branca, e as crianças passavam a mão no meu braço para saber se era pintado. Quando jogava contra o Internacional, cansei de ser chamado de macaco. Não acredito que agora, por causa do Aranha, vão resolver”, diz.

César não foi o único. Os amigos Carlos Alberto Pintinho, com quem jogou no time espanhol, e Paulo Cesar Caju também sofreram muito. “Eles cansaram de ser barrados nos lugares mais bacanas. Também fui massacrado, mas não como eles, pois ficava na Ilha. É muito bom que o racismo seja discutido. Passou da hora de acabar”, revolta-se.



Fonte: O Dia