O sentimento nostálgico antes de enfrentar o América de Natal começou cedo para o técnico Joel Santana. Logo após a vitória contra o Boa Esporte, há mais de uma semana, o treinador lembrava com carinho dos momentos que passou na capital potiguar. No fim dos anos 1970, Joel foi contratado para ser o xerife da zaga do Mecão. No América, o atual treinador do Vasco jogou cinco anos, foi tricampeão estadual, se formou em Educação Física, teve uma filha e a primeira experiência como treinador.
Na véspera do confronto com o América, Joel se encontrou com dois velhos amigos. O médico do América Maeterlinck Rego, que trabalha há 43 anos no clube potiguar, e o ex-preparador físico Arturzinho, que era da comissão técnica no primeiro título de Joel em Natal. O treinador do Vasco foi padrinho de casamento de Arturzinho. Em Natal também que nasceu a primeira filha de Joel, Tatiana. Os amigos definem Joel como um líder desde os tempos de zagueiro.
- Joel era um zagueiro voluntarioso, não tinha muita técnica, mas era muito bom em cima, se cuidava muito e era um líder nato – recorda Maeterlinck.
O médico do América deu aula para Joel na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Logo depois de se formar, Joel voltou para o Rio e foi trabalhar na base do Vasco. Antes, dirigiu um time de estudantes em uma competição em Brasília. Era a primeira vez que o Papai Joel botava a prancheta para trabalhar.
- Ficamos em terceiro lugar num estudantil disputado em Brasília. No outro ano eu fui para o Vasco, levei desse time três jogadores, um zagueiro, um ponta direita e ponta esquerda, que depois foi jogar até no Benfica. Boas lembranças, boas saudades – recordou o treinador.
Briga e caneco
Na disputa do campeonato contra o rival ABC, no antigo estádio do América, o primeiro título de Joel em Natal, uma briga generalizada interrompeu o jogo no fim da partida. O empate por 0 a 0 dava o caneco para o América. O pesquisador do futebol potiguar Ribamar Cavalcante tem guardados recortes de jornal daquela partida. Numa delas, é possível ver o ex-zagueiro no meio da confusão. Ex-goleiro do Vasco e do América, Valdir Appel havia sido contratado pelo time potiguar e assistiu aquela partida.
- Essa briga começou quando o ABC viu que não tinha condições mais de ganhar o jogo. Um zagueiro do ABC saiu na porrada com todo mundo. Brigaram os 22 jogadores em campo, reservas, até cachorro entrou na confusão. Foi o diabo. Só não brigaram na arquibancada – lembra o ex-goleiro.
Contador de histórias do futebol, Valdir Appel conta essa história em uma de suas crônicas. Ele está para lançar seu terceiro livro com sua visão e causos do futebol. A confidência sobre o apelido de Joel também vem da sua memória.
- Era Joel Vassoura. Joel Capitão para os outros, mas para os íntimos era Joel Vassoura. Ele era magrinho e já era essa figuraça. Um xerifão de respeito – conta o ex-goleiro, que vive em Santa Catarina.
O treinador espera conquistar a vitória contra o ex-time para aliviar a pressão em cima de um gigante do futebol brasileiro que passa por uma das maiores crises da sua história. Mas sem perder o afeto pelos bons tempos vividos em Natal.
- Esse clube que me deixou saudades pelo carinho das pessoas. O povo aqui é muito afetivo. Tenho muitos e muitos amigos. Nosso time era muito bom. Para os grandes jogarem aqui dentro no Campeonato Brasileiro era difícil. Era outro campo, que era bom também, mas não tinha essa coisa de Arena. Foi maravilhoso o tempo que passei aqui, eu dava aula no estado, tinha vida toda formada aqui, mas tinha que voltar ao Rio, que era minha raiz – lembra, saudoso, o treinador.
Fonte: GloboEsporte.com