Pedro Ken, sobre seu futuro no Vasco: 'Para mim seria um prazer continuar'

Quinta-feira, 27/11/2014 - 11:45
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Pedro Ken sofreu com o rebaixamento do Vasco em 2013. Além de ver seu trabalho fracassar em campo, ainda temeu por seus familiares que estavam a arquibancada da Arena Joinville em meio à briga generalizada entre torcedores de Vasco e Atlético-PR. Tinha tudo para deixar São Januário há um ano, até mesmo uma proposta dos Emirados Árabes. Mas resolveu ficar por um motivo nobre: pagar a dívida de recolocar o Cruz-Maltino na Série A. Missão cumprida, o volante não traça planos. Quer apenas descansar e aproveitar as férias. Não descarta a permanência no Rio - o contrato de empréstimo junto ao Cruzeiro termina em dezembro. E nem mesmo a primeira experiência fora do Brasil.

- O clube passa por um momento de transição e não dá para saber. Até agora não me procuraram, não sei se há interesse. Para mim seria um prazer continuar. Por tudo o que já vivi aqui e por acreditar que no ano que vem as coisas vão melhor. Essa é a tendência - disse o jogador, que se recupera de uma pancada na coxa direita, em entrevista ao GloboEsporte.com.

Atleta com o maior número de jogos no atual elenco do Vasco (87), Pedro Ken fez um balanço da temporada 2014. Difícil para o jogador em campo (pela perda do Campeonato Carioca e pelas dificuldades enfrentadas na Série B) e também fora dele (pelo falecimento da avó materna e pela descoberta de que o pai, Cristiano, está com câncer). O volante ainda concordou com as vaias da torcida cruz-maltina após o acesso diante do Icasa e definiu a campanha como "eficiente, mas sem brilho".

Qual o balanço que você faz da temporada 2014 do Vasco?

A parte coletiva não foi como a gente queria, principalmente na Série B. Mas foi o suficiente para atingir o principal objetivo, que era subir. Começamos bem no Carioca, até superando as expectativas. Talvez aquela perda de título na final tenha mudado um pouco o curso do nosso ano. Não dá para usar como justificativa, mas tenho certeza de que se o Vasco ganhasse o Estadual em cima do maior rival após anos de espera o ânimo do grupo seria diferente. A confiança do torcedor ia aumentar. Da forma como aconteceu foi ainda pior. O time não se encontrou na Série B. Fizemos um campeonato irregular, que não esteve à altura do Vasco. O título não faria tanta diferença para o clube, mas entramos para vencê-lo. O importante é que voltamos. É um peso muito grande vestir uma camisa como a do Vasco nessa situação. Foi um ano de muita pressão política, de eleição, de extracampo agitado...

E individualmente?

Acho que comecei bem e cresci nas finais do Carioca. Meu maior momento foi no segundo jogo, quando sofri o pênalti e atuei muito bem. Depois sofri com diversas lesões, algo que não é comum na minha carreira. E não foi por falta de condicionamento ou preparação. Foi realmente fatalidade. Torções, pancadas, coisas que não têm como evitar. Até porque sempre procurei me preparar ao máximo, estar sempre 100%. Ainda assim acho que contribuí bastante e termino com a cabeça erguida e a consciência limpa com o Vasco novamente na Série A. Conseguimos isso juntos. Vivi o rebaixamento em 2013, minha família estava em Joinville na última rodada. Era uma divida pessoal que eu tinha com o clube. Fiquei mesmo sabendo que enfrentaria dificuldades. Sou o jogador do elenco atual com o maior número de jogos. Foram 87 em dois anos. Valorizo muito isso. É muito mais difícil jogar em momentos como esses. Rebaixamento, a derrota pro Flamengo na final, as dificuldades da Série B, a desconfiança do torcedor e da imprensa. Não é fácil ser titular e estar bem nessa hora.

Seu contrato de empréstimo junto ao Cruzeiro termina em dezembro. No ano passado você recusou uma proposta dos Emirados Árabes para pagar essa dívida pessoal de recolocar o Vasco na Série A. Como vai ser em 2015? Continua em São Januário?

Ainda não parei para pensar sobre isso. Estava pensando apenas no acesso, mesmo não tendo jogado os últimos jogos. O clube passa por um momento de transição e não dá para saber. Até agora não me procuraram, não sei se há interesse. Para mim seria um prazer continuar. Por tudo o que já vivi aqui e por acreditar que no ano que vem as coisas vão melhor. Essa é a tendência. Não falei com meus empresários, o Brasileirão nem acabou ainda. Agora quero sair de férias e descansar, aproveitar a minha família. Foi um ano difícil. Perdi minha vó materna, meu pai descobriu no segundo semestre que tem câncer. Foi operado e está fazendo quimioterapia. Vou esperar para decidir.

Vê uma saída do Brasil com bons olhos? Ou a doença do seu pai pode ter manter por aqui?

É uma situação difícil, uma doença complicada. Mas ele está se recuperando bem. Isso me deixa mais tranquilo. Se for uma coisa boa para mim, acredito que eu vá. Se meu pai piorar, eu vejo o que fazer. Ele está recebendo todo o suporte da família e isso me deixa tranquilo.

Como o grupo reagiu às vaias da torcida após o acesso? Foi uma campanha frustrante?

Não vejo como frustração porque a gente procurou fazer o que podíamos. Mas entendemos o torcedor pela grandeza do Vasco. Tínhamos que brigar lá em cima, infelizmente não aconteceu por diversos fatores. Não fomos brilhantes, mas foi o suficiente para alcançar o objetivo. Todos esperavam que o Vasco dominasse a Série B. Mas acho que saímos com o sentimento de missão cumprida. Fiz tudo para estar em campo. Nunca passei por um momento assim de tantas lesões. Me dedico muito no dia a dia. Alimentação, suplementação, repouso... Estar na arquibancada em um jogo importante é muito ruim. O importante é que o acesso veio e estamos aliviados.

A mudança de treinador no meio da competição atrapalhou?

Influencia, sim. O novo técnico leva tempo para conhecer o elenco, para criar um padrão de jogo. Joel teve de fazer isso durante o campeonato. E com toda a responsabilidade e pressão que o Vasco vivia pelo acesso. Isso dificulta ainda mais. A expectativa era sempre de que a gente jogasse muito mais do que os adversários. A torcida ficou triste porque não viu um futebol brilhante. Fomos eficientes, alcançamos o objetivo, mas sem brilho.

A equipe não se adaptou à Série B?

Empenho, dedicação e comprometimento não faltaram. Mas de fato o nosso elenco é de Série A. Têm jogadores que estão acostumados com a elite, a jogar em grandes clubes, consagrados. A Série B é um pouco diferente. Principalmente para um clube que entra com a responsabilidade não apenas de vencer, mas de fazer grandes jogos, de ser campeão. Os outros clubes entram sempre fechados contra o Vasco, é a chance deles aparecerem para o Brasil inteiro. O jogo da vida mesmo. A ansiedade de ter essa responsabilidade toda nos atrapalhou.



Fonte: GloboEsporte.com