Eduardo Nery, da chapa Vasco mais que um Gigante, fala sobre seus projetos para o Vasco

Segunda-feira, 10/11/2014 - 13:45
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Eduardo Nery, da chapa "Vasco mais que gigante", de cor verde, lançou a sua candidatura apenas no mês de agosto , ganhou tempo para fazer campanha após o adiamento do pleito, mas corre por fora. Empresário mineiro de 43 anos, ele atualmente mora em Brasília e apoiou o atual presidente Roberto Dinamite na última eleição.

Em entrevistas realizadas pelo ESPN.com.br na última semana, os candidatos responderam às mesmas perguntas sobre assuntos pré-definidos. A eleição para presidente do Vasco acontece nesta terça-feira, e quem tiver mais votos vai comandar o clube no triênio de 2015, 2016 e 2017.

Fazendo parte de um grupo formado por executivos, Nery apresentou propostas focadas em adotar um modelo de gestão mais profissional do clube, baseado no que acontece em grandes empresas. O candidato defende o corte da distribuição gratuita de ingressos para torcidas organizadas e pretende implantar contratos de produtividade para jogadores e também para funcionários do clube. Ele chegou a conversar com a chapa de Julio Brant para uma possível união e disparou contra outro adversário.

"Vamos tomar uma medida administrativa, que seria o pedido de expulsão do Eurico Miranda do quadro do Vasco, pelos prejuízos que ele causou ao clube, comprovados em CPI do futebol, onde ele usou dinheiro do clube em benefício próprio, e por vários processos na Justiça", disse Nery.

Confira abaixo a entrevista completa com Eduardo Nery:

PORQUE SER PRESIDENTE DO VASCO?

Eu sempre quis ajudar o Vasco de alguma forma, desde garoto, sempre foi um sonho. Em 98, o Vasco ganhou a Libertadores, e eu lancei um site que durante cinco anos foi o principal site do Vasco na internet. A partir dali eu comecei a miliar no Vasco, ficou um site meio politizado. Depois daquela enxurrada de informação de CPI do futebol sobre tudo que o ex-deputado (Eurico Miranda) tinha feito com o Vasco, eu passei a ser oposição e tentei me associar ao clube. Mas por três vezes o Eurico não deixou eu virar sócio do clube. A partir dali eu falei que um dia de alguma forma eu iria tentar mudar essa situação. Virei sócio do Vasco em 2009, e isso foi o grande alavancador. Misturado a isso, achamos que temos boas propostas, temos competência, somos sérios e não dependemos financeiramente de clube, tenho uma vida profissional e familiar bem definida. Quero tentar mudar um pouco essa questão administrativa do clube.

PRIORIDADES

A primeira coisa é escalar uma equipe de primeira linha de vice-presidentes e diretores. As vice-presidências precisam ter pessoas ligadas ao Vasco e com competência, com currículo nas suas áreas e que tenha perfil de empreendedor. Os diretores têm de ser profissionais. Nossa ideia também é criar um centro integrado de gestão por indicadores, pautado pela tecnologia, para que o clube não dependa de uma pessoa que tome uma decisão que vai prejudicar o clube por vários anos, como foi feito em gestões anteriores. É uma gestão muito mais profissional. O Vasco hoje tem uma receita de R$ 160 milhões, então ele está alinhado com grandes empresas e tem que ser administrado como grandes empresas, não pode ser de forma amadora. E vamos tomar também uma medida administrativa, que seria o pedido de expulsão do Eurico Miranda do quadro do Vasco, pelos prejuízos que ele causou ao clube, comprovados em CPI do futebol, onde ele usou dinheiro do clube em benefício próprio, e por vários processos na Justiça. Por exemplo, como um que o Vasco pagou há uns três anos, que foi a questão de ele xingar uns desembargadores, isso é uma conta que tem que ir para o bolso dele, nãos para os cofres do clube.

DÍVIDAS X TIME FORTE

É importante que a gente crie um comitê para negociar essas dívidas, temos que chamar cada fornecedor, temos que entender os processos judiciais que estão gerando essas dívidas. Esperamos que a Câmara aprove a lei de responsabilidade fiscal do esporte, que isso já daria um alívio de mais de R$ 100 milhões nas dívidas do Vasco. A gente pretende criar uma central de compras, que vai diminuir os custos de contratações de produtos e serviços, que vai desde uma caneta até um advogado, passando por equipe de limpeza, tratamento de gramado, água. Se o Vasco fosse uma empresa normal, ele já teria falido, com a receita anual que tem de R$ 160 milhões e dívida maior do que R$ 500 milhões, já teria quebrado. A dúvida é zero. A força do Vasco são os torcedores, que podem ajudar o clube, podemos captar recursos para serem aplicados no clube.

METAS PARA O FUTEBOL NA GESTÃO

A meta é, a partir do segundo ano, disputar e conquistar títulos nacionais. O primeiro ano com certeza não será fácil, por conta das dívidas, da nova diretoria, a gente não sabe se o patrocínio da Caixa vai continuar. A gente não sabe o que tem de processo, de penhora chegando. Hoje existem jogadores como Montoya, por exemplo, que recebe R$ 100 mil, tinha o Ney que tinha um salário de R$ 150 mil, isso vai consumindo dinheiro do clube. Tem jogadores com salários extremamente altos. O Vasco para hoje para o Kleber perto de R$ 200 mil e o Grêmio paga o restante, ele é centroavante, não faz gol, não dá assistência e tem um salário desses. Precisamos ter um departamento de recursos humanos forte, onde todo mundo seja medido por indicadores. Se o Kleber não esta fazendo gol e dando assistência, por exemplo, ele não vai receber um bônus, e o salario dele não vai ser 200 mil, vai ser 100 mil e pode atingir até R$ 250 mil, mas desde que faça gol e dê assistência. É um contrato de produtividade, como o Palmeiras faz. Mas esse modelo de produtividade tem que valer para o Vasco todo, não só para o futebol, tem que valer para o porteiro, para o técnico, para o profissional do marketing. Dentro da nossa proposta, 40% do elenco profissional tem que vir das divisões de base, e mais de 50% dos direitos federativos são do Vasco. Isso vai fazer com que o Vasco obtenha receitas na negociação desses jogadores.

PLANOS PARA O MARKETING

No modelo que tem hoje, as pessoas não estão estimuladas financeiramente a ir buscar novos negócios pro Vasco, eles têm os salários deles, mas não têm nenhuma bonificação pelos contratos que fizerem. A gente pretende implementar o que funciona nas empresas. O vendedor, a equipe de marketing precisa receber um percentual quando vai buscar um patrocínio, por exemplo. A internacionalização da marca do Vasco passa por isso, hoje nós temos um marketing reativo, ele precisa passar a ser proativo. Eu participei de mais de 50 reuniões relacionadas ao patrocínio da Caixa no ano passado, e isso me fez crer que a marca do Vasco vale muito mais do que pagam hoje. Não desmerecendo patrocinadores como Guaraná Tron e outras coisas, a camisa do Vasco pode ter patrocinadores compatíveis com o patrocinador máster, que é a Caixa. O fortalecimento do marketing também é prioridade.

SÓCIO-TORCEDOR

É importante ter um ótimo programa de sócios. Não dá para o Vasco ter somente 13 mil eleitores como vai ser na eleição agora. O Vasco pode ter mais sócios do que o Grêmio do que o Inter, o programa de sócios do Benfica demonstra isso. Portugal tem 10 milhões de habitantes e o programa do Benfica gera 90 milhões para eles. O Vasco tem mais de 10 milhões de torcedores e recebe por ano só R$ 3 milhões vindos dos sócios. Tem que ser um programa que gera um ganha-ganha, ou seja, o sócio tem que ver os benefícios para ele. Ele tem que saber que a partir dali ele está gerando royalties para o clube e está vendo diferença no seu bolso.

CATEGORIAS DE BASE

Hoje grande parte dos atletas de base não tem a maioria dos seus direitos federativos do clube. Então, chega o empresário que tem essa maioria, vende para alguém, e o clube fica refém disso. Dos cinco maiores artilheiros do Brasileiro, três foram formados no Vasco: Edmundo, Dinamite e Romário. Isso demonstra que o Vasco já formou muitos atletas. As divisões de base precisam estar ligadas a um comitê do futebol. Esse comitê vai fazer gestão desde a escolinha até o profissional. Hoje as escolinhas não têm uma relação direta com o clube, tem escolinha lá no interior que ninguém do clube está olhando. Tenho certeza que várias escolinhas do Vasco já geraram atletas para outros clubes, porque o vinculo é zero. As divisões de base têm que ser tratada de uma forma profissional. O centro de treinamento tem que ser amplamente melhorado, os clubes do Rio investem pouco em estrutura.

ESPORTES OLÍMPICOS

A palavra chave para os esportes olímpicos é sustentabilidade. O remo não pode consumir dinheiro do futebol. A sede da Lagoa pode gerar dinheiro para o remo. A partir daí, tem que ser sustentável, tem que ter alguém que invista naquele esporte, em uma parceria que alguma empresa utilize o nome do Vasco. E todos os projetos para os esportes olímpicos não podem ser focados só no profissional, tem que sempre olhar para as divisões de base. Outra coisa importante são as leis de incentivo ao esporte, que hoje o Vasco não tem nenhuma. O Flamengo conseguiu agora R$ 5,5 milhões de projeto do dinheiro das loterias, mas porque ele não tem as certidões negativas. A gente entende que deve se criar um novo CNPJ vinculado ao clube, para que seja tratado como dos esportes olímpicos. Não vai consumir dinheiro do futebol, vai ser independente futebol, vai ter receitas próprias e vai buscar novas parcerias.

MODERNIZAÇÃO DE SÃO JANUÁRIO E SEDES

São Januário é um estádio dos mais bonitos do mundo. A gente sabe que não é de uma hora para outra que vamos construir uma arena, fechar o anel de arquibancada ou colocar uma cobertura. Mas inicialmente a gente pode melhorar os serviços prestados aos torcedores. Entendemos que o acesso ao estádio pode ser trabalhado junto à Prefeitura, os bares são péssimos hoje, podemos melhorar os bares, os banheiros. Podemos montar mais pontos de vendas de produtos oficiais, além das lojas. Tudo isso vai gerar receita, você vai prestar um melhor serviço, isso vai fazer com que o torcedor vá curtir mais o entretenimento que é o futebol. Além disso, mais para frente, naquele espaço de São Januário a gente consegue construir um estacionamento vertical, fazer um shopping, transformar São Januário realmente numa arena de verdade. Para isso, precisamos ter credibilidade e buscar investidores, não dá para ser amador, precisa ser profissional. A sede da Lagoa, que é um lugar espetacular e não é utilizado, também pode ser colocada à disposição da iniciativa privada para arrendamento, e a receita vai para o remo. A mesma coisa vale para a sede do Calabouço.

RELAÇÃO COM AS TORCIDAS ORGANIZADAS

Falamos com muita coragem sobre esse assunto, e não vi outras chapas falarem isso. As torcidas organizadas devem passar a seguir uma cartilha elaborada pelo clube, pelo Ministério Público e pela Polícia Militar. Hoje eles prejudicam o clube e muito, tem gente que não vai ao estádio por conta de torcida organizada, o Vasco perde mando de campo, perde ponto, perde dinheiro, as torcidas não pagam royalties por usar a marca do clube. Não vamos dar mais ingressos gratuitos às torcidas organizadas, isso acabou. Esses caras têm que trabalhar como a gente trabalha para poder ter algum benefício, e o benéfico nunca vai ser maior do que o dos sócios. Se você ver essas pessoas envolvidas com torcida organizada, elas estão de manhã, de tarde e de noite envolvidas com o clube. Elas trabalham onde? Vamos tratar torcida organizada de forma séria, mas eles têm que cumprir alguns indicadores de uma cartilha. Se não cumprir, não vai ter nada do clube.

OPINIÃO SOBRE O BOM SENSO FC

Acho extremamente saudável, mas acho que em alguns momentos eles exageram um pouco. Porque o Bom Senso é um modelo de sindicato, e nesse caso do futebol ele é um sindicato onde os filiados ganham R$ 200 mil, 500 mil, um milhão por mês, e reclamam de cosias como: ‘não podemos jogar duas vezes por semana'. Que absurdo. Eles ficam nos melhores hotéis, treinam pouco, recebem salários altos e ficam fazendo movimento. Mas é super saudável, eles o não podem atrapalhar em relação à lei de responsabilidade fiscal do esporte, que isso vai ser um benefício para eles próprios. Então, é importante, deve ser feito, mas com uma cabeça de somar, não dá para ser um sindicato dentro do futebol para atrapalhar os clubes, não dá para pensar só no lado deles. Mas acho que eles têm que ser ouvidos, precisam ter uma relação com a CBF.

CONFUSÕES NA ELEIÇÃO DO VASCO

O mais justo seria apenas os 7 mil sócios do recadastramento votarem. Todo mundo teve a mesma possibilidade de se recadastrar. Não podemos aceitar uma 'Euricada', ele toma a sua posição, faz bravatas e todo mundo põe o rabo entre as pernas. Uma outra coisa importante é que o Vasco volte a ser respeitado pela Federação Carioca. Nos últimos anos a federação tem humilhado o Vasco. O ex-deputado (Eurico Miranda) está dentro da federação e ele mesmo ajuda a humilhar o Vasco, criam situações para externar problemas internos do Vasco. Numa forma mais radical, acho até que o Vasco deveria buscar a criação de uma liga e a desfiliação da federação. A federação não ajuda o clube em nada, tem receita, não faz nada pelo futebol carioca e administra muito mal. O Vasco é um clube centenário, não pode ser desrespeitado desse jeito.

Fonte: ESPN.com.br