O Vasco da Gama dos últimos tempos passou de um clima de esperança ao risco da falência. O sonho começou quando o ídolo Roberto Dinamite, maior artilheiro da história vascaína, assumiu a presidência, em 2008, como um símbolo de novos tempos.
Passados seis anos, porém, o clube não saneou seus problemas financeiros, além de ter amargado no futebol dois rebaixamentos para a Série B do Brasileiro.
Diante do cenário catastrófico, em um clube dividido, foram os torcedores que, há mais de um ano, arregaçaram as mangas para tentar tirar o Vasco do buraco.
Irritados com as seguidas más gestões e desconfiados da transparência dos cartolas, criaram um método para que eles mesmos ajudem a instituição a pagar suas dívidas. Até o Vasco entendeu a situação, permitindo que a iniciativa fosse incluída no site oficial do clube.
Para isso o grupo contou com o trabalho de advogados, triburaristas e profissionais do mercado apaixonados pelo clube. Eles se debruçaram em estudos estatísticos e elaboraram uma campanha, feita pela internet, com o nome Vasco Dívida Zero, em que, ao acessar o site(www.vascodividazero.com.br), o torcedor emite imediatamente uma DARF e opta pelo pagamento, de no mínimo R$10, dentro de uma lista de dívidas.
A novidade é que o dinheiro vai direto para a Fazenda, sem passar pelos cofres do clube. O vascaíno Tarcísio Rezende, por exemplo, é um dos mais de 15 mil cadastrados, tendo contribuído assim que soube do projeto. Ele se diz satisfeito por poder ajudar o seu clube de coração.
— É muito bom ter a oportunidade de contribuir desta maneira com o Vasco. Como a gente desconfia do momento conturbado do clube e em relação à histórica falta de transparência de dirigentes, ficamos mais tranquilos em pagar diretamente ao credor.
Rezende, que é sócio do Vasco e pode votar nas próximas eleições, acredita que a gestão de Roberto Dinamite foi frustrante para a maioria dos vascaínos.
— Eu tinha esperanças com a chegada do Roberto. Mas ele não teve experiência administrativa e se cercou de pessoas sem a competência técnica ideal.
Roberto, por outro lado, se defende das críticas, afirmando que conseguiu livrar o clube de várias pendências que até bloqueavam receitas. Atualmente, a administração do Vasco tem trabalhado acima de tudo para apagar incêndios gerados pela enorme dívida geral do clube, de cerca de R$ 520 milhões, uma das cinco maiores do Brasil.
O passivo se acumulou em anos de gastos excessivos. Os atrasos de salários ameaçam o tempo inteiro. A atual gestão passou boa parte do mandato lutando contra a penhora da renda dos jogos, cujo auge ocorreu entre 2010 e 2011, negociando com fornecedores e patrocinadores. Mas, ainda gastando muito, não encontrou dinheiro suficiente para ter fôlego e vencer as altas taxas de juros da dívida, que corroem ainda mais os cofres do clube.
A iniciativa dos torcedores já pagou quase R$ 1 milhão em débitos, valor ainda simbólico, mas que, de acordo com o objetivo inicial, serve como referência para os dirigentes repensarem o modelo de gestão. Rezende, que é médico em Ribeirão Preto, admite que a iniciativa não soluciona os problemas financeiros. Mas tem um significado fundamental.
— É algo simbólico, mas se trata de um ato extremamente importante. Representa a boa fé que ainda existe no futebol, por parte de muitos torcedores, e mostra como eles gostam do clube e como desconfiam dos dirigentes.
Na politica, as eleições, inicialmente marcadas para agosto, foram adiadas para 11 de novembro próximo, por causa de denúncia de compra de votos e prazo de recadastramento de sócios. Roberto, cujo mandato se encerra, só se manteve no cargo até lá por causa de uma liminar.
São sete os postulantes à presidência, em um universo que vai de especialista em gestão empresarial a membro de torcida organizada. Os candidatos são Márcio Santos, Eduardo Nery, Eurico Miranda, Júlio Brant, Tadeu Correia, Nelson Rocha e Roberto Monteiro, este último da Força Jovem.
Fonte: R7