Entre esperanças e dificuldades, o pequeno João Pedro Ferreira Alves Ramos não tira o sorriso do rosto. Seja nas constantes sessões de fisioterapia motora de segunda a sábado ou na hora de acompanhar o seu "Vaco", como se refere ao clube do coração. Com apenas sete anos, o jovem torcedor luta diariamente contra uma doença rara, degenerativa e progressiva chamada Pelizaeus-Merzbacher (PMD). Em vez de desanimo, vontade de viver. E o guerreiro cruz-maltino encara atualmente dias de felicidade e ansiedade. Depois de ir a um recente treino do Vasco, ganhou uma chuteira de Kleber, uma camisa e uma bola autografada pelo elenco. Agora se prepara para realizar outro sonho: entrar em campo com a equipe.
A experiência deve acontecer no próximo sábado, quando o Vasco recebe a Ponte Preta, em São Januário, pela 32ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro. A família já foi contactada pelo departamento de marketing cruz-maltino, e os últimos detalhes estão sendo acertados.
– Está praticamente certo. Me pediram apenas alguns dados dele, que já enviei para o clube. Vai ser a segunda vez do João em São Januário. Ele foi também no empate com o Bragantino, no dia seguinte da nossa visita no treino. Tudo agora para ele é Vasco. João conta da sua maneira, diz que vai jogar, que vai fazer vários gols. Ele sempre acompanha os jogos pela TV e está começando a entender melhor. É só o juiz apitar que ele diz que foi falta, pede para os jogadores correrem, orienta – lembrou a mãe, Ninive Fereira.
A aproximação de João com o Vasco começou no início de outubro. O jovem morador de Realengo é o mascote do bloco "Carrossel de Emoções", dedicado a tocar funks antigos. E foi graças ao produtor do grupo, Gustavo Casemiro que o pequeno torcedor conseguiu se aproximar dos ídolos. Conversando com a família num show, Gustavo descobriu que João era vascaíno. Decidiu levar o amigo a um treino. Conseguiu a autorização do diretor executivo de futebol, Rodrigo Caetano, e a recepção dos jogadores foi a melhor possível.
Era dia 2 de outubro, uma quinta-feira. João acompanhou a atividade no CFZ e conquistou o elenco. Bateu bola com alguns atletas, fez gol em Jordi com a ajuda do zagueiro Luan (assista ao momento no vídeo acima) e virou o xodó de Kleber. O atacante lhe deu uma chuteira autografada. O jovem ainda deixou o treino com uma camisa de treino – dada por um membro da comissão técnica – e com uma bola assinada por todo o grupo. No dia seguinte, a primeira visita a São Januário. No placar, Vasco 2 x 2 Bragantino. O problema foi quando João percebeu que não iria entrar em campo para jogar com os novos amigos.
– Ele nunca tinha ido ao estádio ver o Vasco jogar. Ficou alucinado. Várias pessoas o reconheceram das imagens que o Gustavo postou nas redes sociais após o treino, pediram fotos. João se achou o jogador mesmo. E isso virou um problema. Estávamos na área VIP antes da partida, e ele ficava dizendo que ia jogar, que treinou bem... Quando percebeu que não ia entrar em campo foi um desespero (risos). Chorou, ficou com raiva, mas passou. Agora o difícil mesmo é tirar a chuteira do Kleber dos pés dele. Ninguém pode chegar perto dela, só eu ou o fisioterapeuta – explicou Ninive.
Família rubro-negra, amor cruz-maltino
O amor de João pelo Vasco nasceu do nada. Grande parte de sua família torce pelo Flamengo. Quando era menor, ele chegou até a ganhar uma camisa rubro-negra personalizada com seu nome. Nem mesmo a mãe Ninive sabe explicar como surgiu a aversão do pequeno torcedor ao clube da Gávea. Coube a um padrinho vascaíno o empurrão final.
– É inexplicável. Ele ganhou uma camisa do Flamengo e criou uma aversão ao clube sem ninguém fazer nada. Foi quando um de seus padrinhos, que também é deficiente e vascaíno roxo, começou a falar do Vasco. João ficou com aquilo na cabeça. Ódio do Fla, tudo do Vasco (risos). Por isso que ele endoidou quando o Gustavo disse que iria levá-lo no Vasco um dia. Ele falava do jeitinho dele: "Mãe, eu vai no Vaco? Quado?".
Sonhos realizados à parte, João luta todos os dias pela vida. Convive semanalmente com sessões de fisioterapia motora, terapia ocupacional e fonoaudiologia. Sua evolução é considerada um milagre – ele não consegue mais se alimentar normalmente. Apenas por sonda. O objetivo da família agora é para comprar um equipamento importado conhecido como plataforma vibratória Galileo, que custa R$ 12 mil e poderia melhorar a qualidade de vida do jovem. Apenas mais um obstáculo para um pequeno vascaíno que não tira o sorriso do rosto.
– A doença é degenerativa e progressiva, só o faz perder. Apesar disso, João vem contrariando a lógica. Não era nem mais para ele estar entre nós. E até agora a única coisa grave que perdeu foi a alimentação. Não come nada pela boca, só por sonda. É um milagre. Não era para falar, por exemplo. Hoje consegue ficar de pé com apoio, e esse equipamento importado ajudaria muito a acelerar o processo. Com ele, meu filho teria chances de ficar de pé e andar – encerrou.
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Fonte: GloboEsporte.com